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terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Justiça

Na primeira cena do documentário Justiça, de Maria Augusta Ramos, todo ele com cenas reais de audiências judiciais, vemos um homem negro que deve responder a perguntas de um juiz em um processo criminal no Rio de Janeiro. O magistrado pergunta se a denúncia é verdadeira, ao que o réu, prontamente, responde “não, não é verdadeira não, senhor.”

Presídio Central: enfim, a decisão corajosa de uma juíza enfrenta a lotação desumana da pior cadeia da América Latina

Então, o juiz quer saber como se deu a prisão, ao que o acusado responde que estava na rua, no carnaval, que “saiu uma correria”, que alguns policiais estavam atirando, que procurou uma rua lateral para se proteger quando três homens, que fugiam da polícia, passaram por ele. Na sequência, foi preso; o único preso.

O primeiro detalhe: os fugitivos eram suspeitos de terem praticado um arrombamento após a escalada de um muro. O segundo detalhe: o homem negro preso é cadeirante, não tem uma perna e a outra é tão fina que parece só osso.

O réu começa a relatar ao juiz que os policiais o derrubaram da cadeira de rodas e bateram nele, produzindo lesões. Nisso, é interrompido pelo magistrado que, impávido, dita o depoimento, omitindo todo o relato e fazendo constar apenas a negativa de autoria e a afirmação de que o réu não conhecia os três “elementos”.

O homem negro solicita que seja determinada sua remoção para um hospital, porque, na 25ª delegacia, onde ele está preso preventivamente, há 79 pessoas na cela e ele precisa se arrastar para defecar.

O magistrado, então, diz: “Só posso fazer isso se houver uma solicitação médica, porque esse é um assunto médico, não um assunto de juiz”. Depois disso, o juiz pergunta há quanto tempo o réu está na cadeira de rodas. O homem responde que é cadeirante desde 1996.

O magistrado, então, aparentando surpresa, pergunta: “Mas o senhor estava na cadeira de rodas quando foi preso?”  “Claro, doutor, estava na cadeira.”

Possivelmente, o tema também não constituía “assunto de juiz”, afinal, o que a situação kafkiana de um cadeirante estar sendo acusado de um arrombamento com escalada tem a ver com a noção de Justiça?

O que a condição de 79 pessoas empilhadas em uma carceragem de uma delegacia de polícia constitui “assunto de juiz”?

E o que uma denúncia de uma pessoa com deficiência que afirma ter sido espancada por agentes encarregados de fazer cumprir a lei tem a ver com o ofício do burocrata que imagina “aplicar a lei”?

Alguém poderia pensar que essa seja uma situação anômala, um ponto fora da curva. O trabalho de Maria Augusta Ramos, não apenas esse Justiça, mas também Juízo, seu documentário mais recente, ambos disponíveis na Netflix, sugere que não. O que vemos na tela, em audiências reais com câmera fixa nos operadores do Direito, é um padrão no tratamento com os pobres e os negros.

Os efeitos de uma postura correta e respeitosa de uma autoridade pública sobre as pessoas são surpreendentes. As pesquisas do professor Tom Tyler (Yale University) demonstraram que, quando autoridades agem de forma justa e respeitosa, essa conduta aumenta a adesão das pessoas à lei, fazendo com que elas tendam a obedecer às autoridades, mesmo diante de decisão contra seus interesses.

O livro de Tyler (2006) Why People Obey the Law (Por que as pessoas obedecem à lei) inaugurou uma nova abordagem conhecida como Procedural Justice (Justiça Procedimental), demonstrando que comportamentos desrespeitosos, violentos e não profissionais de policiais, promotores e juízes prejudicam os esforços de aplicação da lei, porque reduzem as chances de as pessoas colaborarem com as investigações.

Ajuda ou humilhação

Para a Justiça Procedimental, é preciso dar voz às pessoas, e escutá-las com atenção. Os magistrados, especialmente, devem se manter equidistantes das partes, reduzindo os riscos de pré-julgamento. Explicando esses e outros princípios, a juíza Victoria Pratt, em palestra no projeto TED, conta a diferença entre perguntar em uma audiência a uma pessoa que tem pouca escolarização ou tem o inglês como seu segundo idioma:

O senhor está tendo dificuldade de entender essa papelada toda?” Ou simplesmente: “O senhor sabe ler?” Na primeira alternativa, a pergunta é uma oferta de ajuda; na segunda, uma humilhação. Essa forma de se relacionar com as pessoas mais simples e humildes pode mudar a qualidade do acesso à justiça.

Lembrei disso porque, recentemente, a juíza Sonáli da Cruz Zluhan, da 1ª Vara de Execuções de Porto Alegre, atendendo a pedido da Defensoria Pública e aplicando jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, determinou que cada dia de pena cumprida no Presídio Central seja contado em dobro, tendo em conta a superlotação e as condições desumanas de execução da pena.

A decisão, imediatamente contestada pelos adeptos do “estado inconstitucional de coisas” em matéria penal, representa um gesto de racionalidade e de respeito em um sistema que, há muito, tem dificuldades de se conectar com a realidade da execução penal e com seus efeitos criminogênicos.

A boa notícia, portanto, é: sim, temos juízas e juízes dispostos e mudar isso. Talvez sejam poucos, mas que diferença elas e eles fazem!

Marcos Rolim é jornalista, doutor em Sociologia. Escreve mensalmente para o jornal Extra Classe 

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Controle de presídios por facções é resultado da ausência do Estado, admite Jungmann

Lotação carcerária e facções que comandam o crime organizado de dentro das cadeias são alguns dos problemas do sistema prisional brasileiro e que precisam ser combatidos. Para isso, existem, pelo menos, quatro medidas para tentar solucionar esta crise.

Em entrevista exclusiva ao Jornal da Manhã, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que “a ausência do Estado leva a esse tipo de problema” com facções “recrutando” novos apenados, por exemplo.
Segundo ele, o sistema prisional deveria atuar como um “subsistema” de Justiça e servir para ressocialização, mas, em nível federal, “é o home office” do crime organizado.
 “A primeira coisa [a fazer] é o Estado recuperar o controle. Como o Estado não consegue garantir a vida do preso, quem vai garantir são as facções. Quem foi para lá por furto, por exemplo, tem que fazer juramento a facções, e isso vale dentro e fora do presídio. Então a ausência do Estado é que leva a esse tipo de problema”, disse.
Essa é minha nêmesis, o que me tira o sono”, completou o ministro.
Você tem dois sistemas penitenciários, um é federal. Neste não tem celular, não tem nenhum tipo de problema, mas nas 1,3 mil unidades prisionais dos Estados a situação não é a mesma. Temos situação muitíssimo grave. Brasil tem 70 facções de base prisional, elas surgem, crescem e controlam o sistema prisional”, explicou.
Para controlar a situação, Jungmann apresentou quatro pontos, entre eles está a criação do Sistema Único de Segurança, que permite que integre as operações no plano federal e estadual.
É preciso que se entenda que o Governo federal não tem poderes para interferir no sistema prisional dos Estados. O sistema vai nos possibilitar trabalhar em conjunto com Estados”, completou.
O segundo ponto é o projeto de lei que está no Congresso, de autoria de Alexandre de Moraes, que institui o parlatório dentro do sistema prisional. 
Brasil tem a jabuticaba que é a visita íntima e social. Extinguir isso e colocar um parlatório gravando tudo”, explicou.
O terceiro ponto para solucionar a crise seria colocar, pelo período de um ano, os chefes de facções criminosas em presídios de segurança máxima.
Ampliar as atividades laborais dentro e fora dos presídios é o último ponto apresentado pelo ministro.
Se presidiário chega lá dentro, não tem segurança e precisa de facção, se ele não gera renda e não tem trabalho, mais ainda fica na mão de facções. Acabamos de criar, por decreto, a política de trabalho para presos e egressos”.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Terceira casa prisional de Caxias do Sul

Consulta à população sobre presídio

A prefeitura de Caxias do Sul vai lançar na segunda-feira consulta popular nas redes sociais para ouvir a opinião pública sobre a construção de uma terceira casa prisional na cidade.
A assessoria de comunicação disse que o prefeito Daniel Guerra pretende saber se os moradores querem ou não um novo presídio no município. A forma como se dará a consulta, que rede social será utilizada e como serão filtradas as opiniões - para, por exemplo, considerar a posição somente de moradores de Caxias ou região - serão divulgados amanhã.
A medida surge depois de a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) acenar com a possibilidade da construção que terá verba federal em Caxias, já que Osório, inicialmente credenciada, não teria interesse em sediar a casa prisional.
A estrutura será construída com recursos da União e terá 400 vagas. Caxias tem a vantagem de possuir um terreno já disponível, ao lado da atual penitenciária estadual.
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Poderia a construção um presídio em Farroupilha, Garibaldi, Carlos Barbosa, Bento Gonçalves, Antônio Prado ... e não em Caxias do Sul.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Operação mira envio de armas e fuga do Presídio de Alegrete

Investigação descobriu arremesso de armas e drogas para o interior da cadeia, além de possível plano de fuga em massa

A Polícia Civil realizou na manhã desta quinta-feira (26) a Operação Alcatraz em Alegrete, na Fronteira Oeste, nas dependências do presídio estadual da cidade. A ação contou com a participação de 73 policiais e agentes penitenciários.
A operação foi deflagrada com o objetivo de apreender armas, drogas, munição, armas artesanais e até explosivos caseiros. Neste ano, houve várias denúncias e algumas prisões de pessoas flagradas arremessando pacotes para o interior da casa prisional. 
O delegado Peterson Benitez diz que foi necessário agir com rapidez em função de uma possível fuga em massa do local. Segundo ele, presos arquitetavam a derrubada de parte do muro externo. 
Nesta manhã, Susepe e polícia fazem uma revista geral nas celas e nas demais dependências do presídio, que tem cerca de 200 pessoas detidas. O delegado Peterson Benitez informa que já foram apreendidos celulares, drogas e armas artesanais. Nas duas últimas semanas, duas pessoas foram presas tentando arremessar pacotes para dentro da casa prisional – dois homens tentavam repassar celulares e armas para os detentos. 
A polícia investiga o plano de fuga para tentar identificar os presos pretendiam derrubar o muro com o uso de explosivos. Uma pessoa, que tinha como meta arremessar artefatos explosivos por cima do muro do presídio, já foi identificada.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Piratini anuncia construção de presídios no RS

Governador Sartori confirmou que Estado terá mais três complexos, além de nova central de triagem

Por: Mateus Ferraz e Marcelo Kervalt/ZH
O governador José Ivo Sartori anunciou, na manhã desta segunda-feira (12), medidas para o sistema penitenciário gaúcho. Conforme o governador José Ivo Sartori, três presídios serão construídos no Rio Grande do Sul, além de um centro de triagem em Porto Alegre.
Charqueadas terá um presídio federal de segurança máxima, em área de 25 hectares, próximo à RS-401. A capacidade será para 208 apenados, de alta periculosidade. O investimento estimado no complexo é de R$ 40 milhões e é resultado da adesão ao Plano Nacional de Segurança Pública.
Sartori também confirmou a construção de presídio estadual em Viamão, com capacidade para 430 lugares, em área de 10 hectares. Os R$ 26 milhões das obras serão custeados com recursos federais.
O terceiro presídio anunciado pelo governador será em Alegrete. Em processo de licitação, o complexo estadual terá custo de R$ 16,5 milhões e será financiado pelo Estado e pela União. Com capacidade para 286 apenados, o lugar ficará em uma área de 10 hectares, próximo ao posto da Polícia Rodoviária Federal.
Ao todo, serão 924 novas vagas em penitenciárias.

Já o centro de triagem da Capital poderá abrigar 96 detidos. O investimento será de R$ 2,9 milhões, com recursos do Estado. O centro ficará em área anexa à Cadeia Pública de Porto Alegre e, segundo Schirmer, substituirá o ônibus-cela Trovão Azul.
"Não podemos descansar nem recuar. O enfrentamento da criminalidade precisa desse esforço diário, constante e concreto" — disse o governador durante a coletiva de imprensa.
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"Piratini anuncia construção de presídios no RS"... Em Charqueadas será o empregado o dinheiro para construção de Presídio Federal e está em processo de licitação, porém quanto às demais cidades, sequer há processo de licitação em andamento, nem dinheiro, como é o caso do presídio de Viamão. O presídio de  Alegrete é antigo, assim como os de Passo Fundo, Lageado, Bento Gonçalves, Canoas, etc. Assim, percebe-se que está mal a Segurança Pública e a Susepe.

Vejam o vídeo:

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Susepe confirma paralisação nas obras de presídio

Desde ontem, estão oficialmente paralisadas as obras da Penitenciária Estadual Masculina de Guaíba, cuja conclusão estava prevista para a metade deste ano. A informação foi confirmada pela Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe), porém sem informar os motivos da paralisação. O próximo passo, segundo o órgão, é rescindir o atual contrato com a Portonovo Empreendimentos e Construções, responsável pela obra, para depois encaminhar um edital para que outra empresa faça a conclusão dos trabalhos. A obra, iniciada em 2010, prevê a abertura de 672 vagas, em uma área de 14.390,71 metros quadrados. Mais de R$ 20 milhões já foram investidos no complexo.

Jornal do Comércio

sexta-feira, 29 de julho de 2016

"O corredor da prisão" coluna hoje de David Coimbra

Chame a associação protetora dos animais

Foto: Divulgação, BD / AgênciaRBS / AgênciaRBS
"Essa foto foi publicada tempos atrás pelo Tulio Milman, no Informe Especial. É um flagrante de um dos corredores do Presídio Central. Repare: é o corredor, não uma cela. Os homens estão ali porque as celas se encontram lotadas. Eles tentam dormir. Há detentos de pé, encostados às paredes. Outros jazem no chão cru. Os que estão de pé esperam sua vez de descansar. É preciso fazer revezamento, simplesmente porque não há espaço para todos.
Assim são as noites no Presídio Central.
Estou republicando essa foto exatamente para repisar o assunto, para repetir algo que venho dizendo há muito tempo: hoje, no Brasil, é mais importante construir presídios do que universidades.
Em primeiro lugar, por causa dos presos — por humanidade. As condições dos presídios brasileiros são tão ruins, que as sociedades protetoras dos animais deveriam se mobilizar em protesto. Nenhum bicho merece ser tratado dessa forma.
Em segundo, por sua causa. Sua, que digo, é você, cidadão honesto, contribuinte e trabalhador. Porque não há como resolver o problema de segurança pública sem resolver o problema dos presídios. É preciso haver lugar para acomodar os presos, e um lugar decente, porque uma das funções da pena continua sendo a regeneração.
Arrisco-me a dizer que 70% dos dramas brasileiros seriam resolvidos se fossem resolvidos os dramas da segurança pública. O trânsito seria desafogado, porque as pessoas não teriam medo de usar o transporte público. Haveria mais comércio de rua e mais consumo, porque haveria mais circulação. Até as cidades ficariam mais belas, porque não seriam necessários aparatos de segurança como essas feias grades na frente dos prédios.
Rode por Porto Alegre. É deprimente: Porto Alegre é uma cidade atrás de barras de ferro. Os cidadãos se protegem com cercas altas, algumas eletrificadas, outras com arame farpado, como campos de concentração.
Mais do que celulares, dinheiro e carros, roubaram a cidade do porto-alegrense.
A segurança pública é o dever número 1 do Estado. Mais do que educação, mais do que saúde, o Estado tem de garantir segurança e justiça.
A foto do corredor do Presídio Central demonstra que não há nem uma, nem outra por aqui. É a falência do Estado. E o pior: é o fracasso da sociedade."

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Por Sidinei José Brzuska

"O CASARÃO
Casarão de Fundação Patronato Lima Drummond
 O núcleo político, dos últimos três governos do Estado do Rio Grande do Sul, vem apostando no complexo prisional de Canoas, como alternativa para desconstruir o ícone negativo do sistema penitenciário que se tornou o Presídio Central.
Setores da imprensa, igualmente imediatista, surfam na mesma onda.
Mas, a despeito da ignorância governamental e da nossa falta de cuidado com a história, lentamente, por trás das árvores do bairro Teresópolis, como uma espécie de fênix, ressurge o velho casarão da Maria Tavares.
A história do casarão começou antes da existência do Presídio Central. É da época da antiga Casa de Correção. Desde então sempre se apresentou como uma alternativa viável. Ali sempre foi a melhor casa prisional do Estado. Um local de recuperação e de integração social.
Se há algum local que pode se tornar símbolo de mudança, de melhora e de esperança, ele está sintetizado nesse casarão, e não no complexo prisional de Canoas."

domingo, 24 de janeiro de 2016

Mais de 300 presas vão para casa por falta de condições de albergue no RS

Outras 75 estão em um local que não tem mais vagas, diz juiz.
Susepe nega superlotação e diz que prédio pode ser reaproveitado.

Do G1 RS

O vídeo:
http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2016/01/mais-de-312-presas-vao-para-casa-por-falta-de-condicoes-de-albergue-no-rs.html

A falta de vagas em albergues onde mulheres presas cumprem pena no regime semiaberto levou a Justiça a mandar para casa 312 detentas, que estão na rua, em prisão domiciliar ou com tornozeleiras eletrônicas. Outras 75 estão no Albergue Feminino de Porto Alegre, um local que não tem mais vagas, segundo o juiz Sidinei José Brzuska, Vara de Execuções Criminais (VEC).
"É uma questão física. Não cabe", diz o magistrado. "Qualquer pessoa percebe que é impossível você colocar três, quatro vezes mais presas aqui do que a capacidade do prédio", argumenta.
As presas consideradas perigosas ficam em um galpão, como explica a juíza Patrícia Fraga Martins. "Tivemos de achar um lugar, ainda que provisório, para colocar estas presas, então a única solução foi este local", afirma.
Nesta semana, a falta de vagas foi questionada pelo Ministério Publico. O prédio anexo do albergue feminino teria 150 vagas ociosas, segundo o Mapa da População Prisional elaborado pela Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe).
O prédio construído em regime emergencial no governo de Yeda Crusius (2007-2010) foi interditado pela Justiça em junho do ano passado e desocupado esta quase em ruínas. "isso aqui é uma edificação muito frágil", diz Brzuska. "O pessoal chamava pejorativamente de albergues de papel", (da Ana Pellini) conta, enquanto move uma parede usando quatro dedos da mão.
A Susepe nega a superlotação do sistema e admite que as vagas existem apenas no mapa, porque o prédio pode ser reaproveitado. "[O prédio] é recuperável, mas não para essa finalidade. Por isso ampliamos algumas outras casas e temos hoje 570 vagas em processo de recuperação", afirma o superintendente adjunto da Susepe, Alexandre Porciúncula Micol.

sábado, 7 de novembro de 2015

Revisão da LEP reforça ações do CNJ para fim de superlotação em presídios

Proposta de revisão e atualização da LEP

Principal proposta de revisão e atualização da Lei de Execução Penal (LEP) em trâmite no Congresso Nacional, o PLS 513/2013 traz uma série de dispositivos que pretendem enfrentar o problema da superlotação dos presídios brasileiros, apontada como causa principal de rebeliões e violações de direitos humanos. A humanização da sanção penal, a garantia dos direitos fundamentais do condenado, a busca da ressocialização do sentenciado e a informatização e desburocratização dos procedimentos relativos à execução penal são alguns dos princípios que nortearam esse trabalho. Esses mesmos princípios já integram diversas ações desencadeadas a partir da gestão do ministro Ricardo Lewandowski na presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em projetos como o Sistema de Execução Penal Unificado (SEEU), Audiência de Custódia e o Cidadania dos Presídios.
Elaborado por uma comissão de juristas designada pelo Senado Federal especialmente para a tarefa, o PLS 513/2013 propõe cerca de 200 alterações à Lei 7.210, editada no dia 11 de julho de 1984. Uma das propostas mais polêmicas é a vedação, contida no Art. 114-A, à acomodação de presos nos estabelecimentos penais em número superior à capacidade. Atingido o limite da ocupação, diz a proposta, caberá ao Juízo da Execução realizar mutirão carcerário no estabelecimento. Caso o número de presos esteja além da capacidade, a concessão de benefícios aos presos que estejam mais próximos de atingir o requisito temporal para progressão de pena poderá ser antecipada, a fim de adequar a lotação aos limites legais.

A expressão dessa regra encontra no projeto Cidadania nos Presídios a configuração como "princípio da capacidade prisional taxativa". De acordo com o projeto, o limite de cada estabelecimento será determinado pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), mas a proposta estabelece que os condenados deverão ser colocados em celas com capacidade para até oito pessoas.

O projeto institui ainda a progressão automática de regime para presos com pena privativa de liberdade quando o preso houver cumprido ao menos 1/6 da pena no regime anterior. Se o comportamento do preso for classificado como “bom”, a transferência de regime se dá de modo automático. Apenas se houver mau comportamento é que será instaurado incidente para análise da situação do preso, com oitiva do Ministério Público e da defesa. A progressão antecipada de regime quando o condenado estiver em presídio superlotado passa a fazer parte, inclusive, do rol de direitos dos presos. Segundo o último levantamento do Sistema Integrado de Informações Penitenciárias (Infopen), divulgado no final de junho pelo Ministério da Justiça, dois terços dos estabelecimentos penais do país custodiam um número de presos acima de sua capacidade.

Sistema de Execução Penal Unificado – Quanto à guia de recolhimento, que passa a se chamar “guia de execução”, ela passará a ser emitida por meio eletrônico e atualizada em tempo real. A mudança permitirá que o juiz responsável pela execução seja informado da data de soltura do preso e das datas de progressão e livramento com 30 dias de antecedência. Caso não haja manifestação do Juízo da Execução até a data prevista, a liberação do preso poderá ser feita pelo diretor do estabelecimento, sem a necessidade de expedição do alvará de soltura.

Alinhado à proposta da nova LEP, o CNJ está desenvolvendo o Sistema de Execução Penal Unificado (SEEU), que tem por objetivo permitir uma gestão mais eficiente da tramitação dos processos de execução penal. Trata-se de um sistema que será disponibilizado gratuitamente a todos os tribunais do país e procura controlar melhor os prazos dos benefícios dos sentenciados ao longo do cumprimento da pena. O projeto terá como plataforma de trabalho o processo de execução penal eletrônico do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), admitido como um dos mais completos e eficientes do país, e permitirá que o juiz seja avisado automaticamente dos benefícios que estão vencendo ou estão por vencer, administrando de maneira mais efetiva a execução das rotinas e os fluxos de trabalhos no cartório e o movimento processual na vara, a partir de um terminal de computador.

Outras duas mudanças previstas no PLS 513/2013 e que são direcionadas à humanização da pena e à garantia dos direitos fundamentais dos presos são a proibição da permanência dos não condenados (provisórios) em penitenciárias e a fixação do prazo de quatro anos para a extinção das carceragens em delegacias de polícia. Segundo o último levantamento do Infopen, 27.950 presos encontram-se abrigados em carceragens de delegacias de polícia.

Audiência de Custódia – Antecipando-se à discussão do Congresso Nacional, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tem implantado, desde fevereiro deste ano, audiências de custódia, com o objetivo de reduzir o número de presos provisórios (não julgados) em penitenciárias, cadeias e carceragens. A iniciativa, difundida pessoalmente pelo ministro Ricardo Lewandowski perante todos os tribunais do país, assegura a rápida apresentação dos presos a um juiz, nos casos de prisão em flagrante, a fim de coibir torturas e maus-tratos e permitir que se faça uma análise sobre a necessidade, conveniência e legalidade da prisão. Com a adesão dos 27 Tribunais de Justiça estaduais e dos cinco Tribunais de Justiça Federais, o projeto do CNJ, que contribui para o combate da superlotação nos presídios, está sendo interiorizado para as comarcas de todo país por força de determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da Ação Declaratória de Preceito Fundamental (ADPF) 347.

Alternativas Penais – O projeto com alterações na LEP prevê ainda a criação de centrais estaduais ou municipais de alternativas penais, como órgãos do Executivo estadual, distrital ou municipal responsáveis pelo acompanhamento e fiscalização da execução das penas restritivas de direitos. Segundo a proposta, caberá a estes órgãos integrar a rede pública de serviços necessários à execução das alternativas penais, cadastrar entidades e fiscalizar o cumprimento das penas alternativas, entre outras tarefas. A proposta estabelece prazo de 12 meses para a regulamentação e instalação das centrais de alternativas penais e para a implantação do sistema informatizado de execução penal.

O estímulo às alternativas penais também é uma preocupação da atual presidência do CNJ. O projeto Audiência de Custódia incentiva e prevê, com escopo restaurativo, a criação de centrais integradas de alternativas penais, centrais de monitoração eletrônica e câmaras de mediação penal, enquanto estruturas indispensáveis por apresentar ao juiz opções ao encarceramento provisório.

Cidadania dos Presídios – A preocupação com a recuperação do preso e a preparação para o retorno à convivência social também estão presentes em várias das alterações previstas no PLS 513/2013. O projeto prevê incentivos fiscais ou de outra natureza a empresas que contratem determinado percentual de egressos, incentivos à construção de espaços produtivos, galpões de trabalho ou similares por empresas ou instituições parceiras e a realização de convênios, acordos de cooperação, ajustes ou similares entre os entes públicos ou mesmo com entidades privadas, para a educação e profissionalização da população carcerária.

O PLS 513/2013 procura ainda incentivar a produção de alimentos dentro dos estabelecimentos penais, dando preferência a essa ocupação. Propõe ainda a ampliação das hipóteses de remição de pena, que passam a incluir o artesanato e a leitura, além do trabalho e do estudo. Outro benefício previsto é que as atividades de estudo possam ser executadas na modalidade a distância.

Neste ponto, o CNJ também desenvolve ações para a área de execução penal previstas no programa Cidadania nos Presídios, que alia a preocupação com os prazos de cumprimento da pena e da progressão de regime, a atenção à estrutura dos presídios e iniciativas voltadas à ressocialização. O projeto pretende estabelecer um modelo diferenciado de funcionamento do sistema de Justiça, por meio da maior aproximação do juiz, da sociedade e do jurisdicionado.

O programa gira em torno de três eixos, sendo o primeiro a mudança da metodologia de preparação e julgamento dos processos de progressão de regime, com intuito de acelerá-los. O segundo eixo é a atenção especial do Poder Judiciário sobre as condições físicas dos presídios e o terceiro é o acompanhamento do preso para que, ao ganhar a liberdade, tenha acesso a programas de assistência social, a seus documentos pessoais e, principalmente, ao mercado de trabalho.

Tramitação - Entregue ao Senado em dezembro de 2013, a proposta elaborada pela Comissão de Juristas aguarda a aprovação da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Casa. “A Comissão procurou trabalhar visando a instituição de um sistema de execução penal ideal, mas não perdendo de vista o realismo necessário à consecução de resultados concretos”, diz a exposição de motivos que acompanhou a entrega do projeto.