Susepe garante que há espaço para ressocialização nas unidade
Isabella Sander
Previsto para ter sua primeira unidade inaugurada na segunda
quinzena de fevereiro, o Complexo Prisional de Canoas (CPC) promete
apresentar um novo modelo de gestão, focado na ressocialização dos
presos. A Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), contudo,
teme que a casa prisional se torne mais um local nos moldes do Presídio
Central de Porto Alegre (PCPA), dominado por facções criminosas.
Para organizar suas inseguranças a respeito, a entidade apresentou,
no dia 11 de janeiro, nota técnica assinada por Marcos Rolim,
especialista em segurança pública e integrante do Conselho
Administrativo do Centro Internacional para la Promoción de los Derechos
Humanos (CIPDH), órgão vinculado à Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Segundo o presidente da Ajuris, Gilberto Schäfer, a associação tem
acompanhado a situação do sistema prisional, através do Fórum da Questão
Penitenciária, desde sua denúncia a respeito do PCPA, para a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos
(OEA). "Denunciamos a superlotação da unidade, bem como a situação
precária de sua estrutura, a falta de oferta de trabalho
profissionalizante e a realização de revista íntima vexatória. A partir
disso, o governo federal deu respostas e apontou a construção de novas
casas prisionais como solução", relata. Foi aí que surgiu o projeto do
CPC.
Desde que a ideia do complexo foi ventilada, a Ajuris quis saber
qual seria o perfil do preso, como seria gerido e quem faria a guarda.
"Até hoje, a Brigada Militar faz a guarda no PCPA, apesar de não ter
formação para isso. Em nossa nota técnica, mostramos que, aparentemente,
o CPC não está dimensionado para o trabalho prisional e que seu
primeiro objetivo não é oferecer a ressocialização do detento, através
de trabalho e educação, tanto ampla quanto profissionalizante", pondera
Schäfer.
O magistrado critica, ainda, a falta de debate por parte da
Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) desse projeto com
outras instituições, como o Judiciário, o Ministério Público, a
Defensoria Pública e associações das instituições e da sociedade.
"Parece que estamos vivendo a cultura da improvisação. Está se repetindo
o mesmo sistema de depositar presos. Se for dessa forma, logo, logo,
teremos a repetição, em Canoas, do PCPA. Está na hora de o Estado e a
sociedade perceberem a necessidade de modificarmos nossa relação com o
trato prisional, que impacta diretamente a segurança. Hoje, as próprias
facções controlam os pavilhões no Presídio Central. Queremos isso para
Canoas?", questiona.
Schäfer assegura que a Susepe dá retorno às questões apresentadas
pela Ajuris, mas não as respostas adequadas. "Queremos um debate.
Precisamos de um retorno adequado, sem pensar apenas na questão do
aumento de vagas, e sim em como isso será feito. Qual o projeto, além do
arquitetônico? Ao que tudo indica, tudo nas novas unidades é voltado
para a contenção", explica. A entidade pretende voltar a se reunir em
fevereiro, com o Fórum da Questão Penitenciária, a fim de avaliar o que o
Judiciário pode fazer a respeito.
Em nota ao Jornal do Comércio,
a Susepe negou a ausência de estrutura para ressocialização de presos
no Complexo Prisional de Canoas e adiantou que está previsto, em cada
galeria, um pavilhão de trabalho. Além disso, o projeto arquitetônico
contempla unidades de saúde, salas de aula, espaços para leitura, pátios
com refeitório e acomodações para visitas.
"A proposta é uma nova concepção para um atendimento diferenciado
aos apenados que lá cumprirem pena, pois já possuiremos os espaços
adequados dentro das estruturas físicas", afirma a superintendência.
A Brigada Militar fará a segurança externa das unidades. Na parte
interna, o trabalho será feito por agentes penitenciários, agentes
penitenciários administrativos e técnicos superiores penitenciários. O
trabalho de cozinha, limpeza e manutenção da estrutura, apesar de ser de
responsabilidade do Estado, será realizado pelos presos, como ocorre em
outras unidades prisionais gaúchas.
A proposta, conforme a Susepe, é dar condições plenas a uma
resposta social mais eficiente, além de um tratamento penal
diferenciado. Para tanto, serão selecionados detentos com um perfil
específico, que não pertença a facções e demonstre vontade de passar por
uma ressocialização.