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domingo, 22 de novembro de 2020

Evolução de Informações sobre o Coronavírus (COVID-19), no RS, Brasil e no Mundo (22/11)

 08/11 - Brasil: 5.653.561 (162.269 m.) no RS: 253.172 (5.903 m.)

22/11 - Brasil: 6.052.786 (168.989 m.) no RS: 296.904 (6.487 m.)

Casos confirmados no mundo: 49.938.804 (08/11) p/ 58.266.428; óbitos: 1.252.079 (08/11) p/ 1.382.649

Óbitos no Mundo (os 5 primeiros)
EUA:
237.123 (08/11) p/ 255.909
BRASIL: 162.269 (08/11) p/ 168.989
ÍNDIA: 126.121 (08/11) p/ 133.227
MÉXICO: 94.808 (08/11) p/ 100.823
REINO UNIDO: 48.978 (08/11) p/ 54.722

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Bolsonaro e a mente doentia

Se já parecia estranha a decisão da Anvisa de interromper a pesquisa com a CoronaVac sem dar explicações detalhadas, reportando apenas a ocorrência de um "evento grave" (que depois de soube era uma morte, por suicídio), a manifestação do presidente Jair Bolsonaro escancarou a prevalência do interesse político sobre a saúde pública. Só uma mente doentia é capaz de celebrar o tropeço de uma vacina que, se eficaz, pode salvar milhões de vidas. Bolsonaro celebrou - ou o fantasma que tem sua senha escreveu a resposta ao seguidor que o questionou sobre a vacina.

O presidente compartilhou a notícia sobre a interrupção dos testes pela Anvisa e comentou: "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o (governador de São Paulo, João) Doria queria obrigar todos os paulistanos toma-la (sic). O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha".

Ganha? Como pode alguém ganhar se uma das vacinas que estão em fase adiantada de testes se revelar ineficaz? Como pode alguém torcer contra uma vacina? Ou terá sido o filho Carlos Bolsonaro, detentor das senhas do pai?

Os sinais de perturbação mental se repetiram ao longo do dia, em manifestações grosseiras e descabidas que alarmaram até empresários condescendentes com o destempero presidencial.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Operação Império da Lei II: quem são os detentos levados a presídios federais fora do RS

Ofensiva, realizada na manhã desta segunda-feira, é resposta a ações violentas que voltaram a ocorrer nos últimos meses, dentro e fora das cadeias, principalmente no Interior

GZH

Os criminosos que foram transferidos para prisões federais na Operação Império da Lei II, nesta segunda-feira (9), são considerados por autoridades como sendo de alta periculosidade e de muita influência no crime organizado. GZH apurou a lista com os nomes dos detentos.

Entre eles estão Fabrício dos Santos da Silva, o Nenê, e Juraci Oliveira da Silva, o Jura.

Jura é líder do tráfico no Campo da Tuca, em Porto Alegre, e acusado de envolvimento na morte do médico Marco Antônio Becker, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremers), ocorrida em 2008. Já o grupo de Nenê foi, na semana passada, alvo de ação da Polícia Federal em que foram apreendidos R$ 20 milhões em bens do narcotráfico.

Dos nove transferidos, seis já deviam ter saído do Estado em março, na primeira etapa da Império da Lei, mas a Justiça não autorizou. Foi graças a recursos do Ministério Público que foi possível reverter as negativas.

Veja quem são os presos transferidos

Juraci Oliveira da Silva, o Jura

Desde 2010, quando foi preso em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, ele cumpre pena por tráfico e por homicídio na Pasc. Apontado como o patrão do tráfico no Campo da Tuca, na zona leste de Porto Alegre, também é acusado de envolvimento na morte do médico Marco Antônio Becker, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremers), ocorrida em 2008. Durante um julgamento em que foi absolvido por duas mortes, em 2015, chegou a admitir que seguia comandando a venda de drogas de dentro da prisão que deveria ser a mais controlada e de maior segurança do Estado.

A Operação Palco, da Polícia Civil, mostrou exatamente isso. Jura ganhou o benefício de ser transferido ao regime semiaberto em janeiro deste ano. Com condenação de 52 anos, com 33 por cumprir, saiu da penitenciária em 29 de janeiro. Mas voltou à Pasc menos de 15 dias depois. Preso em flagrante por porte de arma durante uma saída do semiaberto para consulta médica, em 12 de fevereiro, o traficante teve preventiva decretada pela 2ª Vara Judicial de Charqueadas a pedido do MP daquela cidade.

Em 2018, organizou um churrasco com 121 quilos de carne que custou R$ 2,6 mil. A nota foi emitida em seu nome. Na primeira edição da Império da Lei, a Justiça negou a transferência de Jura.

Fabrício Santos da Silva, o Nenê

Líder de uma das células da facção Os Manos, foi recapturado em agosto, em Ciudad del Este, na fronteira do Paraguai com o Brasil, em ação de cooperação entre as polícias federal brasileira e  paraguaia. Estava foragido desde 1º de junho, depois de ter rompido a tornozeleira eletrônica que usava desde que foi autorizado a sair da prisão por causa do risco de contágio do coronavírus.

Ele foi um dos detentos que comandou a escavação de um túnel para fuga em massa do Presídio Central, em 2017. No mesmo ano, foi um dos 27 transferidos para presídios federais na Operação Pulso Firme. Foi encaminhado para Mossoró, no Rio Grande do Norte, mas retornou ao Rio Grande do Sul três meses depois.

Com condenação de mais de 70 anos de reclusão, Nenê ampliou seus negócios mesmo estando preso. Na semana passada, a Operação Antracnose, da Polícia Federal, mostrou que os muros prisionais não foram suficientes para impedir que ele agisse. A investigação federal apurou que, em um ano, o grupo movimentou R$ 140 milhões com a venda de drogas.

O grupo lavava dinheiro em revendas de carros, oficinas mecânicas, um haras (com gado, além de cavalos) e em uma empresa de promoção de campeonatos de jogos eletrônicos. Nenê, de sua cela na Pasc, participava ativamente dos jogos com apostas no mercado ilegal. Foram sequestrados R$ 20 milhões em bens do narcotráfico na operação da PF. 

Ubirajara da Silva Barbosa, o Bira

Considerado umas das principais lideranças da facção Os Abertos, coordenando a atuação do grupo em Canoas, Bira tem antecedentes por homicídios, roubos, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Soma, em condenações, 80 anos de pena, dos quais ainda precisa cumprir 49 anos. 

É acusado de envolvimento no assassinato do traficante Cristiano Souza da Fonseca, o Teréu, dentro da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), em 2015, crime pelo qual foi enviado pela primeira vez para uma penitenciária federal fora do RS. Voltou ao Estado, mas foi transferido outras duas vezes — o retorno mais recente ocorreu em fevereiro deste ano.

Vilmar Gomes de Andrade, o Véio

Outra liderança da facção Os Abertos, Véio comanda a atuação do grupo nas regiões de Estrela e Lajeado, no Vale do Taquari. Também era alvo da Império da Lei em março, mas teve pedido de transferência negado na época.

Com antecedentes por dois homicídios, nove roubos, dois sequestros, associação para o tráfico e associação criminosa, tem condenações que somam 129 anos de prisão, dos quais ainda restam 113 a cumprir — o maior total entre os nove transferidos.

Marcio Lourival da Silva, o Careca

Embora não esteja ligado a facções, Careca é um criminoso considerado pela polícia como especializado em extorsão mediante sequestro, acumulando sete indiciamentos por esse crime. Com atuação na Região Metropolitana, soma condenações a 28 anos de prisão, dos quais ainda restam cumprir 19.

Era um dos alvos da Império da Lei em março que teve pedido de transferência negado. Atualmente, estava recolhido na Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas (PMEC).

Vladimir Aparecido Carvalho Grade, o Pérco

Apontado como comparsa de Careca no comando de uma quadrilha de sequestradores com atuação na região metropolitana de Porto Alegre, Pérco tem quatro indiciamentos por extorsão mediante sequestro. Também era alvo da Império da Lei em março e teve pedido de transferência negado à época.

Com condenações que somam 31 anos de pena, dos quais ainda resta cumprir 17 anos, Pérco também estava na PMEC.

Flávio Daniel Santos da Rosa, o Mano Chinelo

Mano Chinelo acumula 11 indiciamentos por homicídio, além de antecedentes por tráfico de drogas, roubo e lavagem de dinheiro. Estava entre os alvos da Império da Lei em março, mas teve pedido de transferência indeferido.

Tem condenações que somam 10 anos de reclusão, dos quais ainda precisa cumprir seis anos. Atualmente, estava no Presídio Central.

Rodolfo Silva Charão de Lima, o Charão

Tem uma extensa ficha de antecedentes criminais, com seis indiciamentos por homicídios, nove por tentativas de homicídio, seis por tráfico de drogas, dois por roubos e dois por extorsão. Membro da facção dos Bala na Cara, acumula em condenações 40 anos de prisão, dos quais ainda precisa cumprir 27 anos.

Charão foi enviado para uma penitenciária federal em agosto de 2018, mas retornou um ano depois, após ter o pedido de permanência negado. O MP recorreu e, agora, obteve novamente a transferência do criminoso para cadeia fora do Rio Grande do Sul.

Lucian de Souza Oliveira, o Doutor

Dono de extensa ficha criminal, tem cinco indiciamentos por roubo, quatro por tráfico de drogas, quatro por associação para o tráfico e duas por organização criminosa. Estava recolhido atualmente na Pasc.

Com condenações que somam cinco anos de prisão, ainda precisa cumprir dois anos, mas tem crimes ainda pendentes de sentença. É a primeira vez que ele é encaminhado ao sistema penitenciário federal.

Grande operação transfere detentos para presídios federais fora do RS

As remoções estão sendo planejadas desde março, quando a Justiça negou a transferência de seis dos nove detentos que viajaram nesta segunda-feira

GZH

Uma operação de transferência de criminosos para presídios federais fora do Rio Grande do Sul, iniciada na madrugada desta segunda-feira (9), tem um caráter pedagógico. Isso mesmo. É um recado das autoridades de segurança em resposta a ações violentas que voltaram a ocorrer nos últimos meses, dentro e fora das cadeias, principalmente no Interior.

Serão tirados do Estado nesta manhã, na Operação Império da Lei II, nove detentos de alta periculosidade, mas a lista é maior: já há outras transferências autorizadas pela Justiça e que devem ocorrer nos próximos dias. (Assista, acima, ao vídeo de Jefferson Botega).

O vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior, destacou que a ação é uma continuidade da operação de mesmo nome feita em março. Dos nove transferidos, seis já estavam na lista naquela primeira fase, mas a Justiça não autorizou as transferências.

"Temos conseguido manter os indicadores em queda, mais ainda dois terços dos homicídios são decorrentes de disputas de organizações criminosas. Enquanto isso persistir, nós vamos seguir com essa postura de não admitir e vamos transferir" — destaca Ranolfo.

A chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, explicou que o trabalho visando a deflagração da operação se acentuou nos últimos 60 dias.

"Às vezes, são casos pontuais e nós mandamos sem ninguém saber. Desta vez, estamos unindo estes em caráter pedagógico, para mostrar quem manda. Não vamos aceitar violência" — avisou a delegada.

Um dos indicadores que fizeram soar o alerta recentemente é o aumento de homicídios em outubro, segundo Nadine. A polícia ainda não informou o percentual de crescimento.

Participam da Império da Lei II 15 instituições estaduais e federais. A coordenação é do Programa RS Seguro, com participação das Secretarias da Segurança Pública e da Administração Penitenciária. 

Os escolhidos começaram a ser retirados de casas prisionais — como o Presídio Central — e de celas da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) às 22h de domingo (8). Reunidos na Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas, saíram escoltados em comboio terrestre às 4h15min desta segunda-feira em direção ao Batalhão de Aviação da Brigada Militar, ao lado do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre

Em paralelo, forças de segurança estão reforçando o policiamento nas ruas de cidades estratégicas e dentro dos principais presídios.

Na lista de motivações para mais essa transferência em grupo — a terceira, desde 2017, quando houve a Pulso Firme —, estão também homicídios e um esquartejamento praticados dentro da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan III) e a guerra de facções que tem causado uma série de ataques e mortes, especialmente, em Caxias do Sul, na Serra.

O clima de violência e disputa entre organizações criminosas em Caxias motivou reforço policial para a investigação de casos e para policiamento ostensivo e também fez com que oito apenados fossem removidos da Penitenciária Estadual de Caxias para outras prisões do Estado na semana passada. 

Na Pecan, que deveria ser uma prisão livre de disputa entre facções, em setembro, um apenado de 25 anos foi morto com uma faca artesanal e teve pedaços do corpo colocados num saco de lixo, que foi pendurado nas grades da cela. A polícia já identificou o autor do crime. 

Os presos transferidos nesta segunda-feira embarcarão em uma aeronave da Polícia Federal. O destino de cada um ainda não foi informado pela SSP.

domingo, 8 de novembro de 2020

Especialistas questionam projeções de Bolsonaro para a Educação

Governo publicou decreto que institui a estratégia federal de desenvolvimento para o Brasil no período de 2020 a 2031

CartaCapital

O governo Bolsonaro publicou um decreto na segunda-feira 26 que institui a estratégia federal de desenvolvimento para o Brasil no período de 2020 a 2031. O documento orienta ações em diversas áreas para o País e aposta no caminho das reformas fiscais como forma de alcançar um cenário futuro de estabilidade macroeconômica, ainda mais distante com os efeitos da pandemia do novo coronavírus.

O decreto apresenta projeções de cenários econômicos para cada área do País, um chamado referência e outro transformador e, na visão menos otimista, aposta em um crescimento anual médio de 2,2% no Produto Interno Bruto (PIB) e um PIB per capita de 19,1% em 2031. As projeções vão na contramão do observado até aqui. Cálculos feitos pela Consultoria LCA apontam que, de 2013 – último ano de crescimento robusto da economia – até 2020, o País encolheu 11,3% de seu PIB per capita.

Na educação, o decreto aposta em melhorias de índices educacionais tais como Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), e aumento da porcentagem de estudantes que concluem o Ensino Fundamental. Com o Ideb, por exemplo, que tem taxa de 5,8 nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o governo propõe alcançar 7,2 em 2031, e 7,9 em um cenário mais amplo de reformas.

Para o professor José Marcelino de Rezende Pinto, da USP, pesquisador em financiamento da educação, as projeções são irreais em um contexto de falta de mais recursos na educação: “Falar em melhorar nota do PISA e o IDEB sem melhorar a qualidade da educação, o que implica em investimentos, é o mesmo que querer tirar o corpo do chão puxando os próprios cabelos”.

A previsão de recursos por aluno do Fundeb para 2020, que deve cair em função da pandemia, é de um valor mínimo (9 estados) para os anos iniciais do Ensino Fundamental de 304 reais/mês. Só Roraima e Rio Grande do Sul apresentam valores um pouco acima de 400. Quanto custa uma escola privada considerada de qualidade? Pelo menos 1.500/mês. Na Coreia do Sul, em valores padronizados pelo dólar internacional, o gasto aluno é o triplo do Brasil. Na lista do OCDE, o Brasil é o que pior paga seus professores. E qualidade da educação, isso é consenso, é qualidade dos professores. Como melhorar IDEB e PISA sem valorizar os profissionais da educação?”, questiona.

A questão orçamentária, explica Marcelino, também será determinante para conter o cenário de evasão que deve piorar com a pandemia. “O Brasil tem apresentado um aumento incremental nos concluintes do Ensino Fundamental há décadas, contudo, os efeitos da pandemia abrem um cenário de incertezas. Qual será o seu impacto na evasão no Ensino Fundamental e Médio? Tudo depende de política de investimento na educação pós-pandemia, o que não tem acontecido”.

Mesmo no auxílio emergencial destinado aos estados e municípios para compensar a perda das receitas, ou seja, queda de impostos que destinam 25% para o ensino, não houve preocupação de vincular parte de seus recursos, descontada a parte carimbada para a saúde, para a educação (deveria ser no mínimo 25%), diz Marcelino: “A perda acumulada no Fundeb está em 6%, mas deve ser maior com o fim da ajuda dos 600 reais, pois esse fundo depende muito do ICMS, que depende do consumo. E o pior, a base é 2019, que teve a mesma receita de 2014 em valores atualizados!”.

O gráfico a seguir mostra a evolução das despesas federais:

O professor ainda explica que, para que o País consiga alcançar um cenário econômico mais promissor, precisa efetivar uma política de crescimento econômico inclusiva e distributiva. Isso envolveria investimentos fortes em políticas estruturantes, reforma agrária, crédito barato para micro e pequenos produtores, por exemplo, e em educação, dado o seu potencial de retorno social e individual e a capilaridade dos gastos.

São mais de 4 milhões de trabalhadores da educação espalhados em todo o País. A experiência de 29 mostrou que é na crise que o Estado deve investir: esse foi o caminho da Europa e dos EUA que deu certo e mesmo o Brasil, pós-crise 2009, revertida posteriormente com as políticas recessivas de fins de 2014, com Levy, em diante. Vivemos o pior dos mundos: o governo corta na carne, com exceção aos militares, mas o PIB cai mais que a queda nos gastos e nossa dívida frente ao PIB aumenta. Quando se analisa a receita do Fundeb, fica evidente o impacto positivo que os R$ 600 tiveram para minorar os efeitos da pandemia, mas e agora?”, indaga.

A coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, chama atenção para o fato das melhorias educacionais serem projetadas pelo governo no contexto do regime fiscal do Teto de Gastos, que limita o gasto máximo do orçamento ao ano anterior, corrigido apenas pela inflação.

Qualquer política de qualidade para a área da educação necessita de recursos. Os que temos hoje está aquém do que é necessário, como ficou demonstrado durante a tramitação do Fundeb. Temos desafios quanto às políticas de formação e valorização dos profissionais da educação, na qualidade da educação, bem como em termos de acessos na educação infantil, na educação de jovens e adultos e em relação aos estudantes de zonas rurais, por exemplo. Isso tudo custa, é impossível o governo fazer políticas públicas para a área, com qualidade, se nos mantivermos nessa política que tem achatado o orçamento para a educação”.

Outro ponto destacado por Olavo Nogueira Filho, diretor executivo do Todos pela Educação, é o orçamento do Ministério da Educação previsto para 2021 que, além de não ter incrementos substanciais, deve ter 42% condicionados à liberação de créditos extras. “Como o governo projeta melhorias na educação diante esse cenário?”, questiona.

Análise das metas

Para Andressa Pellanda, ainda que o decreto traga pontos nevrálgicos e centrais para a política nacional, não dialoga com o arcabouço legal do País sobre educação, e que inclusive projetam metas educacionais para o País, caso do Plano Nacional de Educação, que sequer é citado: “O que vemos são ideias bastante retrógradas acerca dos direitos que se relacionam ao direito à educação”.

Olavo Nogueira afirma que o texto está mais para “palavras ao vento”: “Muito do que está ali evidencia contradições com o que o governo tem feito e não tem feito. O documento sinaliza, por exemplo, a redução de desigualdades, tema com o qual tem sido completamente omisso durante a pandemia, no sentido contrário ao que deveria ser o papel do ministério da Educação”.

Melhorar a educação básica e o ensino superior não parece ser o objetivo do Ministério da Educação. Se a gente quer, de fato, ser um país mais desenvolvido em diferentes esferas, fato é que perdemos dois anos aí de governo Bolsonaro que vão nos custar muito caro nos próximos anos, em especial considerando o novo contexto da pandemia pelo qual estamos passando”, completa.

CartaCapital selecionou algumas metas previstas no documento e pediu para os especialistas tecerem comentários. Confira:

Andressa Pellanda: “O decreto dialoga com a agenda da meritocracia o tempo todo. Até fala em formação de professores, valorização de boas práticas que impulsionem o debate sobre qualidade, mas confunde qualidade da educação com desempenho. Em alguns momentos até substitui a tríade acesso, permanência, e qualidade por acesso, permanência e desempenho, o que é coerente com a agenda da meritocracia pretendida, mas  que já vem sendo ultrapassada tanto pelas políticas educacionais e legislação, como pelos debates e pesquisas, de acordo com a realidade do país”.

Olavo Nogueira: Essa coisa dos gestores, para mim, fica meio dúbia, eles estão falando de quem, dos gestores das secretarias dos estados e municípios ou dos gestores escolares? É uma redação genérica que não diz muito. O ponto central é que o ministério da educação tem pouca capacidade de incidir na estrutura de gestão das secretarias municipais e estaduais por conta da autonomia. Mas pode e deve apoiar, fundamentalmente as secretarias menores, em regiões mais pobres, do ponto de vista técnico e financeiro. Se é esse o caminho, positivo. Agora, não está clara a estratégia para fazer isso.

AP: A agenda das diversidades praticamente não é citada. O que se fala é em respeito às diferenças que, no campo das pesquisas e políticas sobre diversidades, é bastante ultrapassada. A gente fala em promoção das diferenças, promoção das diversidades, uma política que vinha sendo realizada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), também extinta pelo governo, então segue na mesma toada. Eles falam que vão fazer uma política de combate às desigualdades sociais, e não a todas as desigualdades, discriminações. Essas terminologias que são muito fortes para a agenda da política de promoção das diversidades e inclusão na educação ficam escondidas. 

AP: Essa agenda de promoção das famílias na educação é de grande preocupação. A gente sabe que o conceito de família que esse governo tem é de família patriarcal, heteronormativa – mãe, pai e filho – que também é um conceito ultrapassado em termos de garantia dos direitos humanos e dos direitos LGBT. Há uma ênfase dessa família tradicional. No final desse trecho, se fala em respeito aos direitos dos pais ou responsáveis pelos alunos.

Claro que ele precisa existir, a própria Lei de Diretrizes e Bases dá escolha aos pais dos alunos para matricularem seus filhos em escolas privadas, religiosas, fora do sistema público, mas isso não significa que eles tenham a única voz ou a voz predominante na política educacional, já que ela precisa ser realizada pelo estado, em parceria com a sociedade e a família.

Isso sinaliza um possível avanço na agenda da educação familiar, o homeschooling, que é uma agenda que a própria Damares tem levantado, assim como o governo federal. Foi indicado que haveria uma medida provisória nesse sentido, que seria com certeza um retrocesso e tanto para a educação, como para a área da proteção da criança e adolescente já que, em casa, eles podem estar sujeitos a abusos, violências, e explorações de diversos tipos, muitas vezes realizados pelos próprios familiares.

ON: É mais uma redação incerta, que pode dar origem a algo razoável, mas também a questões preocupantes. De fato, há uma agenda com a qual o governo avança e preocupa ao passa que dá ênfase à escolha das famílias em detrimento de uma política educacional inclusiva, que olhe para o direito de todos. Isso pode caminhar no sentido contrário ao que as legislações brasileiras têm há muito consolidado e promover o enfraquecimento da instituição escolar. 

AP: Ao sugerir a prática do esporte em especial aos estudantes que se encontram em situação de vulnerabilidade social se evidencia uma visão assistencialista, elitista, que não cabe mais dentro de todo o avanço político e social do Brasil. A prática do esporte deve ser promovida de maneira universal, através das escolas e políticas educacionais, mas essa visão do esporte com ênfase às situações de vulnerabilidade, é como se o governo disse que não vai fazer políticas sociais, de fato, de justiça social.

ON: O esporte tem um papel fundamental não só do ponto de vista profissional, mas enquanto elemento social, e precisa ser melhor articulado à educação, até via componente curricular da Educação Física. Mas restringir o desafio da vulnerabilidade, de alunos de contextos vulneráveis, à prática do esporte é uma visão absolutamente restrita e equivocada. Pra gente, de fato, conseguir enfrentar o desafio educacional em regiões mais vulneráveis há de se levar em conta uma série de outros fatores, alguns da própria escola, mas também os extra escola, na área da saúde, assistência social. É uma visão muito pequena para um desafio muito grande, que não toca na questão da desigualdade. 

AP: Essa agenda  de revisão dos currículos é antiga, bem como a intervenção no Programa Nacional de Livros, na formação dos professores, justamente para ter um controle maior do conteúdo da educação, indo ao encontro das agendas fundamentalistas que eles têm promovido, bem como revisionismos, negacionismos e até perseguição a agendas políticas e de promoção das diversidades, assim como pauta o Escola Sem Partido. É bastante grave essa menção, ainda que não explícita, mas no entrelinhas pode dar forma a uma proposta de retrocessos para a área.

ON: Entendo que a redação é genérica, pode caminhar para um lado positivo, como negativo, não fica claro. Mas sobre as metodologias de ensino, há um locus que é de atribuição do ministério da Educação e do qual ele tem se esquivado que é a formação inicial de professores, um dos principais gargalos da educação básica brasileira. Há poucos avanços na últimas décadas nesse sentido. O Conselho Nacional de Educação aprovou no fim do ano passado um novo conjunto de diretrizes curriculares nacionais para formação inicial de professores, um documento que não é perfeito, mas aponta no sentido que o Brasil precisa avançar, que o país tenha uma sólida formação docente inicial que o prepare esse profissional para o exercício da docência, articulando bem teoria e prática. Isso está aprovado há quase um ano e a sua implementação depende de avanços do ministério da Educação, e até agora não se ouviu absolutamente nada sobre o tema. 

AP: É preciso esclarecer o que eles consideram com essa reorganização e o que significa ela ser pautada em estímulo a vinculação a projetos de setores sociais e produtivos. Isso porque existe uma agenda explícita de apontar que faculdades e universidades que têm departamentos com foco na agenda das humanidades teriam menos importância no desenvolvimento tecnológico do Brasil, uma visão bastante utilitarista, objetivista e muito liberal das pesquisas em humanidades.

ON: Há experiências em curso no País de vinculação aos setores produtivos e com a sociedade, de modo mais geral, acho que esse é o ponto. Nos locais em que há de fato um sistema parrudo, que preserva a autonomia das universidades, mas as inserem como contribuinte do esforço maior, essa articulação é absolutamente fundamental. No entanto, não significa que esse é o objetivo da universidade, não dá pra restringir a melhoria do ensino superior só a essa questão. A discussão é muito mais ampla, complexa e exige um pensamento muito mais sistêmico para avançar no sentido desejado.

Evolução de Informações sobre o Coronavírus (COVID-19), no RS, Brasil e no Mundo (08/11)

11/10 - Brasil: 5.082.637 (150.198 m.) no RS: 211.773 (5.100 m.)

25/10 - Brasil: 5.380.635 (156.903 m.) no RS: 230.944 (5.554 m.)

08/11 - Brasil: 5.653.561 (162.269 m.) no RS: 253.172 (5.903 m.)

Casos confirmados no mundo: 42.738.662 (25/10) p/ 49.938.804; óbitos: 1.151.056 (25/10) p/ 1.252.079

Óbitos no Mundo (os 5 primeiros)
EUA: 224.906 
(25/10) p/ 237.123
BRASIL: 156.903 (25/10) p/ 162.269
ÍNDIA: 118.934 (25/10) p/ 126.121
MÉXICO: 88.743 (25/10) p/ 94.808
REINO UNIDO: 44.835 (25/10) p/ 48.978