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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Governo do RS prevê inaugurar núcleo de distribuição de presos em Porto Alegre neste ano

Estrutura funcionará como espécie de “local de passagem” para pessoas detidas na Região Metropolitana

A Secretaria da Administração Penitenciária (Seapen) do Rio Grande do Sul prevê inaugurar até o fim deste ano o Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp). A estrutura foi anunciada em 2019 como uma ferramenta para ajudar a amenizar os problemas com a custódia de presos, desafogando a ocupação de delegacias

Funcionará como espécie de “local de passagem” para presos na Região Metropolitana, com diversas repartições, como local para audiência de custódia e celas para pessoas detidas e que aguardam vaga no sistema prisional. 

O local contará com participação de órgãos envolvidos no sistema penitenciário, como Brigada Militar (BM), Defensoria Pública, Judiciário, Ministério Público, Polícia Civil e Superintendência dos Serviços Penitenciários.

O secretário-adjunto da Administração Penitenciária, Pablo Vaz, afirma que a parte conceitual do Nugesp, alinhada junto dos órgãos participantes, já foi fechada. Agora, estão sendo finalizados os processos referentes ao contrato de permuta com a empresa que vai executar as obras, o que deve ocorrer ainda no primeiro semestre, abrindo caminho para a construção do espaço. 

"O prazo de execução dessa obra é de oito meses, de modo que a tendência é de que nós tenhamos ao final desse ano ainda pronto o Nugesp, sendo inaugurado e por consequência iniciada a sua operação" — projeta o secretário-adjunto. 

Vaz afirma que o governo conseguiu amenizar o cenário de superlotação em delegacias e evitar presos em viaturas por meio de mediações com o Judiciário e de mudanças de protocolos diante da pandemia de coronavírus. 

O Nugesp será construído em terreno localizado aos fundos do Instituto Psiquiátrico Forense e no entorno do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre. O complexo contará com 708 vagas. Vaz destaca que o impacto do núcleo será percebido logo após a inauguração, mas que a operação a pleno depende de alguns fatores, como estabelecimento de protocolos internos. 

"A gente entende que, uma vez inaugurado o Nugesp neste ano, não vá conseguir de imediato fazer a ocupação total. Mas a gente entende que, uma vez inaugurado, nós vamos começar em um mês a operação desse núcleo" — pontua.   

O Nugesp

Como vai funcionar

Após o registro de ocorrência na delegacia de polícia, o preso é encaminhado para o sistema prisional por meio do Nugesp, que funcionará como um “local de passagem”, com diversos órgãos envolvidos no âmbito do sistema prisional.


Local

O Nugesp será construído na Avenida Salvador França, 296. O local terá 5,5 mil m² de área, dividido em: 

·        Área de Custódia Temporária, com quatro módulos masculinos e um feminino. 

·        Área Administrativa

·        Torre de controle

·        Sala de Audiência de Custódia

·        Triagem, com serviço de identificação, atendimento por psicólogos, médicos e pelas assistentes sociais, quando for necessário. 

·        Cozinha e Serviços Gerais

·        Divisão de Monitoramento Eletrônico


Capacidade

O local poderá comportar 708 presos.

Fonte: Seapen


 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Prefeito Melo é Bolsonarista

O prefeito Sebastião Melo de Porto Alegre é um ignorante e irresponsável. Igual ao presidente Bolsonaro. Liberou os Supermercado, Shoppings e as lojas, e quer oferecer cloroquina para pacientes que quiserem “tratamento precoce”. Outro bolsonarista.

Uma pandemia que agora tem outra variação do Coronavírus, que vai ser mais contagiosa. Agora vem a vacina, mas levará até o final deste ano para que todos os habitantes sejam vacinados contra o covid-19. Melo cumpriu o que vinha prometendo nos últimos dias: as restrições em que a prefeitura vinha impondo eram mais rigorosas que as do governo estadual, agora com o Mello houve uma liberação geral.

Esse prefeito quer oferecer medicamentos como Hidroxicloroquina, Azitromicina, Ivermectina e outras drogas, mas ele não citou quais os médicos que indicaram.

Embora não haja pesquisas comprovando a eficácia da Hidroxicloroquina no tratamento à  covid-19, o medicamento é amplamente receitado no Brasil e usado por políticos que contraíram o vírus. 

Olha esse o prefeito de Porto Alegre, sem comprometimento com a vida da população em relação a pandemia. E ele quer na próxima eleição estadual ser governador.

Agora, com a chegada das vacinas, existe uma esperança de nos livrarmos da Pandemia e voltarmos a andar livremente pelas ruas, visitar os amigos, ir a festas e fazer comemorações.

Mas, por um tempo ainda precisamos usar máscaras, lavar muito as mãos e manter o distanciamento e isolamento o máximo possível. 

Da crise nas prisões, explosões de assassinatos e roubos de veículo à queda nos indicadores: veja um retrato do crime nos últimos 10 anos

GZH ouviu os secretários de segurança dos três últimos governos, incluindo o atual, para avaliar a evolução da criminalidade no Estado entre janeiro de 2011 e dezembro de 2020

O Rio Grande do Sul encerrou 2020 com números históricos no combate à criminalidade. A taxa de homicídios chegou a 14,8 para cada 100 mil habitantes e, pela primeira vez desde 2010, ficou abaixo de 15, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Cenário bastante diverso do enfrentado entre 2016 e 2017, quando os gaúchos foram aterrorizados por onda de assassinatos e assaltos com morte. Naquele período, a mesma taxa de homicídios chegou a 26,4 e um latrocínio era registrado a cada dois dias no Estado.

Para analisar como o crime oscilou em uma década (entre janeiro de 2011 e dezembro do ano passado), GZH ouviu chefes da segurança dos três últimos governos. O procurador do Ministério Público Airton Michels, que ocupou o cargo por quatro anos, entre 2011 e 2014, na gestão de Tarso Genro (PT), o vereador de Porto Alegre Cezar Schirmer (MDB), que assumiu a pasta em 2016 no governo de José Ivo Sartori (MDB), e o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior (PTB), que acumula as funções no governo de Eduardo Leite (PSDB). A reportagem não conseguiu contato com o ex-secretário Wantuir Jacini.  

Os três retomaram as políticas adotadas por seus governos —  por vezes contrastantes entre as gestões — , avaliaram o cenário atual e discorreram sobre os desafios a serem enfrentados na segurança pública do Estado, como o combate ao crime organizado e o sistema prisional.

O início do trajeto 

Quando assumiu o cargo de secretário da segurança do Estado em janeiro de 2011, Airton Michels foi chamado "xerife das cadeias". A alcunha fazia eco à larga experiência na gestão prisional do então diretor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), que já havia sido chefe da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) do RS. Solucionar dilemas num abarrotado sistema carcerário era meta do governo. O objetivo tinha alvo: o Presídio Central, em Porto Alegre, que amargava o título de "pior presídio do Brasil".

Construído na década de 1950, com deficiências estruturais graves, com esgoto a céu aberto, o prédio chegou a espremer cerca de 5 mil presos. As celas perderam o sentido, os detentos passaram a ocupar os corredores, e a separação dentro da cadeia passou a ser feita com base na distribuição das facções.

"Era um criatório do crime, não uma solução. Nos quatro anos, focamos em gerar vagas prisionais no Estado. Mas não é solução para (apenas) um governo" — reconhece Michels.

Às 10h de 14 de outubro de 2014, o secretário deu a marretada simbólica na parede do pavilhão C da cadeia. A expectativa era de que a demolição tirasse a casa prisional do mapa carcerário gaúcho. Mas a obra parou, os presos voltaram a inflar, e a prisão só mudou de nome. Hoje chamada Cadeia Pública de Porto Alegre, acumula 3,4 mil presos, num espaço para 1,8 mil.

"Não derrubei todo o Central porque perdemos a eleição" — diz o ex-secretário.

Mas o sistema carcerário não era o único problema enfrentado naquele momento. Quando assumiu a gestão em 2011, o cenário dos homicídios no Estado era semelhante ao atual - 1.668 haviam sido registrados em 2010. Mas o Estado viu os indicadores de crimes, como assassinatos e roubos, subirem. Em dezembro de 2012, foram criados o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa e seis delegacias especializadas na Capital para investigarem assassinatos, e o governo investiu no policiamento comunitário nas periferias, em parcerias com municípios. Houve também melhoria na remuneração dos servidores, que protestavam pelos baixos salários. Ainda assim, o crime ascendeu, e 2014 encerrou com 675 homicídios a mais do que em 2011.

"Estava ocorrendo em todo o Brasil. Havia um fenômeno, uma exacerbação que já se formava em 2014, de reforço grande das facções, que começaram a se matar" — avalia Michels.

No RS as facções também se proliferavam e as disputas por territórios se tornavam mais sangrentas, especialmente na Região Metropolitana. Dali em diante, a escalada da violência se intensificou. Em 2015, o RS registrava em média 49 roubos de veículo por dia — metade desses na Capital. Foi este cenário que o delegado federal aposentado Wantuir Jacini encontrou quando assumiu a pasta da segurança em janeiro de 2015.

Descontrole

Considerado um perfil técnico, por conta da experiência profissional e dos oito anos como secretário de segurança do Mato Grosso do Sul, Jacini traçou como meta impedir o ingresso de celulares nas cadeias para evitar o comando de crimes por trás das grades, mas não obteve êxito. Em dezembro de 2015, seis coletivos foram incendiados na zona sul da Capital, em represália a uma ação policial. O episódio levou a novas pressões para que o governo solicitasse apoio da Força Nacional. O ano de 2016 seguiu com aumento dos principais crimes, especialmente na Região Metropolitana.

domingo de Dia dos Pais, 14 de agosto, deu início a uma série de fatos que seriam o estopim do descontrole vivido naquele momento. Com 30 minutos de diferença, uma médica de 32 anos foi morta na frente da irmã por assaltantes que tentavam levar seu carro na zona norte de Porto Alegre e um porteiro de 57 anos foi assassinado ao tentar defender o filho de um roubo na Zona Sul. Na sequência, cerca de 50 pessoas foram mortas na Grande Porto Alegre num intervalo de 12 dias. Em 25 de agosto, dois homens foram decapitados e uma mulher de 44 anos foi morta num assalto enquanto esperava o filho na saída da escola, no bairro Higienópolis. Aquela era a 25ª vítima de latrocínio na Capital e o crime foi a gota d'água.

Horas depois, o secretário pediu exoneração e, no dia seguinte, o governador Sartori viajou a Brasília para solicitar apoio da Força Nacional, o que se concretizou em 28 de agosto, com a chegada de 120 policiais. Com a saída de Jacini, o governo precisou buscar outro nome para a segurança. O anúncio se deu em 2 de setembro, sob críticas. Prefeito de Santa Maria em dois mandatos, Cezar Schirmer não tinha experiência na área policial e teve a carreira marcada pelo incêndio da Boate Kiss, em janeiro de 2013. A primeira medida do novo secretário foi pedir trégua de 90 dias aos gaúchos antes de cobrarem resultados.

"O maior desafio era assumir em circunstâncias extremamente adversas e com baixa aceitação da população, da imprensa. Mas sou movido por desafios. Tinha convicção de que era possível transformar rapidamente aqueles indicadores" —  recorda Schirmer.

Reação

O Estado buscou apoio federal e parcerias para comprar equipamentos, como armas e coletes, além de viaturas. A chegada da Força Nacional, bem equipada, também teve impacto positivo na opinião pública - a ideia inicial era empregá-los na guarda dos presídios, mas foram mantidos no policiamento. Aliado a isso, o governo passou a investir os recursos próprios na tentativa de suprir a carência de policiais.

Outra frente, com apoio de vários órgãos, deu-se no enfrentamento às facções criminosas, que protagonizavam crimes violentos e execuções brutais. Naquele momento, já havia também um maior movimento de interiorização das facções, que ganharam força no Interior - algo que seguiu acontecendo nos anos seguintes. Como resposta, em julho de 2017 foram transferidos 27 líderes de organizações criminosas na Operação Pulso Firme. Era a primeira vez que o Estado fazia envio em massa de detentos para penitenciárias federais.

"Foi um marco no enfrentamento do crime e um sinal para as facções de que o medo tinha que mudar de lado. Quem tem que ter medo é o crime. Quando o poder público recua, o crime ocupa espaço. Quando o poder público avança, o crime recua" —  avalia Schirmer.

Ainda em 2017, foi criado programa para estreitar a cooperação entre Estado e município na segurança e incentivar a implantação de videomonitoramento e cercamento eletrônico, como estratégia para evitar crimes, especialmente assaltos e roubos de veículos. Naquele ano, indicadores como roubos e latrocínios começaram a apresentar queda, mas o recuo acentuado, envolvendo homicídios e roubos de veículos, aconteceu em 2018. A taxa de assassinatos caiu de 26,4 por 100 mil habitantes para 20,9.

Período atual

Às 7h, todas as manhãs, Ranolfo recebe um boletim com os crimes violentos registrados no Estado nas últimas 24 horas. Vice-governador, acumula a pasta da Segurança Pública desde o início do governo, em janeiro de 2019. Delegado de polícia desde 1998, foi diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e chefe da Polícia Civil por quatro anos (2011 a 2014).

Monitorar onde o crime vem concentrando as ações para costurar uma resposta é uma das estratégias adotadas pela atual gestão. Ranolfo afirma que a aposta tem sido em três “i”: inteligência, integração e investimentos. Para isso, em fevereiro de 2019, o governo lançou o RS Seguro, um programa dividido em quatro eixos, para conter a violência no Estado.

Uma das premissas do programa, para combater o crime, é o foco na territorialidade. Foram selecionados 18 municípios mais violentos para aplicar estratégias como mapeamento da criminalidade e maior integração entre polícias – em 2020, esse número foi ampliado para 23 cidades. Também receberam reforço de efetivo, e reuniões mensais de Gestão Estatística em Segurança (Geseg) são realizadas para analisar resultados e planejar alternativas.

"Tudo isso é evidência científica: que horas aconteceu o roubo, em qual local, que dia. Podemos analisar o que está dando certo e o que não deu resultado, para corrigir" — avalia Ranolfo.

A estratégia deu resultado e a maior parte dessas cidades puxou o indicador de assassinatos e de outros crimes, como roubos de veículos, para baixo. Outro crime que assolava especialmente municípios do Interior também apresentou queda significativa nesse período: os roubos a banco. 

A Operação Angico da Brigada Militar é umas das estratégias que têm permitido antecipar o movimento de quadrilhas especializadas em ataques a banco, frustrando planos dos criminosos. Em 2020, pela primeira vez em toda a série de contabilização, o Estado fechou um ano com menos de 50 ocorrências. No mesmo ano, a taxa de homicídios se consolidou abaixo de 15 pela primeira vez em 11 anos e outros indicadores foram mantidos em baixa.

"A maneira de aferir segurança pública em todo o mundo é através da taxa de homicídio. Ao conquistarmos essa redução inédita, depois de alguns anos muito difíceis, é um indicativo de que o nosso programa RS Seguro está dando certo" — disse o vice-governador à imprensa nesta quinta-feira, quando os dados foram apresentados.

Embora o governo não credite a queda dos indicadores à menor circulação de pessoas durante o período de distanciamento social, por entender que os grupos criminosos seguiram agindo, a pandemia ainda pode trazer impactos à segurança pública em 2021. Um dos receios é sobre como a crise econômica poderá refletir nos índices de violência. O tema demanda atenção dos órgãos de segurança.

"O desemprego gera desdobramentos na segurança. Monitoramos isso em todo o ano de 2020. Das 27 unidades federativas, 22 tiveram aumento de homicídios. Em 2021, não se sabe até quando a pandemia vai avançar, se a economia vai ser retomada na integralidade. Isso tudo pode ter reflexo na área da segurança. Até agora, no RS, posso afirmar que não teve" —  afirma Ranolfo. 

Desafios da segurança

Investimentos

Manter investimentos e tentar repor o déficit histórico de servidores na área da segurança pública, num cenário de crise, é considerado um dos principais desafios da pasta. Ao longo da década, houve períodos tensos nos quais agentes da segurança protestavam e pressionavam o governo por melhores remunerações. Em 2011, os PMs alegavam ter o pior salário do Brasil, com um inicial de pouco mais de R$ 1 mil.

De lá para cá, a situação melhorou, com reajustes aprovados na gestão Michels, mas, em 2015, as categorias voltaram a protestar, desta vez por conta do congelamento e do parcelamento de salários, devido à crise enfrentada pelo RS. Em novembro de 2020, após quase cinco anos, salários voltaram a ser pagos em dia. Para 2021 e 2022, há um calendário de chamamento de 3.112 servidores da segurança pública. A defasagem na BM é de pouco menos de 50% e, na Civil, de cerca de 40%.

"Não é a situação ideal, mas temos que pelo menos ir mantendo os efetivos e o investimento. Depois de 57 meses, conseguimos colocar o salário em dia.  A abnegação dos servidores também precisa ser destacada. Mesmo recebendo parcelado, atrasado, em meio a uma pandemia, eles seguiram trabalhando com qualidade" —  reconhece Ranolfo.

Uma aposta para manter os investimentos em veículos e armamentos é o Programa de Incentivo ao Aparelhamento da Segurança Pública (Piseg). Em um ano, foram obtidos quase R$ 10 milhões em arrecadação por meio de compensações de ICMS de empresas. 

Outra forma de garantir os investimentos é por meio de apoio das bancadas. Em janeiro, as primeiras viaturas semiblindadas foram entregues à Polícia Civil — os 45 veículos foram adquiridos com verbas obtidas pela bancada parlamentar gaúcha na Câmara Federal, num investimento de R$ 6,1 milhões. O governo pretende entregar mais 73 viaturas semiblindadas até fevereiro para BM e PC.

"É importante para proteger o operador de segurança. Dar segurança a quem faz segurança" — afirma Ranolfo.

Crime organizado

Mesmo de dentro das prisões, as organizações criminosas coordenam o crime do lado de fora. Este é um dos gargalos da segurança. Ainda que os embates entre as facções tenham reduzido, não significa que perderam força. Um dos fatores atribuídos à redução dos enfrentamentos é uma espécie de profissionalização do crime, mais interessado no lucro do que nos conflitos.  

Os dois últimos governos aderiram à transferência de presos para penitenciárias federais. Além da Operação Pulso Firme, em 2017, no ano passado duas etapas da Império da Lei removeram mais 27. Mas a medida é temporária, já que eles regressarão ao Estado em algum momento e outros podem ascender na facção. As polícias também monitoram, nos últimos anos, a aproximação entre essas facções do RS e criminosos de fora do Estado.

Neste cenário, descapitalizar os grupos é a forma de atingir a cadeia do crime até o topo. Um movimento percebido pela polícia é a aquisição de bens e propriedades, no Interior, para mascarar esses valores. Em agosto de 2019, foi inaugurada a Divisão de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro.

Combater e controlar o crime organizado é também uma forma de manter os indicadores de homicídios em queda.

"A atuação da inteligência tem sido muito forte, em mapear as organizações criminosas, saber quem é quem. Todo homicídio é estudado, com troca de informações com a Polícia Civil. Não aceitamos esse discurso de que isso é morte do tráfico. Não pode ter morte nenhuma. Não interessa se é do tráfico. Buscamos entender se é uma guerra entre organizações ou se é só cobrança de dívidas. E o que pode acontecer a partir daquela morte, se pode gerar outras. Isso nos permite dar uma pronta resposta" — afirma o comandante-geral da Brigada Militar, Rodrigo Mohr Picon.

Sistema prisional

A superlotação de unidades prisionais e a dificuldade em barrar o acesso a celulares e drogas dentro das cadeias ainda é um gargalo a ser enfrentado. A complexidade do tema fez o governo desmembrar o sistema prisional da segurança pública em 2019. Nos últimos dois anos, um dos dilemas enfrentados foram presos mantidos em viaturas e delegacias da Região Metropolitana. Muitas vezes custodiados por PMs, à espera de vaga no sistema.

Em agosto de 2020, com quase nove meses de atraso, a inauguração da Penitenciária de Sapucaia do Sul, com vaga para 600 detentos, permitiu desafogar esses locais. A prisão vem funcionando como um centro de triagem. 

O governo projeta a construção de outro espaço, o Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), em Porto Alegre, com 700 vagas disponíveis para a "passagem" de presos antes da entrada no sistema. Segundo o secretário da Administração Penitenciária, Cesar Faccioli, o projeto está em fase final de contratação do responsável pela obra. O governo espera iniciar a construção em breve e finalizar em cerca de oito meses, ainda neste ano.

Uma das metas, diz Faccioli, é também reestruturar a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), para que volte a ser considerada de alta segurança. O uso de tecnologia para conter o ingresso de ilícitos é uma das apostas da gestão. Foram instalados oito scanners corporais, e cinco bloqueadores de celular estão em processo de aquisição - a única unidade que conta com o bloqueio de sinal telefônico é a Penitenciária Estadual de Canoas.  

Violência doméstica

O combate à violência doméstica evoluiu na última década no país e no Estado. No RS, em 2012 foi criada a Patrulha Maria da Penha da Brigada Militar para fiscalizar as medidas protetivas. Em 2017, o feminicídio entrou para o Código Penal como qualificadora do homicídio — ou seja, quem comete esse tipo de crime está sujeito a pena mais severa.

O ano mais crítico para esse tipo de crime foi em 2018, quando 116 mulheres foram mortas no RS. Em 2019, foi criado o projeto Sala das Margaridas, implantado em 22 delegacias, onde mulheres são atendidas em espaço reservado. Atualmente, há 23 delegacias especializadas da Polícia Civil. As patrulhas da BM foram ampliadas para 108 cidades. 

Nos últimos dois anos, houve redução e o Estado chega a 2020 com 76 casos. O feminicídio é o único indicador da violência doméstica não subnotificado. Entre os demais crimes, estima-se que somente 10% sejam registrados. A maioria das vítimas se cala.

"Nos últimos anos, a discussão do tema fez com que evoluísse e a Lei Maria da Penha foi um divisor de águas. Fez a sociedade entender que o feminicídio não é passional, é repugnante. O que nós buscamos é equidade. Não queremos morrer pelo fato de sermos mulheres. Infelizmente, isso ainda acontece, por conta do sentimento de posse sobre elas. Evoluímos, sim, mas temos a evoluir ainda. A tendência é de que as próximas gerações colham esses frutos" — analisa a delegada Nadine Anflor, primeira mulher a se tornar chefe da Polícia Civil do RS.

Cidades de todas as regiões voltam a registrar panelaços contra Bolsonaro

Manifestantes cobram impeachment

Autoridades e famosos convocaram

Protestos em todas as regiões do Brasil

Cidades em todas as regiões do Brasil voltaram a registrar panelaços contra o presidente Jair Bolsonaro na noite desta 6ª feira (15.jan.2021).

O protesto foi convocado por famosos e políticos de oposição nas redes sociais para às 20h30. O movimento pressiona pela abertura de um processo de impeachment e por agilidade na aquisição de vacinas contra a covid-19.

A pauta tomou força depois de hospitais em Manaus, no Amazonas, entrarem em colapso, sem oxigênio suficiente para atender todos os pacientes.

Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Rio Branco, Maceió, Vitória, Goiânia, São Luís, Belo Horizonte, Belém, Curitiba, Recife, Teresina, Natal, Florianópolis, Palmas e Aracaju registraram os protestos.

Essa já é pelo menos a 9ª vez que manifestações do tipo foram registradas contra Bolsonaro. A 1ª aconteceu em 17 de março de 2020. No dia seguinte, apoiadores do presidente também promoveram 1 panelaço a favor do governo.

última manifestação foi registrada em 7 de setembro de 2020, quando o presidente fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Privatização, uma história de grandes fracassos (por Rodrigo Henrique Costa Schley*)

Os casos citados são muito simbólicos pois explicitam a diferença entre a lógica dominante em uma empresa privada e a lógica de uma empresa pública. Enquanto as empresas públicas são criadas com o compromisso de desenvolverem o país fornecendo energia mais barata, segura e de qualidade (existe uma grande preocupação com a prevenção a situações de contingência como a ocorrida no Amapá), as empresas privadas são criadas com o objetivo principal de extraírem o máximo de lucro possível de um negócio, seja esse negócio uma banca de frutas ou uma concessão de energia elétrica. Dessa forma, corta-se gastos considerados “desnecessários”, empurra-se problemas estruturais com a barriga, minimiza-se os gastos com pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, tudo em nome de uma maior lucratividade no curto prazo.

Depois que o desastre acontece, quem sempre é chamado a resolver o problema é o bom e velho Estado. No Amapá, foi a estatal Eletronorte (braço da Eletrobrás) que teve que providenciar unidades termelétricas e transformadores para reabastecer o estado (caso a Eletrobrás já tivesse sido privatizada essa ação seria muito mais difícil). Além desses casos emblemáticos, tivemos recentemente situações de crise energética em Goiás e no Piauí, todas envolvendo empresas privatizadas.

Casos como os expostos acima podem muito bem virar realidade no Rio Grande do Sul caso a CEEE venha a ser privatizada. Ao repassar uma empresa para o capital privado, o Estado se desresponsabiliza pelos investimentos e pela gestão social da empresa, que passará a ser gerida conforme a prioridade dos seus acionistas e não da população gaúcha. 

Os diversos casos de crise envolvendo empresas privatizadas mostra que o descaso e a falta de compromisso com a população não é um mero acaso no histórico de privatizações no país, mas constitui-se praticamente como uma regra.


(*) Articulador da Frente em Defesa da CEEE e do Estado do RS

Crack: Cocaína, Corrupção e Conspiração estreia hoje na Netflix

No início da década de 80, a epidemia de crack assolou os bairros mais pobres das cidades americanas, deixando um rasto de devastação. Décadas mais tarde, os efeitos destrutivos nas vidas, famílias e comunidades ainda se fazem sentir com força.

"Crack: Cocaína, Corrupção e Conspiração", é um novo documentário que faz hoje a sua estreia na Netflix, e examina não só os efeitos nocivos causados pela droga a nível pessoal, mas também as origens obscuras da crise e a subsequente marginalização de afro-americanos e latino-americanos, que se veem incapazes de escapar dos sistemas prisionais e de saúde dos EUA.

Crack: Cocaína, Corrupção e Conspiração já está na Netflix

Este documentário pretende, ao longo de 89 minutos, examinar os efeitos nocivos causados pela droga a nível pessoal, mas acima de tudo perceber a relação que existe entre o surgimento da nova substância e a marginalização de afro-americanos, e latino-americanos, que se veem incapazes de escapar dos sistemas prisionais e de saúde americanos.

Lança ainda um olhar crítico sobre o papel dos governos central, e local, estadual e federal, na luta contra as drogas, naquela época pode elucidar-nos sobre um grave problema que ainda existe nos dias de hoje.

Pode assistir ao trailer deste filme documental aqui.

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sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Evolução de Informações sobre o Coronavírus (COVID-19), no RS, Brasil e no Mundo (08/01)

23/12 - Brasil: 7.318.821 ób.: 188.259 RS: 416.000 ób.: 8.260

08/01 - Brasil: 7.961.673 ób.: 200.498 RS: 465.337 ób.: 9.226

Casos confirmados no mundo: 78.105.462 (23/12) hoje 88.140.964; óbitos: 1.719.278 (23/12) hoje 1.900.380

Óbitos no Mundo (os 6 primeiros)
EUA:
 322.849 (23/12) hoje 365.321
BRASIL: 188.259 (23/12) hoje 200.498
ÍNDIA: 146.444 (23/12) hoje 150.570
MÉXICO: 119.495 (23/12) hoje 131.031
REINO UNIDO: 68.409 (23/12) hoje 78.633
ITÁLIA: 69.842 (23/12) hoje 77.291

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Dez anos após megaoperação, Justiça reconhece prescrição de crimes de tortura em cadeias de Caxias do Sul

Na época, 35 agentes penitenciários foram denunciados e afastados das funções, mas processo nunca analisou provas ou oportunizou defesa. Quantidade de réus, sobrecarga de processo e falta de juízes estão entre as explicações para a extinção da punibilidade.

Em uma das operações mais abrangentes do sistema prisional caxiense, 254 policiais militares de Porto Alegre subiram a Serra em 17 de junho de 2010 e invadiram a, na época, Penitenciária Industrial de Caxias do Sul (a antiga Pics). Liderada pelo Ministério Público (MP), a força-tarefa buscava provas de crimes de corrupção que estariam acontecendo na Pics e também na Penitenciária do Apanhador. Seis meses depois, 35 agentes penitenciários e três apenados foram denunciados por tortura, narcotráfico e formação de quadrilha. Pouco mais de dez anos após a denúncia, o processo não teve nenhuma audiência e a 2ª Vara Criminal reconheceu que os crimes prescreveram. O resultado: o Estado perdeu, em primeira instância, o direito de responsabilizar os réus. O formato da denúncia que dificultou o cumprimento de mandados, o volume excessivo de processos na vara responsável pelo andamento do processo e a falta de juízes são as explicações para uma megaoperação terminar sem culpados.

A decisão pela extinção da punibilidade foi assinada pela juíza Gabriela Irigon Pereira em 19 de novembro de 2020. A magistrada argumenta que sequer foi iniciada a instrução do processo (quando seriam citados os réus para apresentarem defesa), que a maioria dos réus mora fora de Caxias do Sul (o que dificulta intimações e audiências) e que a pauta de audiências da 2ª Vara Criminal já está preenchida até junho de 2022. Ou seja, o processo ultrapassaria os 12 anos sem sequer analisar as provas ou apresentação de defesa dos acusado. Gabriela explica que, ao final do processo, as penas seriam abaixo de quatro anos, o que levaria a prescrição conforme estabelecido no artigo 109 do Código Penal.

"Foi uma operação muito grande e a ação penal foi feita de uma forma que, na prática, não funciona. Depois de alguns anos, se percebeu que este formato não funciona e já não se trabalha mais assim. Não se denunciam 38 pessoas na mesma ação penal, porque isso inviabiliza o resultado. Não temos estrutura para 38 mandados de citação, 38 advogados peticionando no mesmo processo, 38 pedidos de carga, pedidos de vista, numa época que o processo era físico. Torna lenta demais a tramitação" — explica a magistrada.

Outra dificuldade foram os quase três anos em que a 2ª Vara Criminal ficou sem um juiz titular entre 2014 e 2016. No período, a Vara foi atendida em substituição pelo juiz da violência doméstica, que desta forma não tinha tempo suficiente para atender a um processo tão volumoso e sem réus presos.

"Quando cheguei em 2016, tentamos desmembrar em processos menores. Esses 38 réus viraram grupos de réus para cada crime imputado. Se desmembrou em 11 novos processos para tentar dar o andamento e buscar um resultado final exitoso, que é uma sentença de mérito, seja condenatória ou absolutória. Só que, depois de seis anos, nenhum dos réus estava mais em Caxias do Sul."

Quando um réu mora em outra cidade, o instrumento utilizado pela Justiça são as cartas precatórias. Trata-se de um pedido feito pelo magistrado ao juiz de outra cidade, para que aquele Fórum intime o acusado do processo. A juíza Gabriela aponta que o vai e vem de documentos não funciona em um processo com tantos réus.

"A nossa estrutura em um processo físico é deficitária, numa vara grande mais ainda, que ficou tanto tempo sem um juiz titular e num processo desse tamanho... O risco de prescrição é muito grande. Depois de quatro anos remando nestas precatórias, chegamos a conclusão que era tarde demais, se perdeu a chance de dar uma resposta" — admite a magistrada.

Prevista em lei, a prescrição é a perda do direito estatal de punição, que é calculada conforme a pena prevista para o crime denunciado. Quando a Justiça perde o prazo para o julgamento, o réu não é nem condenado, nem absolvido, a sentença é extinção da punição. É uma sentença administrativa.

Provas não foram analisadas e réus não foram oportunizados a se defender

Ao contrário do que geralmente ocorre, neste caso a culpa da demora não foi da defesa. Apesar de reconhecer que há muitos subterfúgios de advogados que são legítimos, mas atrasam o trâmite de um processo, a juíza da 2ª Vara Criminal aponta que o processo não chegou sequer nesta etapa.

"O que aconteceu nesse caso, que nos engessa, é que são precatórias de citação, que é o início, quando o réu formalmente é cientificado que está sendo acusado de um crime. Essa peça é obrigatória, sob pena de nulidade, e se ele mora em outra comarca precisa ser citado por carta precatória. Até isso acontecer, realmente o processo não vai andar. Nesse caso, a maioria dos réus estava pendente de precatória ou de intimação para apresentar resposta à acusação, pois é um direito se defenderem nos autos. 

Como não se iniciou a fase de instrução do processo, as provas apresentadas pela investigação policial também não foram analisadas. Conforme a denúncia assinada por 12 promotores de Justiça, existiam vídeos de detentos sendo espancados por agentes penitenciários, documentos falsos, interceptações telefônicas e depoimentos de presos."

"A prova inicial foi feita na fase do inquérito e há indícios de um crime que pode ser grave. Mas, a prova judicial nunca se chegou nesta fase. Não se pode falar em falha da polícia ou do MP na investigação e confecção de provas. O problema foi (a denúncia) ser feita neste formato com tanto réus, em uma vara esgotada, com volume excessivo de processos, e numa vara sem titular por muito tempo."

O que diz o MP

Procurado pela reportagem, o Ministério Público afirma que recorreu da decisão judicial de prescrição e aguarda julgamento do recurso. A acusação está sob responsabilidade de dois promotores de Porto Alegre que não quiseram se manifestar sobre o processo e não foram identificados pelo órgão.

Réus devem postular indenização

Uma decisão de prescrição só agrada aqueles que são culpados dos crimes que foram acusados e, assim, escapam da prisão. Para aqueles que são inocentes ou tiveram participação menor nos fatos relatados, a decisão extingue a oportunidade de provar sua inocência.

Com exceção dos três denunciados que eram apenados na época e continuaram presos por outros crimes, os outros 35 réus eram agentes penitenciários que não possuíam antecedentes criminais. Alguns deles sofreram sanções administrativas da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), incluindo exonerações, outros foram transferidos para outras cidades gaúchas e teve os que optaram por antecipar suas aposentadorias para evitar constrangimentos. Três réus morreram ao longo dos 10 anos de processo.

"Foi o que sempre dissemos: 'a montanha pariu um rato'. Naqueles dias da investigação parecia que tinham encontrado fatos gravíssimos. No decorrer do processo, foi verificado que a gravidade era menor e várias alegações não ficaram comprovadas. Resultou a ser um processo que não foi prioritário. Perdeu a gravidade inicial pela prova inconsistente. Passou a ser secundário o que ocasionou esta prescrição" — afirma o advogado Vitor Hugo Gomes, que representa quatro réus.

O defensor argumenta que a prescrição num caso deste equivale a uma absolvição e que os acusados podem ter direito a serem ressarcidos dos prejuízos que tiveram.

"Até eventuais indenizações (por parte do Estado). Claro, eles não querem aparecer diante desta situação toda. Mas referem diversos problemas diante desta situação (de acusação), tanto financeiros quantos psicológicos. Muitos ficaram desempregados, sem dinheiro e moralmente abalados diante da sociedade. Um dos colegas deles se suicidou neste período, fato que foi noticiado e a provável causa é este processo" — relata Gomes.

Um dos réus considera que a investigação "foi enganada por um grupo de marginais". Após o afastamento das funções de agente penitenciário, o homem de 36 anos virou advogado e trabalha em Porto Alegre. Assim como os demais denunciados, ele pede para ter a identidade preservada para não ser ainda mais exposto.

"Os marginais que se diziam vítimas de tortura estavam, na verdade, tentando algum tipo de benefício. Esses servidores afastados eram atuantes, combatiam o tráfico de drogas naquela cadeia e, por esta razão, não eram bem vistos por aquela massa carcerária. É a desculpa mais batida dentro do sistema prisional, inventar uma situação de vítima de agressão ou maus-tratos para tentar ser transferido ou conseguir algum benefício. É uma inversão de valores muito grande" — defende-se.

O réu lembra que as denúncias aconteceram após a inauguração da Penitenciária Estadual do Apanhador, cadeia que prometia ser modelo de cumprimento de pena, mas hoje é base para facções criminosas ordenarem seus crimes. Sobre a decisão de prescrição, o advogado declara que "o próprio MP percebeu o erro e deixou o tempo resolver".

"É um misto de indignação com justiça. Indignação porque perdemos colegas ao longo deste processo, vítima da depressão causada por este processo degradante que deixou um rastro de destruição muito grande na vida destas pessoas. Ao mesmo tempo é de alívio e justiça, porque ninguém foi punido por essas mentiras de marginais. Por isso iremos atrás dos nossos direitos. Queremos reparar a questão administrativa que muitos servidores sofreram" — afirma o réu, que garante que a inocência dele e dos colegas teria sido provada caso o processo tivesse tramitado de forma célere.

Prescrição é comum em crimes com pena menor

A prescrição de um crime pela demora no andamento de processos é a derrota da Justiça criminal. Infelizmente, com varas criminais sobrecarregadas e poucos juízes, essa é uma realidade enfrentada no judiciário gaúcho. A situação é mais comum em crime de menor potencial ofensivo, justamente por suas penas baixas.

"Existe mais do que deveria. A prescrição nos acompanha em varas criminais, principalmente em processos de crimes de penas mais baixas. Em casos de roubos, crimes sexuais e tráfico, é muito difícil prescrever. Mas em crimes de furto, receptação e estelionato, e crimes de trânsito, as chances de prescrição são bem maiores. A razão é esse excesso de processos em tramitação" — admite a juíza Gabriela.

Para evitar a extinção de punibilidade, principalmente em casos de grave violência, o Poder Judiciário conta com três estratégias:

Plataforma virtual
A adoção da tecnologia pelo sistema judiciário gaúcho foi acelerado pela pandemia de coronavírus. O Tribunal de Justiça planeja a digitalização de todos os processos, inclusive os criminais que até então era postergado. Desta forma, o acesso aos autos e o envio de documentos ficam mais fáceis. Mais que isso, o distanciamento social levou a praticamente todos os juízes a manusear uma plataforma para realização de audiências por videoconferência:

"É algo positivo diante desta pandemia. Ao permitir que se ouça uma testemunha que mora em outra comarca no ato, que a audiência seja feita com réus em casas prisionais diferentes, com uma vítima numa outra cidade, com o seu advogado em outra comarca, todos lincados nesta plataforma virtual... Foi um ganho muito grande. Com processos eletrônicos e audiências virtuais, se reduz bastante o tempo de tramitação, é muito mais rápido a ciência dos atos e irá reduzir este tempo das precatórias. Pois, agora, podemos fazer a intimação por telefone, por um aplicativo de envio de imagem. O êxito é grande, estamos vendo um resultado muito positivo" — exalta a juíza Gabriela.

Mudança nas denúncias
Essa é uma postura aperfeiçoada com o tempo. O Ministério Público têm evitado fazer denúncias com dezenas de réus. Mesmo em casos de conluio ou crime organizado, a denúncia é feita em grupos separados por cada crime investigado e datas que ocorreram. Segundo a juíza Gabriela, o ideal são grupos de quatro ou cinco réus.

Vara contra o crime organizado
Outra mudança estudada pelo Tribunal de Justiça é uma vara especializada contra o crime organizado. Este colegiado com cinco juízes atenderia a esses processos mais complexos e que demandam ter um número maior de réus. A escolha é por transformar a 17ª Vara Criminal de Porto Alegre em uma vara de competência estadual, para atender a todo o estado.

"Este tipo de processo irá migrar para esta vara que conta com cinco juízes que atuarão em colegiado para sua segurança. Irá dar um resultado muito positivo, pois são processos grandes, com muitos réus. O nosso cartório, por vezes, atua um dia inteiro em um único processo desses, pois toma muito tempo. Essa migração, portanto, ajudará a dar vazão da nossa demanda" — aponta a juíza da 2ª Vara Criminal de Caxias do Sul.

RELEMBRE O CASO

16 de abril de 2010 - Vídeos de agentes penitenciários agredindo apenados da Penitenciária Estadual do Apanhador são vazados para o público. O caso teve repercussão nacional. Dois dias depois, foi realizada uma intervenção e a Brigada Militar assumiu o controle da maior cadeia da Serra, que havia sido inaugurada em 2008 para ser um modelo para o Estado.

18 de junho de 2010 - Uma megaoperação acontece ao amanhecer, com a entrada de 254 policiais militares de Porto Alegre na Penitenciária Industrial de Caxias do Sul. As buscas por documentos e prova era resultado de uma investigação iniciada em 2009 sobre corrupção de agentes penitenciários, regalias e espancamentos de presos. Três apenados de confiança destes agentes penitenciários foram transferidos. Ninguém foi preso.

7 de dezembro de 2010 - A investigação sobre a Pics e o Apanhador resulta na denúncia de 35 agentes penitenciários e três detentos. O grupo é acusado de formar uma quadrilha que torturava presos nas duas cadeias caxienses. Os supostos crimes eram encobertos por registros manipulados. Os fatos foram descobertos a partir de depoimentos de presos, por interceptações telefônicas e pela apreensão de documentos durante a megaoperação. A denúncia foi assinada por 12 promotores. Entre os fatos relatados, estão surras de "boas-vindas" a detentos transferidos, repasse de armas para "presos de confiança" e registros de ocorrências policiais como autolesões de apenados.

11 de abril de 2011 - O afastamento dos 35 agentes penitenciários envolvidos nas denúncias de tortura contra apenados foi publicado no Diário Oficial do Estado.