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domingo, 25 de fevereiro de 2024

Ato na Avenida Paulista não muda situação jurídica de Bolsonaro

Ex-presidente precisa explicar em depoimento suas investidas contra o Estado Democrático de Direito

De Rosane de Oliveira

Convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a pretexto de se defender, a manifestação na Avenida Paulista, em 25 de fevereiro, não muda a sua situação jurídica. Não é em um ato com pessoas vestidas de verde e amarelo que ele precisa explicar a tentativa de golpe em 2022 e a série de eventos em que atentou contra o Estado Democrático de Direito

O foro é outro: provavelmente antes do dia 25, Bolsonaro e os generais Braga Netto e Augusto Heleno serão intimados a depor sobre suas investidas contra o sistema eleitoral e a tentativa de virar a mesa para impedir a eleição e, depois, a posse do presidente eleito em outubro de 2022. 

O vídeo da reunião em que se fala abertamente em fazer alguma coisa para impedir a vitória de Lula foi a base da Operação Tempus Veritatis, mas não é o único elemento. Bolsonaro será interrogado sobre outras tentativas de melar a eleição para continuar no poder. 

Não era "um golpe contra ele mesmo", como dizem seus apoiadores, mas um conjunto de manobras que incluíam criar o clima de caos que justificaria a decretação de estado de sítio. Nos planos, convém lembrar, estavam as prisões dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. 

O que Bolsonaro quer no dia 25 de fevereiro na Paulista é uma demonstração de força. Uma fotografia para alimentar a narrativa de que, se for preso, a multidão vai se rebelar e teremos o tal "clima de guerrilha", mencionado na reunião de julho.

pedido para que os apoiadores não levem faixas com ataques a quem quer que seja se explica pelo medo de que os pedidos de intervenção militar sejam um desses tiros que saem pela culatra.

ALIÁS

Infiltrar agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas campanhas dos adversários é outro ponto chave na operação da Polícia Federal. Tanto Bolsonaro sabia da gravidade da sugestão do general Augusto Heleno que sugeriu falarem a sós. 

Declaração de Lula sobre Gaza é: "UM GRITO DE SOCORRO PERTINENTE", diz Haddad

O ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT), classificou como "pertinente" a declaração do presidente do Brasil, Lula sobre os ataques de Israel na Faixa de Gaza. Trata-se, segundo o chege da equipe econômica do governo, de um "grito de socorro", embora seja possível discutir "uma palavra ou outra do discurso do presidente".

"Não podemos ficar indiferentes ao que está acontecendo que é muito grave". disse o ministro. "Eu não gostaria de sair da essência, que é buscar a solução para aquele problema, de preferência com dois Estados, como está previsto na resolução das Nações Unidas."

No domingo 18, durante passagem por Adis Adeba, na Etiópia, Lula afirmou: "É importante lembrar que em 2010 Brasil foi o primeiro país a reconhecer o Estado palestino. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande. O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu qundo Hitler resolveu matar os judeus".

Desde então, o governo de Israel reagiu em um tom que gerou indignação no Itamaraty. Após uma sequência de acusações publicadas pela gestão de Benjamin Netanyahu, o chancelar Mauro Vieira afirmou que Tel Aviv escreveu uma "vergonhosa página" ao atacar Lula "com recurso a linguagem chula e responsável". O ministro classificou como "algo insólito e revoltante" a conduta israelense.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Texto de Luiz Eduardo Soares: escritor, antropólogo e cientista político

"O mais dilacerante sofrimento humano não é nomeável, descritível, muito menos mensurável. Transborda os limites da linguagem e de qualquer medida. Sua natureza é a incomensurabilidade. Por isso, quando provocado, este sofrimento, por ações alheias evitáveis, não pode ser justificado, não cabe em nenhuma sequência moralmente motivada de atos. Milhares de crianças mutiladas, membros amputados sem anestesia, espíritos destroçados, seus mundos familiares arruinados, seu espaço devastado, as coisas que as cercam estilhaçadas e calcinadas. Essas palavras estão vazias, evocam mas não substituem os corpos empilhados em Gaza, apodrecendo em Gaza: as palavras também apodrecem. Nenhum sofrimento extremo é comparável a nenhum outro, porque não pode ser partido em unidades, pesado, delimitado, contabilizado, apreendido fora de si mesmo, dado a outrem como um dom, devolvido por seu preço em moeda comum, a moeda que se troca entre mãos hábeis. O sofrimento excruciante da criança em agonia é um só, um oceano e um deserto, sem começo nem fim: a história interminável do avesso do que gostaríamos de chamar humano. A criança em pânico, agonizando em Gaza, é a mesma criança em pânico agonizando no campo de concentração nazista. As duas agonias não são comparáveis porque são uma só e a mesma agonia. Nenhum de nós, nenhuma testemunha tem medida para distinguir, hierarquizar e comparar. Nenhum de nós tem o direito de sugerir que sabe o que é isso de que falamos para velar. Mas temos o dever de nos postar como guardiões da inexpugnabilidade do sofrimento extremo, de sua incomparabilidade, de sua incomensurabilidade, de sua irredutibilidade à linguagem e a toda forma de neutralização. E temos também o dever de nomear os carniceiros. Os agentes das carnificinas, o governo de Israel e os nazistas, cometeram crimes contra a humanidade e têm de responder perante a história. Seus crimes não são comparáveis. São um só.O mais dilacerante sofrimento humano não é nomeável, descritível, muito menos mensurável. Transborda os limites da linguagem e de qualquer medida. Sua natureza é a incomensurabilidade. Por isso, quando provocado, este sofrimento, por ações alheias evitáveis, não pode ser justificado, não cabe em nenhuma sequência moralmente motivada de atos. Milhares de crianças mutiladas, membros amputados sem anestesia, espíritos destroçados, seus mundos familiares arruinados, seu espaço devastado, as coisas que as cercam estilhaçadas e calcinadas. Essas palavras estão vazias, evocam mas não substituem os corpos empilhados em Gaza, apodrecendo em Gaza: as palavras também apodrecem. Nenhum sofrimento extremo é comparável a nenhum outro, porque não pode ser partido em unidades, pesado, delimitado, contabilizado, apreendido fora de si mesmo, dado a outrem como um dom, devolvido por seu preço em moeda comum, a moeda que se troca entre mãos hábeis. O sofrimento excruciante da criança em agonia é um só, um oceano e um deserto, sem começo nem fim: a história interminável do avesso do que gostaríamos de chamar humano. A criança em pânico, agonizando em Gaza, é a mesma criança em pânico agonizando no campo de concentração nazista. As duas agonias não são comparáveis porque são uma só e a mesma agonia. Nenhum de nós, nenhuma testemunha tem medida para distinguir, hierarquizar e comparar. Nenhum de nós tem o direito de sugerir que sabe o que é isso de que falamos para velar. Mas temos o dever de nos postar como guardiões da inexpugnabilidade do sofrimento extremo, de sua incomparabilidade, de sua incomensurabilidade, de sua irredutibilidade à linguagem e a toda forma de neutralização. E temos também o dever de nomear os carniceiros. Os agentes das carnificinas, o governo de Israel e os nazistas, cometeram crimes contra a humanidade e têm de responder perante a história. Seus crimes não são comparáveis. São um só."