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sexta-feira, 12 de agosto de 2016

O que sempre faltou foi gestão inteligente

Em hoje (12/08/2016) o Estado/SSP/Susepe sem as soluções


Por Antonio Carlos de Holanda Cavalcanti* - 27/06/2010 no Sul21

Trabalho há 30 anos no sistema penitenciário gaúcho, sendo que na primeira década exerci minhas funções no Presídio Central de Porto Alegre (PCPA). Lembro que por volta de 1985, o pessoal da segurança demonstrava apreensão com o número de presos que dava entrada diariamente no presídio.

Já naquela época, conversando com colegas, identificamos que o PCPA recolhia presos não apenas da capital, mas também de várias cidades das redondezas que não possuíam presídios. O problema foi identificado. E a solução era óbvia, qual seja: era preciso construir penitenciárias em Canoas, São Leopoldo, Cachoeirinha, Viamão, Alvorada, Novo Hamburgo, etc. Infelizmente não tínhamos qualquer poder decisório, apenas opinávamos.

Outro problema que identifiquei e que desde o final da década de 90 tenho abordado, até em relatórios da minha primeira fase como corregedor, é o aumento da população carcerária feminina em todas as regiões, que exigia urgência na construção de uma penitenciária na capital e ao menos um presídio feminino em cada região. Mas nada foi feito também em relação a isso e os presídios do interior têm que adaptar espaços, pois a Penitenciária Feminina Madre Pelletier (a única unidade feminina do regime fechado no Estado) não possui condições de recolher mais ninguém e a situação em muitos estabelecimentos do interior é caótica quanto a situação das mulheres presas.

Sabemos que a construção de uma prisão de grande porte é demorada, pois exige uma área extensa, recursos extras, parcerias, empresas com reais condições de construí-las, o que causa uma série de contratempos e demanda tempo. Já uma prisão média, com capacidade entre 150 a 300 presos, custa bem menos, sua manutenção é mais barata, exige menos servidores e equipamentos de menor custo.

Identificado o problema, encontrada a solução, seria necessário estabelecer um plano de ação no sentido de paulatinamente construir mais e menores prisões na Região Metropolitana e assim desafogar o Presídio Central. Mas nada foi feito nesse sentido pelas chefias da época, tampouco pelos que os sucederam. Foram abertas vagas apenas em Charqueadas, insuficientes, como vemos hoje. Diante de tanta omissão e incompetência, era previsível que em certo momento a situação viria à tona e se tornaria caótica.

No interior o problema não é diferente. Em Caxias do Sul a crise é também provocada pelos municípios vizinhos que produzem criminosos às pencas, mas não querem saber de prisões em suas áreas. Farroupilha é um desses exemplos. Se houvesse determinação e um planejamento a longo prazo, Farroupilha contaria com uma penitenciária, assim como Flores da Cunha, São Marcos e outras cidades da região. Se isso fosse feito, não haveria superlotação na Penitenciária Industrial. O mesmo ocorre em Santa Maria, Passo Fundo, Pelotas, Rio Grande e outros municípios.

O que falta é gestão profissional de longo prazo. Não é possível executar um bom trabalho em quatro anos, nem em oito em uma área como a do sistema penitenciário. Contudo, para que isso ocorra, será preciso mudar os critérios de gestão na Superintendência dos Serviços Penitenciários. Não se consegue dar continuidade a nenhum projeto, por mais importante que seja. Cada governo que assume, começa tudo da estaca zero, arquivando tudo o que foi feito até então, não importando se era algo viável, de qualidade, ou não.  O pior é quando aparecem alguns “gênios” que inventam novos projetos totalmente fora da realidade e do que realmente o sistema penitenciário necessita.

Entendo que a SUSEPE deve ter o seu status elevado ao de uma Secretaria de Estado. Um secretário para lidar apenas com o sistema penitenciário. Seria um grande avanço, pois atualmente não passamos de uma vinculada da Secretaria da Segurança Pública, em que o secretário tem que desempenhar a coordenação da Brigada Militar, Polícia Civil e do Instituto-Geral de Perícias, além da SUSEPE, cuja função é bem diferente das outras corporações.

O fato é que o grave problema da superlotação carcerária atualmente em quase todas as prisões do Estado, poderia ter sido evitado se alguns dos gênios que nos comandaram – a maioria promotores de Justiça –  tivessem enxergado o óbvio em termos de soluções e adotado as medidas necessárias. Caso isso acontecesse, hoje não estaríamos em situação tão crítica, tendo que aguentar ainda o baixo nível das reportagens do grupo RBS, que nada acrescentam na busca de soluções. O objetivo dessa imprensa marrom parece ser o de apenas tumultuar o sistema e com isso conseguir manchetes bombásticas às nossas custas.

*Servidor da Susepe. Texto publicado em seu blog