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domingo, 24 de janeiro de 2016

Mais de 300 presas vão para casa por falta de condições de albergue no RS

Outras 75 estão em um local que não tem mais vagas, diz juiz.
Susepe nega superlotação e diz que prédio pode ser reaproveitado.

Do G1 RS

O vídeo:
http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2016/01/mais-de-312-presas-vao-para-casa-por-falta-de-condicoes-de-albergue-no-rs.html

A falta de vagas em albergues onde mulheres presas cumprem pena no regime semiaberto levou a Justiça a mandar para casa 312 detentas, que estão na rua, em prisão domiciliar ou com tornozeleiras eletrônicas. Outras 75 estão no Albergue Feminino de Porto Alegre, um local que não tem mais vagas, segundo o juiz Sidinei José Brzuska, Vara de Execuções Criminais (VEC).
"É uma questão física. Não cabe", diz o magistrado. "Qualquer pessoa percebe que é impossível você colocar três, quatro vezes mais presas aqui do que a capacidade do prédio", argumenta.
As presas consideradas perigosas ficam em um galpão, como explica a juíza Patrícia Fraga Martins. "Tivemos de achar um lugar, ainda que provisório, para colocar estas presas, então a única solução foi este local", afirma.
Nesta semana, a falta de vagas foi questionada pelo Ministério Publico. O prédio anexo do albergue feminino teria 150 vagas ociosas, segundo o Mapa da População Prisional elaborado pela Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe).
O prédio construído em regime emergencial no governo de Yeda Crusius (2007-2010) foi interditado pela Justiça em junho do ano passado e desocupado esta quase em ruínas. "isso aqui é uma edificação muito frágil", diz Brzuska. "O pessoal chamava pejorativamente de albergues de papel", (da Ana Pellini) conta, enquanto move uma parede usando quatro dedos da mão.
A Susepe nega a superlotação do sistema e admite que as vagas existem apenas no mapa, porque o prédio pode ser reaproveitado. "[O prédio] é recuperável, mas não para essa finalidade. Por isso ampliamos algumas outras casas e temos hoje 570 vagas em processo de recuperação", afirma o superintendente adjunto da Susepe, Alexandre Porciúncula Micol.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Como pode de indicar de Ana Pelline para SSP


Pela a Rosane Oliveira:

"O perfil do eventual substituto de Jacini varia conforme o interlocutor. Há quem defenda a indicação de alguém como o deputado Enio Bacci (PDT), que marcou sua rápida passagem pelo governo de Yeda Crusius pela performance de caçador de bandidos. Como esse perfil não combina com a visão de Sartori, o mais provável é que, se Jacini sair, o governo escolha um substituto com as qualidades de Ana Pellini (Ambiente) e João Gabbardo (Saúde), dois auxiliares elogiados pela competência e pela objetividade."

Acho que Ana Pellini não seria uma boa escolha,  pois em 2010 estava na Susepe e após a construção de  uma obra composta de seis presídios para o semiaberto, não conseguiu administrar  e alguns meses depois não existem mais. Desperdício do dinheiro público por teimosia da referida candidata a  SSP.

A Pellini colocou os oficiais da Brigada Militar como diretores nos presídios e os agentes penitenciário em plantão em 8 horas nos estabelecimentos do regime semiaberto.

É melhor o Sartori pensar bem para não piorar a segurança que já está precária!


sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Sem recursos, Jacini desabafa: “Não sei fazer milagre”

Secretário reconhece dificuldades do governo Sartori e aposta em medidas que não envolvem aportes financeiros

Wantuir Jacini, secretário da SSP/RS
Pressionado pelo aumento da violência no Estado, sob críticas generalizadas por não apresentar soluções para o policiamento ostensivo e, ainda, com boatos de que pode deixar o cargo em breve, o secretário da Segurança, Wantuir Jacini, desabafou em entrevista nesta quinta-feira: "Não sei fazer milagre. Sem dinheiro não posso fazer o que me propus”.

Ele conta que fez um planejamento estratégico para o Estado, antes de assumir, que comportava várias políticas e ações para a segurança. Mas não conseguiu implementá-las, por falta de recursos. “Até que nos primeiros seis meses conseguimos cumprir as metas. Mas, no segundo semestre, houve, sim, aumento da criminalidade”, admitiu pela primeira vez.

Jacini também comentou a possibilidade de um eventual substituto na pasta: “Pode pegar um profissional com a minha experiência ou outro que não tenha experiência alguma, vai ter um problema do mesmo tamanho. Se eu pudesse substituir os 3 mil policiais que se aposentaram, eu resolveria a segurança”, projetou. “Mas não há dinheiro.

Para ele, os recursos são fundamentais. “Faço gestão de segurança há 25 anos. Não adianta ter políticas, se não tem dinheiro. Mas não seria só comigo, seria com outro. A questão não é um problema de gestão”, garantiu.

Integração com municípios

Por conta da “herança financeira”, ele salientou que existe muita conversa com o governo. “Mas como vou fazer se o governo não tem como atender?”, questionou. Jacini ressaltou iniciativas que não preveem grandes aportes de recursos que vêm sendo implementadas. Uma delas é a integração da rede de segurança dos municípios com a estadual. “O RS tem 136 municípios que fazem esforço de ação de segurança pública: Guarda municipal, vídeo-monitoramento ou fiscalização de trânsito”, citou. “Estamos construindo uma integração de todos esses municípios. Isso vai otimizar o esforço policial”, explicou o secretário.

Um sujeito rouba carro na cidade A, que tem vídeo, foge para a cidade B, que também tem. Mas os policiais de uma cidade não sabem que o carro que passou na câmera de uma cidade é o roubado na outra”, exemplificou Jacini. “Mudar isso não depende de dinheiro e estamos desenvolvendo a política de integração. Está em estágio final e espero que em fevereiro possa apresentar a minuta com ajustes para publicar o projeto”, frisou.

“Roubo de veículos é epidemia”

Outra medida prevê o combate do roubo de veículos. “É uma epidemia que vem aumentando nos últimos dez anos”, reconheceu. Os números corroboram com o secretário. Apenas nos três primeiros trimestres de 2015, 13.368 veículos foram roubados, enquanto outros 15.100, furtados – um total de 28.468. O número nesses nove meses se aproxima com o total de registros de 2005: 11.782 roubos de veículos e 19.025 furtos, 30.807 ao todo, de acordo com dados da SSP.

A estratégia para combater esse crime será no âmbito administrativo: “Fizemos um decreto que regulamenta a lei estadual. Existem mais de 1,5 mil desmanches irregulares. Daremos um tratamento administrativo para enfrentar e acabar com a receptação ilegal de veículos”, prometeu.

Correio do Povo

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Susepe fecha 2015 com o maior número de revistas já realizadas

A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) aumentou, em 2015, em 30% as revistas nos presídios estaduais

A ação constante visou evitar a entrada e permanência de materiais ilícitos nos presídios estaduais. Este percentual equivale a mais de uma revista por dia útil, das quais 90 são extraordinárias, o que significa o mais alto índice já alcançado no Rio Grande do Sul. Além disso, o número de fugas do regime fechado diminuiu em 37,8%, em comparação a 2014.
As revistas seguem orientação do Departamento de Segurança e Execução Penal (DSEP), responsável pela administração e execução das ações de vigilância e fiscalização, e são executadas por servidores do Grupo de Ações Especiais da Susepe (Gaes), delegacias penitenciárias, direções e equipes de segurança dos estabelecimentos penais.
Também foram instituídas em todas as Delegacias Penitenciárias Regionais (DPRs), em 2015, as Agências Regionais de Inteligência Penitenciária (ARIPENs). Essas agências descentralizadas auxiliam nas medidas de segurança e facilitam o desenvolvimento de ações pontuais. Funcionam ao todo nove ARIPENs.

O secretário da SSP é pior do que Michels, isso no primeiro ano


Gaúchos sofrem com aumento da violência

Nos 11 maiores Estados do Brasil, apenas RS e PE tiveram avanço no índice de homicídios. Dificuldades financeiras para reforçar polícias e combater crimes são justificativas dos governos para crescimento da criminalidade

JOSÉ LUÍS COSTA/ZH
Diferentemente do que muita gente pensa ou diz, a escalada de violência não é generalizada no Brasil. Ao comparar estatísticas divulgadas por secretarias esta­duais de Segurança, o sinal é de que o crescimento da criminalidade não é um fenômeno nacional.
Levantamento nos 11 maiores Estados, onde vivem 78% dos brasileiros de norte a sul do país, aponta que os homicídios – o principal indicador internacional de violência –, cresceram somente entre gaúchos e pernambucanos de janeiro a setembro do ano passado ante igual período de 2014. E, no mesmo intervalo, o Rio Grande do Sul ainda registra os maiores aumentos de assaltos e de roubos de veículos entre sete Estados pesquisados.
Em média, os homicídios nos 11 estados reduziram 6,3%. Mas no Rio Grande do Sul, subiram 3,5% e, em Pernambuco, 11,6%. Os índices estão em ascendência há pelos menos três anos. Neste período, o governo gaúcho, na tentativa de conter as mortes, lançou projetos especiais em áreas conflagradas, como os Territórios da Paz, formou força-tarefa conjunta entre PMs e policiais civis e criou delegacias especializadas para investigar homicídios em 11 cidades. As iniciativas não tiveram o resultado esperado.
Em Pernambuco, a principal medida para enfrentar crimes de sangue foi o chamado Pacto pela Vida, criado em 2007 e regulamentado em decreto como política de segurança cinco anos depois. O programa até colheu bons frutos por algum tempo, mas dá sinais de fragilidade.
O curioso neste paralelo, é que, nos dois casos, as explicações para o aumento das mortes são parecidas. Autoridades pernambucanas lamentaram às dificuldades financeiras no país e uma espécie de boicote de policiais em cumprir metas, por causa de congelamento de salários. Em entrevista semana passada, o governador José Ivo Sartori justificou como uma das razões para a elevação da violência no RS a crise na economia nacional e o desemprego.
Mas uma análise da estatística indica outra realidade nacional, sobretudo no centro do país. Os melhores índices de redução da violência pertencem a São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente os Estados com maior destaque e visibilidade (leia texto ao lado).
Além da elevação dos homicídios, o Rio Grande do Sul amarga números nada invejados em crimes contra o patrimônio.

Tentativas que naufragaram no RS

Os assaltos cresceram 26,3% em 2015, e os roubos de veículos, ainda mais, 30,4%. Parte disso pode ser atribuída à queda drástica do efetivo de policiais militares nas ruas e do aumento de criminosos condenados em prisão domiciliar por falta de vagas nas cadeias, como noticiou ZH no domingo Assim como para evitar homicídios, autoridades gaúchas já experimentaram ações para frear os ladrões de carros, responsáveis, também por latrocínios (roubo com morte). Algumas não saíram do papel, como a que prevê câmeras de vigilância inteligentes em vias de grande circulação, que alertam a uma central de monitoramento sobre a passagem de veículos em situação irregular.
A última promessa, prevista para entrar em prática no mês que vem, é a nova lei dos desmanches, com objetivo de inibir os crimes relacionados aos roubos e furtos de automóveis, combatendo o comércio clandestino de autopeças entre ferros-velhos ilegais.
"O grande desafio é investir em segurança e na qualificação da gestão" – avalia José Vicente da Silva, coronel reformado da PM de São Paulo e professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da corporação.

Para especialistas, autoridades amenizam responsabilidades

A cada manifestação de uma autoridade, sua responsabilidade tenta ser minimizada, empurrando o problema para o contexto nacional, afirma o consultor em segurança José Vicente da Silva. O especialista lembra que fatores sociais e econômicos influenciam na violência, mas assegura que a polícia pode e deve fazer diferença no combate à criminalidade.
"Não adianta dizer que tem problemas em todo o Brasil. Existem problemas de segurança no país? Existem. Mas existem áreas de sucesso. Em algum momento, o Rio Grande do Sul tem de rea­gir para a situação não piorar ainda mais" – opina o consultor, coronel reformado da PM de São Paulo e professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da corporação.
"Os discursos são tentativas de justificar o fracasso da política de segurança" – opina o sociólogo Rodrigo Azevedo, professor da PUCRS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Azevedo elenca três pontos que considera fundamentais para reprimir a criminalidade:

1 Investir em policiamento ostensivo, com foco da melhoria na sensação de segurança e no recolhimento de armas.
2 Maior articulação entre Estado e prefeituras, com participação das guardas municipais e outros organismos para ampliar serviços essenciais, como iluminação das ruas e evitar a degradação de ambientes públicos.
3 Necessidade de investir em presídios para reduzir o poder de facções, propulsoras da violência.

Como Rio e São Paulo diminuem taxas de crimes

O Rio de Janeiro e São Paulo aparecem no topo no ranking de 11 estados como os únicos que, simultaneamente, baixaram os índices de assassinatos, assaltos e roubos de veículos em 2015.
São Paulo apresenta queda de 11,7%. Foram 2.965 assassinatos (até setembro), o mesmo número de vítimas no Ceará, Estado com cinco vezes menos habitantes. No Rio, o recuo dos homicídios em 2015 foi ainda mais representativo, 18,9%.
Os homicídios em São Paulo estão em queda há pelo menos 15 anos, e atingiram em 2015 o índice mais baixo no período, com taxa de 6,7% casos para cada 100 mil habitantes (até setembro). E a projeção para 2016 é de baixar mais as taxas de violência. Em 8 de janeiro, a capital paulista alcançou marca invejável. Com 11,9 milhões de moradores – mais habitantes do que o Rio Grande do Sul –, a maior cidade da América Latina comemorou 24 horas sem registro de homicídios, fato parecido tinha ocorrido em dezembro de 2007.
Mais rico Estado brasileiro, responsável por um terço do PIB do país, São Paulo vem investindo pesado em segurança há quase duas décadas. Algumas ações: ergueu mais de 50 penitenciárias, construiu cerca de 500 bases comunitárias para a policia militar – metade fixas em bocas de favelas e áreas conflagradas, e vem contratando policiais, à medida que outros se aposentam. A PM paulista tem cerca de 90 mil servidores e perdeu 3 mil (3,3%) em 2015. A Brigada Militar tem 21,4 mil PMs e deixaram a corporação 2,1 mil (10%) no ano passado, sem perspectivas de contratação de novos servidores a curto prazo.

Premiação por cumprir metas

No Rio de Janeiro, uma das estratégias foi a instalação das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em 38 regiões, 37 na Capital, aumentando o policiamento em áreas conflagradas e interromper o que é chamado de lógica de guerra, onde vivem 1,5 milhão de pessoas – equivalente a população de Porto Alegre.

Também foi estabelecido um sistema de metas compartilhadas para melhoria dos serviços que são cobradas em conjunto, tanto da PM quanto da Polícia Civil, o que as obrigou a trabalhar em parceria. Nas unidades que atingem os índices de produtividade, todos os servidores são premiados com dinheiro, variando de R$ 4,5 mil a R$ 13,5 mil para cada policial por semestre (os valores estão sendo revisados por conta da crise financeira que o Estado enfrenta este ano).

É verdade que parte desses investimentos é fruto de ajuda federal por causa de eventos internacionais como Jogos Pan-americanos, em 2007, depois para Copa do Mundo, em 2014, e Olimpíada, que ocorrerá em agosto deste ano.
"O aporte de recurso foi proporcional aos desafios. Esses eventos exigem muito das polícias" – afirma Roberto de Sá, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Secretaria de Segurança do Rio.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

"Brasil não aguenta mais esse padrão de aumento das taxas de encarceramento"

Um caos os serviços penitenciários no Brasil

Por Marcelo Galli é repórter da revista do Consultor Jurídico
Os governos estaduais não suportam mais financeiramente cuidar de tantos presos, avalia o defensor público Renato Campos Pinto De Vitto, diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), órgão do Ministério da Justiça que coordena a política penitenciária brasileira.

Nas contas dele, o gasto anual do sistema passa de R$ 12 bilhões, consequência de um modelo punitivista ineficiente que superlota os presídios e reforça as desigualdades. Além de não respeitar a dignidade e os direitos dos custodiados. “O gasto seria bem maior se fossem observadas as garantias da Lei de Execução Penal”, disse, em entrevista à revista eletrônica Consultor Jurídico.

A estimativa é de que existam no Brasil 607 mil presos, conforme o último levantamento preparado pelo Depen sobre a população carcerária. O estudo é referente a junho de 2014. Ele afirma, porém, que o dado é apenas uma fotografia, porque não contabiliza a entrada e saída dos privados de liberdade. “Passam pelo sistema prisional anualmente mais de um milhão de pessoas, computando as que ficam lá e as que entram e saem”.

Na opinião dele, o número representa uma parcela significativa da população que tem a experiência direta ou indireta da "prisionalização": “Os familiares também recebem a carga da violência institucional do cárcere quando vão visitar os presos”.

Na entrevista, De Vitto se mostrou preocupado com o aumento do encarceramento feminino nos últimos anos. Em 2000, havia 5,6 mil mulheres presas. Em junho de 2014, elas eram 37,3 mil, uma alta de 567%. A maioria tem como causa de aprisionamento o tráfico de drogas. Para ele, os presídios, na sua maioria com instalações inadequadas, não estão preparados para recebê-las. “São estabelecimentos masculinos adaptados precariamente para receber mulheres.”

Leia a entrevista:

ConJur — Qual é a sua avaliação a respeito do enfrentamento do crime no Brasil?
Renato de Vitto —
O criminalista argentino Raúl Zaffaroni diz que, no campo da compreensão sobre a violência e a criminalidade, não conseguimos fazer com que o conhecimento científico trabalhado ao longo dos séculos seja considerado. Ele usa uma metáfora interessante: tratamos o assunto como se na medicina ainda estivesse em vigor a lei dos quatro humores, uma teoria da Idade Média em que todas as patologias e doenças se relacionavam aos quatro líquidos corporais. Essa teoria teve um caráter científico na época, mas foi absolutamente superada. Na criminologia, ainda temos arraigada uma sensação do modelo inquisitorial, das raízes do direito penal na América Latina. Acredito que o desafio é conseguir, de uma forma sofisticada, dialogar com a sociedade para impor um caráter mais racional para essa discussão. A violência é um dado da sociedade, não vai ser extirpada feito um câncer, como defende o discurso punitivista.

ConJur — Como pode ser feito esse diálogo?
Renato de Vitto —
Temos que ocupar os espaços de comunicação, dialogar de forma intensa com a sociedade e apontar alternativas mais sofisticadas. É equivocada a sensação cultural de que se trata de impunidade qualquer solução que não seja a prisão. A prisão deve ser destinada apenas para os crimes mais graves, para as situações que demonstram a necessidade de um isolamento. Hoje há uma banalização do emprego da prisão.

ConJur — Qual é a parcela de responsabilidade dos legisladores para o aumento de presos?
Renato de Vitto —
O Brasil avançou no campo da responsabilidade fiscal a partir da premissa de que não se pode gastar mais do que se arrecada. Ao mesmo tempo, quanto à política penitenciária, somos absolutamente irresponsáveis. A discussão que se dá no Poder Legislativo de recrudescimento de penas, de mudança, por exemplo, do Código Penal, que aumenta o lapso da progressão prisional sem nenhum estudo de impacto financeiro, é exemplo dessa irresponsabilidade dos legisladores. A tendência do Legislativo para assumir o protagonismo no chamado populismo penal é também um problema que retroalimenta as dificuldades do sistema profissional. A escalada do encarceramento massivo, no Brasil, aprofunda-se com a edição da Lei dos Crimes Hediondos, nos anos 1990. De lá para cá, passamos de 90 mil presos para 607 mil. E não houve redução de homicídios ou melhora da sensação de segurança. 

ConJur — Os governos suportam financeiramente cuidar de tantos presos?
Renato de Vitto —
O Brasil não aguenta manter esse padrão de aumento da taxa de encarceramento por mais 15 anos. Houve alta de 136% entre 1995 e 2010, a segunda maior variação da taxa de encarceramento mundial, atrás apenas da Indonésia. As prisões custam dinheiro e os estados, hoje, não estão conseguindo fechar as contas. O gasto anual no sistema prisional brasileiro é de mais de R$ 12 bilhões. Só o estado de São Paulo tem um orçamento de R$ 4,2 bilhões. E isso sem observar as garantias da Lei de Execução Penal, porque se fossem aplicadas efetivamente o gasto seria maior.

ConJur — Quantas pessoas estão presas no Brasil hoje?
Renato de Vitto —
Estimamos em 607 mil como uma fotografia de junho de 2014, mas já começamos a fazer um levantamento que computa o movimento de entrada e saída dos presídios, algo que não fazíamos. O novo Infopen vai ser divulgado com esse dado. Estou muito seguro em dizer que passam pelo sistema prisional anualmente mais de um milhão de pessoas, computando as que ficam lá e as que entram e saem. É uma parcela significativa da população que tem a experiência direta ou indireta da prisionalização, porque os familiares, em alguma medida, também recebem a carga da violência institucional do cárcere quando vão visitar os presos.

ConJur — Há também um custo social?
Renato de Vitto —
Existe um custo em termos de coesão social por causa dessa ferida aberta que mantém a exclusão, contrariando a Constituição, cujo princípio é o da inclusão. A sociedade precisa entender que há outros caminhos possíveis e respostas mais sofisticadas para a questão dos conflitos que são tipificados como crime. Precisamos desmontar o discurso explosivo do “bandido bom é bandido morto”, que é ruim do ponto de vista civilizatório.

ConJur — É quase assumir que a civilização não deu certo.
Renato de Vitto —
Exatamente. É adotar o discurso da barbárie para justificar a violação dos direitos alheios, do inimigo. O sistema punitivo brasileiro é também um mecanismo de exclusão. Não é à toa que falamos em seletividade. O retrato do perfil do preso é o jovem negro que não terminou nem o ensino fundamental. Esse dado é muito representativo e aponta que no sistema penitenciário existe uma engrenagem que funciona fortemente reforçando alguns sistemas sociais de exclusão.

ConJur — O aumento da população carcerária feminina preocupa?
Renato de Vitto —
O aumento do encarceramento feminino nos últimos anos tem ocorrido de forma avassaladora. Existem por volta de 37 mil mulheres presas, segundo levantamento específico que o Depen fez sobre o gênero. Representa só 6% da população carcerária, mas preocupa. Os presídios, na sua maioria com instalações inadequadas, também não estão preparados para recebê-las. São estabelecimentos masculinos adaptados precariamente para receber mulheres. O impressionante é que 67% das mulheres têm como causa de aprisionamento o tráfico de drogas. O perfil da criminalidade feminina é diferente, menos violento. Normalmente, há uma motivação de proteção da família quando a mulher comete um crime. Tem outro ponto importante a ser destacado: as mulheres não recebem muitas visitas, são abandonadas quando presas, ao contrário dos homens. O núcleo familiar é atingido de forma brutal também, os filhos frequentemente vão para abrigos ou há destituição do poder familiar.

ConJur — O Supremo recentemente iniciou discussões importantes sobre o sistema penitenciário. Qual a opinião do senhor a respeito do posicionamento do STF?
Renato de Vitto —
São três decisões importantes. A primeira se refere a uma repercussão geral sobre a possibilidade de indenização por dano moral do preso numa situação de desvio ou excesso de execução da sua pena. A segunda é a possibilidade de intervenção judicial nas hipóteses de necessidade de obras emergenciais em presídios. E tem também a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 347, que teve no seu pedido liminar uma medida cautelar acatada pelo tribunal para descontingenciar o Fundo Penitenciário Nacional. O sistema penitenciário tem um problema de invisibilidade. É fundamental o Poder Judiciário tomar parte e aprofundar essa discussão. O presidente do Supremo e do CNJ, o ministro Ricardo Lewandowski, sempre diz que é preciso melhorar o sistema. É importante o Judiciário tentar movimentar uma política pública nesse sentido porque a demanda é regulada pelo próprio Poder. O pedido por mais vagas decorre de muitas sentenças judiciais de prisão.

ConJur —O Judiciário prende demais?
Renato de Vitto —
Ocorre o uso excessivo da prisão na gestão de uma micro-criminalidade de rua com impacto social baixo. O padrão da Justiça estadual é a prisão do pequeno varejista, o distribuidor da ponta, não é nem um distribuidor intermediário. O que chega diariamente na justiça criminal é a formiguinha, que é substituída de um dia por outro. Não estamos com essas prisões conseguindo neutralizar as redes de distribuição de drogas ou a prática de outros crimes. Estamos, sim, deixando as cadeias superlotadas, o que dificulta qualquer trabalho de gestão adequada, facilitando a atuação de facções criminosas no interior dos presídios. Seriam necessários cerca de R$ 6 bilhões e oito anos para zerar o déficit atual, de 230 mil vagas.

ConJur — Se não houvessem mais decretações de prisões durante o período, claro.
Renato de Vitto —
Exatamente. A projeção do déficit com as tendências de encarceramento indicaria a falta de 300 mil vagas até o prazo de entregas das obras. E tem ainda o gasto com custeio dessas instalações. Uma das iniciativas mais relevantes dos últimos anos para tentar resolver esse problema foi a implementação das audiências de custódia. O Depen está apoiando financeiramente os estados para a criação de centrais de alternativas penais e de monitoração eletrônica por meio de tornozeleira.

ConJur — O que acha da privatização de presídios?
Renato de Vitto —
Não podemos descartar soluções que deem alento ao sistema prisional. A terceirização de serviços como alimentação é uma realidade. A elaboração de um edital de Parceria Pública Privada prisional é difícil. Se não for bem feito, pode amarrar o estado por 30, 50 anos a um contrato leonino. Tanto a PPP quanto a cogestão são mais caras. Há também o risco da criação e organização de um segmento do mercado que ganha com o aumento de presos, ou seja, lucra com a redução da coesão social. Essa é uma realidade nos Estados Unidos, existe o lobby das empresas que fazem a administração prisional pelo aumento das penas. Esses modelos podem também precarizar ainda mais o público.

ConJur —  De que maneira?
Renato de Vitto —
Pode gerar mais desigualdades entre os presos e aprofundar as condições de superlotação nas unidades públicas. O presídio privado não permite, por contrato, a superlotação. Quem não for custodiado no privado por falta de mais vagas, terá de ir para o público. Em nenhum país do mundo as privatizações foram adotadas como substituto do modelo público, são sempre complemento. Nos Estados Unidos existem cerca de 100 estabelecimentos privados que representam 7% da população custodiada total do país. Trabalhar com a iniciativa privada é um desafio e uma obrigação para o político penitenciário, mas, talvez, existam soluções mais inteligentes, como a parceira para criação de unidades produtivas e oficinas de trabalho na penitenciária.

domingo, 10 de janeiro de 2016

A fórmula do caos na segurança

Equação de fatores como reduções nos números de policiais militares e de vagas nas cadeias, somadas ao aumento de criminosos em liberdade, resulta na violência crescente que assola o Rio Grande do Sul

O que aconteceria se presos condenados estivessem à solta, e as ruas, com menos policiais? A respostnoa, evidente, é mais crimes. Exatamente isso se percebe no Rio Grande do Sul ao avaliar a evolução da massa carcerária, a redução do efetivo da Brigada Militar e a estatística da violência nos últimos cinco anos.

O ano passado acabou com 19,3 mil condenados encarcerados no regime fechado e em albergues dos regimes aberto e semiaberto, 17,7% a menos do que em 2010. No mesmo período, a BM encolheu 7%. Números definitivos da criminalidade de 2015 ainda não são públicos, mas tudo indica que serão os mais alarmantes em 20 anos. A tendência é de que tenham aumentado em 88% os latrocínios (roubo com morte) e 42,2% os homicídios.

Atualmente, estão nas ruas 5,3 mil condenados em regime semiaberto, como assaltantes, homicidas e traficantes em prisão domiciliar, com ou sem tornozeleira, porque não existem vagas em albergues – mais do que os 4,3 mil trancafiados no Presídio Central de Porto Alegre, a maior cadeia do Brasil.

A raiz da crise na segurança pública está na escassez de investimentos ao longo dos tempos. Contando moedas para pagar salários, o governo não tem como contratar mais policiais militares (PMs). Por lei, deveria ter 37 mil, mas são 21,4 mil – o menor contingente em 30 anos. No ano passado, a BM chegou a informar efetivo de 20,5 mil. Embora não tenha ingressado um soldado sequer, e o ano tenha fechado com cerca de 2,1 mil baixas, a maioria por aposentadoria, a corporação argumenta que não havia incluído na conta os soldados temporários e os do Corpo Voluntário de Militares Inativos, que não fazem policiamento de rua. Diante da pressão por medidas contra a criminalidade, o governo dá mostras de que, para 2016, a perspectiva de convocar os 2,5 mil aprovados em concurso é mínima.

"Mais cedo ou mais tarde, isso (a convocação) terá de ser feito. Agora, precisa de condições. Como vou colocar alguém para trabalhar aqui se não consigo pagar quem está em atividade?" – rebateu com essa pergunta o governador José Ivo Sartori aos questionamentos de jornalistas do Grupo RBS, em entrevista no Piratini, na quinta-feira.
Revitalizar semiaberto ficou em segundo plano

Em paralelo, o caos no semiaberto remonta quase uma década. Mas se acirrou a partir de 2009, quando o Ministério Público (MP) pediu à Procuradoria- Geral da República intervenção federal nos presídios. O governo Yeda Crusius tentou resolver a questão erguendo albergues emergenciais, com paredes semelhantes a plástico. O projeto, batizado de novo paradigma, parou no chão.

Aos poucos, pavilhões viraram poeira, por causa de depredações, incêndios e até vendavais – de seis prédios na Região Metropolitana, só um está em pé, mas nunca foi usado por falta de água e luz. Ao mesmo tempo, superlotações, falta de segurança, fugas e execuções de apenados contribuíram para interdições e fechamento de albergues, provocando a perda de 1,4 mil vagas apenas em Porto Alegre, Charqueadas, Venâncio Aires, Novo Hamburgo e Viamão.

Em meio a isso, em 2010, juízes de varas de execuções criminais passaram a decretar prisões domiciliares para detentos do regime aberto (em final de cumprimento de pena ou cuja condenação é inferior a quatro anos). A medida teve amparo em decisões de tribunais superiores, que abonam a transferência de preso para categoria imediatamente mais branda quando não há lugar no regime de origem.

A ideia era dar fôlego ao Estado para gerar novas vagas. Mas a iniciativa dos magistrados se mostrou inútil. Sucessor de Yeda, o governo Tarso Genro desistiu de construir albergues. Investiu em solução mais barata, a vigilância de presos à distância por meio de tornozeleiras eletrônicas, projeto permeado por falhas e tema de discussão no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.

Mesmo com presos cumprindo pena em casa e o sistema de tornozeleiras, a crise nos albergues se ampliou. Em 2012, juízes passaram a estender o benefício da prisão domiciliar a presos do semiaberto (com condenações acima de quatro e abaixo de oito anos). Também não surtiu o efeito esperado. Além disso, cerca de 300 apenados com direito de ir para o semiaberto se acotovelam em cadeias de regime fechado na Região Metropolitana, ocupando espaços de novos presos que ficam empilhados em celas de delegacias da Polícia Civil, sem comida e sem banho. O déficit no semiaberto chega a 3 mil vagas apenas na Região Metropolitana.

A partir de ações de defensores públicos, juízes criaram alternativa inusitada: autorizar presos a sair detrás das grades por cinco dias, sob o compromisso de, depois, ir até a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) pedir vaga. Diariamente, detentos batem à porta da Susepe à procura de lugar em albergue. Em geral, escutam a mesma resposta: retornar outra hora.

Alguns voltam para casa.

Outros, para o crime.


JOSÉ LUÍS COSTA/ZH

Polêmica jurídica faz encolher o sistema de monitoramento por tornozeleira eletrônica

Adotado em maio de 2013 como alternativa para controle de presos do regime semiaberto em detrimento de albergues, o monitoramento eletrônico deveria abranger 5 mil apenados desde o ano passado, conforme estimativas da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP).

Mas, além de nunca ter atingido essa marca, o número de presos sob vigilância à distância vem caindo. Já foi de 2,1 mil detentos e, atualmente, é de 1,1 mil.

Uma das razões para o recuo se deve a contestações do Ministério Público Estadual (MP). Baseado na Lei Federal 12.258, de 2010, promotores entendem que o equipamento só pode ser usado por presos provisórios (como é o caso de ex-diretores da Petrobras, acusados de desvio da estatal), por detentos do regime semiaberto em saídas temporárias de albergues ou por apenados em prisão domiciliar.

A lei nasceu com o espírito de reduzir o volume de presos provisórios no país – são 250 mil, equivalente a 41% do total, que estão atrás das grades, aguardando julgamento. Mas, com a crise de vagas em albergues, o Rio Grande do Sul (e também o Paraná) adotou o equipamento como forma de cumprimento de pena.

A maioria dos desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado (TJ) é contra, ou seja, concorda com a posição do MP. Em média, chegam diariamente de três a quatro ordens à Vara de Execuções Criminais (VEC) da Capital para recolher o equipamento dos apenados e levá-los para um albergue.

Mas são comuns recursos ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, em decisões divergentes do TJ, se mostra favorável ao monitoramento eletrônico. O imbróglio processual cria um vaivém de despachos para retirar ou recolocar tornozeleiras. E, como não existem vagas nos albergues, presos ficam livres.

Nesse meio tempo, o Supremo Tribunal Federal (STF) também entrou na polêmica. Ministros analisam a possibilidade de autorizar o uso da tornozeleira para cumprimento de pena.

"Não fomentamos isso, mas, se o STF decidir por esse caminho, poderemos vir a concordar" – afirma Renato De Vitto, diretor- geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Equipamento violado já foi encontrado em galo

No Brasil, 18,1 mil presos são monitorados à distância. No começo de dezembro, o Depen ampliou de 10 para 22 o número de Estados conveniados que recebem recursos para montar o sistema. Financiamentos são viabilizados desde 2013, mas o Rio Grande do Sul não está entre os beneficiados. Enquanto isso, o mecanismo adotado pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) do Estado tem apresentado falhas graves.

Uma tornozeleira já foi encontrada no pescoço de um galo, em Canoas. Um apenado, que havia tirado o equipamento, foi detido tentando extorquir uma vítima que teve o carro roubado, em Porto Alegre, e outro, com a tornozeleira na perna, foi flagrado vendendo drogas, em São Leopoldo. Dos 1,1 mil monitorados, 129 foram presos em flagrante delito em 2015. O número é considerado baixo, mas inclui crimes graves, como assassinatos de policiais militares (leia na próxima página).

Ladrão driblou vigilância e assassinou PM

O caso mais recente que ilustra o desarranjo do semiaberto e do monitoramento eletrônico ocorreu na tarde de 30 de novembro, em Gravataí, na Região Metropolitana, vitimando o soldado da Brigada Militar (BM) Rafael De Ávila Oliveira, 30 anos.

O policial militar (PM) foi morto ao tentar capturar Eduardo Fabian Esteves, 27 anos, foragido da Justiça, que instantes antes havia assaltado uma ótica na praça central da cidade com outros três homens. Se o sistema prisional funcionasse, Esteves não poderia estar ali, mas preso atrás das grades.

Condenado até 2022 por dois assaltos e um furto, entre 2003 e 2012, ele fugiu três vezes de albergues do semiaberto. Na última fuga, ficou um ano e três meses na rua, até ser recapturado por PMs, em novembro de 2013, no bairro Nonoai, zona sul de Porto Alegre.

Com ordem de prisão, criminoso seguiu solto

Em audiência na Vara de Execuções Criminais (VEC) da Capital, em maio de 2014, a Justiça o manteve no regime semiaberto e determinou que passasse a usar tornozeleira. Esteves calçou o equipamento em um dia e, 48 horas depois, desapareceu do radar da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe). Nesse meio tempo, a ordem da VEC foi contestada pelo Ministério Público (MP), que pediu a regressão de Esteves ao regime fechado.

O Tribunal de Justiça do Estado (TJ) acolheu pedido do MP e mandou prendê-lo, mas ele seguiu solto. A Susepe não vai atrás de foragidos, apenas comunica a BM, que captura fugitivos quando depara com eles – em blitze, por exemplo.

Esteves continuou livre até esbarrar no soldado De Ávila em Gravataí. Mesmo rendido pelo PM, o assaltante conseguiu puxar uma arma e atirar, acertando disparo à queima-roupa que passou pela lateral do colete à prova de balas e atingiu o peito do soldado. O PM morreu logo em seguida. Esteves fugiu mais uma vez – e segue foragido.

"Lamentável. Se a decisão do TJ tivesse sido cumprida com mais celeridade e detento tivesse sido recapturado, possivelmente, o PM estaria vivo" – afirma a promotora Aline Gonçalves.
Família incompleta e sonhos interrompidos

O assassinato do policial dilacerou uma família, interrompendo projetos. Casado, pai de dois meninos com três e quatro anos, De Ávila e a mulher, Jeniffer Santos de Souza Oliveira, 26 anos, comemorariam neste mês cinco anos de matrimônio. Em fevereiro, mudariam para uma nova casa. Ele seria PM residente em uma escola em Gravataí. Em paralelo, estudava Direito, planejando concurso para oficial da BM.

"Ele amava a profissão, queria ser capitão. A gente vivia de sonhos e, agora, enfrento um pesadelo" – diz Jeniffer.
A mulher ainda não retornou ao trabalho em uma lancheria, porque o estabelecimento fica em frente à funerária que providenciou o sepultamento do marido:
"Não consigo acreditar no que aconteceu. Penso que não tenho direito de sentir dor por causa dos meus filhos, não quero que sofram ainda mais. O amor entre eles era tão lindo. Me perguntam se o pai vai voltar, e eu respondo que sim, mas que vai demorar. Infelizmente, a lei brasileira é a favor dos bandidos".

Foragidos mataram três brigadianos em assaltos

Em intervalo de um ano e meio, De Ávila é o terceiro PM assassinado por criminosos que deveriam estar sendo monitorados à distância. Em abril, o tenente Geraldo Koloski Peixoto, 50 anos, foi morto pelo assaltante Wagner Fagundes Stuczynski, 24 anos, em tentativa de roubo de carro, na zona norte da Capital. Stuczynski tinha rompido a tornozeleira três meses antes e seguia solto.

Em maio de 2014, o sargento Mario Francisco de Maria Rocha, 52 anos, perdeu a vida ao tentar evitar assalto a farmácia pelo apenado Gerson Bom da Silva, que usava tornozeleira havia quatro dias e a deixou descarregar – mesmo com o monitoramento interrompido, ninguém foi atrás do foragido. Sindicância da Susepe apontou que o único responsável pela falha que levou à morte do sargento foi o próprio preso.


Ajuris critica uma década de descaso

Para a Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), a situação prisional no Estado chegou ao caos e tende a se agravar, “decorrente da falta de uma política pública consistente para o sistema penitenciário”.

Em nota assinada pelo presidente, Eugênio Couto Terra, a entidade afirma faltar plano para cumprir as normas da Lei de Execução Penal (LEP), o que “gera insegurança e desfuncionalidade do sistema de justiça”, e que são “descumpridas ordens judiciais, em especial em Porto Alegre, quanto à progressão para os regimes semiaberto e aberto, deixando sem alternativas legais os magistrados que atuam na área”.

O documento lembra que o problema ocorre desde 2006, agravando-se a cada ano. E, “por descaso do Executivo, apenados são beneficiados com prisões domiciliares, com ou sem monitoramento eletrônico, sendo que esta decisão encontra lastro minoritário no Tribunal de Justiça do Estado, mas majoritário no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal”.

Autoridades têm atitude demagógica, diz entidade

A nota reitera que a manutenção de detentos “dos regimes semiaberto nas penitenciárias, cuja prática segue acontecendo, torna ainda mais aguda a crise, obrigando que novos presos aguardem em delegacias de polícia, prejudicando serviços e gerando risco aos policiais”.

A Ajuris rechaça “qualquer tentativa de responsabilizar o Judiciário pela sensação de insegurança e falta de cumprimento integral da LEP”. E, encerra o texto, lamentando que “autoridades, também responsáveis por encontrar ou apontar caminhos para a solução do problema, optem por ter uma atitude demagógica e simplista de culpar magistrados por tudo que acontece na esfera criminal”.

O problema na visão de especialistas

"Estamos colhendo frutos de anos de omissão estatal, deixando de investir em trabalho prisional e em outros projetos que permitam o retorno do preso ao convívio social de forma positiva. Para o preso que começa a cumprir pena no regime semiaberto, a tornozeleira ainda é melhor do que o sistema tradicional. Os presídios são escolas do crime. Os presos que saem do regime fechado para o semiaberto já vêm comprometidos com facções e retornam mais violentos para a rua. E isso requer maior número de policiais nas ruas."

Ana Paula Pozzan

Dirigente do Núcleo de Defesa em Execução Penal da Defensoria Pública Estadual

"Onde tem menos policiais e mais criminosos à solta, o ambiente se torna propício para o crime. Aumenta a motivação para cometer delitos e gera a sensação de que o crime compensa. Se o sujeito sabe que, se for preso e condenado, vai voltar para a rua. Prender não significa resolver o problema da segurança, mas não prender vai aumentar ainda mais o problema. O grande câncer é não ter onde colocar presos."

Gustavo Caleffi

Especialista em segurança estratégica

"Se o apenado ganhou direito a progredir de regime, é porque teve méritos. O encarceramento corporal é para quem é perigoso, e isso é minoria. O problema da segurança é a ausência do policiamento ostensivo, antecipando-se ao crime. Se colocar um policial militar fardado e acender uma lâmpada, possivelmente, o crime não acontece. A função da Brigada Militar não é estar dentro do Presídio Central."

César Peres

Presidente da Associação dos Advogados Criminalistas do RS

"Trabalho junto à Vara de Execuções Criminais da Capital desde 2005. Acredito que a criminalidade aumentou em razão de que muita gente que deveria estar presa está solta. Diziam que presos estavam se matando dentro dos albergues, mas agora estão se matando fora deles, e levando inocentes junto. A superlotação não autoriza abrir a porta e jogar criminosos para a sociedade sofrer o pênalti. Isso não é problema do juiz e do promotor, é do Executivo."

Débora Balzan

Promotora de Justiça
Contrapontos
O que diz a Susepe
A redução do número de presos em penitenciárias se deve ao fechamento do Instituto Penal de Viamão e do Instituto Penal de Mariante (em Venâncio Aires) e da limitação de vagas pela Justiça no Instituto Penal de Charqueadas e no Instituto Penal Padre Miguel Dario (Porto Alegre).
A Susepe projeta enfrentar o déficit de 3 mil vagas em albergues com uma reforma em pavilhões no Instituto Penal Pio Buck, fechados desde 2010, que vai gerar 300 vagas, 120 delas em janeiro, e o restante, no segundo semestre deste ano, promete a superintendência.
Sobre o desinteresse em obter recurso do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) para melhoria do sistema de tornozeleiras eletrônicas, informa que a proposta do Depen era para utilização do equipamento em presos provisórios e que está em vias de acordar um convênio de cooperação com o Tribunal de Justiça do Estado neste sentido.
O que diz a SSP
Por meio de nota, afirma que a flexibilização de Lei de Execução Penal leva para regimes mais brandos criminosos de maior potencial ofensivo, que não raramente voltam a delinquir, o que resulta em aumento da criminalidade. Apresenta, como projeto para 2016, aumentar o número de tornozeleiras utilizadas para 2,5 mil.
Informa que a quantidade de foragidos recapturados subiu de 4.035 em 2014 para 4.086 em 2015. Diz que foram prorrogados os contratos para repasse de R$ 44,2 milhões do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) para a construção de cadeias públicas em Alegrete (286 vagas), Passo Fundo (286), Rio Grande (674 em duas unidades), totalizando 1.246 novas vagas.
Informa que o Estado entrará com contrapartida de R$ 15,7 milhões, e que o prazo de execução é de 12 meses, a contar da assinatura da ordem de início das obras, mas não aponta quando isso deve ocorrer. Ressalta a reforma do Instituto Penal Pio Buck ao custo de R$ 25 milhões, com verbas oriundas de parceria com o Tribunal de Justiça.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O Estado do RS o Sartori é um governicho


As conquistas, como 13.º salário, férias, FGTS, licença maternidade, entre outras, são resultados de muitas lutas entre empregados e patrões, os empregados se organizaram em sindicatos, que é um movimento social, que busca mudanças na estrutura da sociedade para melhorar as condições de vida dos trabalhadores e de todas as pessoas. Se tivéssemos deixado para nossos patrões a obrigação de fazer as mudanças que queremos, estaríamos estagnados, parados no tempo, estaríamos no regime escravagista, seríamos escravos dos patrões.

O Estado deveria dar exemplos de melhorias na vida dos trabalhadores e ser o guardião das Leis que protegem os mais fracos, e o que temos assistido aqui no Rio Grande do Sul é o contrário. Este governo e os deputados que o apóiam, diz ter coragem para fazer as mudanças necessárias, só que estas atingem sempre os mais fracos, isso é covardia. Temos, então, um governo covarde. Que com seus ataques e projetos, querem nos remeter ao um passado que os trabalhadores tinham que se organizar na clandestinidade, isso é um retrocesso.

Ao invés de avançarmos, retrocederemos. Nem sempre o que é bom para um estado é bom para o outro. Queremos ser um estado exemplar , porém o governo nada faz nesse sentido, e pior, copia outros estados e até mesmo a União. Alega não ter recursos e estar quebrado, no entanto impede que a sociedade tenha acesso às contas financeiras, diverge sobre valores com o tribunal de contas. No mínimo, ficamos na dúvida sobre a verdade. Deixa de atacar os mais fortes, aqueles que sonegam 7 bilhões de reais ao ano e os que possuem e usufruem das renúncias de impostos na ordem de 15 bilhões de reais ao ano, ou seja só nestes dois itens são 20 bilhões ao ano, sem contarmos com os juros de uma dívida duvidosa,  este mesmo governo diz que faltam 5 bilhões ao ano para os cofres públicos, é muita hipocrisia.

Estes mais de 20 bilhões de reais anuais que o nosso estado perde, deveria de ser a pauta diária do governo, dos deputados e da mídia. Mas o que vemos é mais do mesmo.

Mais do mesmo. Parece que a história se repete. O que adiantou a venda do Banco Meridional? A extinção da Caixa Econômica Estadual? Entre outras liquidações. Todos os serviços continuam piorando, nada melhorou de lá para cá, e o atual governo com estes deputados, vendidos por poder, e em parceria com a mídia, querem convencer que reduzindo os salários, o número de servidores, extinguindo fundações de pesquisa, leiloando a folha de pagamento dos servidores para outro banco, comprometendo assim a viabilidade do Banrisul, entre outros cortes de investimento, será bom para o Rio Grande e para a sociedade.

Quem devolve os impostos arrecadados pelo estado aos contribuintes são os serviços públicos, são os servidores ao prestar os serviços esperados pela população, isto é o real investimento que a sociedade espera. Do jeito que está e como este governo e seus deputados estão fazendo, teremos mais crime, mais violência, mais doentes, mais sofrimento.

A grande maioria, de nossas crianças e jovens, precisa de escolas públicas e professores felizes para ensinar, o nosso futuro e presente dependem muito disto. Se continuarmos a aceitar esta política de governo, vamos encher presídios e hospitais. Só citei um exemplo da importância dos serviços públicos com qualidade.

Enquanto países desenvolvidos, que vivemos a idolatrar, investem em pesquisas para novas tecnologias, o nosso governador e seus deputados querem extinguir fundações de pesquisas e outras de suma importância para o desenvolvimento social e econômico.

Mas para estes deputados que estão apoiando o atual governo, parece que quanto pior é melhor.

Fomos todos enganados mais uma vez nas eleições, mas outras eleições virão, municipais e estaduais, até lá, informaremos, sem cansar, quem são estes enganadores.

Agora querem calar os sindicatos, que são um dos poucos movimentos sociais que estão lutando contra esta política de governo equivocada. Aqueles que apóiam este governo também sofrem e sofrerão com as conseqüências danosas, cada vez mais terão que se proteger de mosquitos, doenças, violências, entre outros tantos problemas. As pessoas sofrerão sem serem selecionadas, seja ela rica ou pobre em patrimônio, seja ela homem ou mulher, seja ela adulto ou criança, e assim por diante.

Essa ótica economicista, propagada pelos grandes meios de comunicação e adotada por sucessivos governos, está tomando conta de todas as opiniões. As questões de ordem social e humana, como amor, carinho, educação, união, solidariedade, bem estar e outras, são substituídas pela questão da viabilidade econômica e financeira, o resto é o resto.

Estamos frente a um grande retrocesso aqui no Rio Grande do Sul. Estão golpeando a nossa jovem democracia. Até quando?
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Nelcir André Varnier