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quinta-feira, 18 de maio de 2023

TSE cassa mandato de Deltan Dallagnol na Câmara com base na Lei da Ficha Limpa

Os ministros concluíram que a candidatura do ex-procurador, que coordenou a força-tarefa da operação Lava-Jato em Curitiba, foi irregular; parlamentar cassado pode recorrer ao TSE e STF

Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu nesta terça-feira (16), por votação unânime, declarar o deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) inelegível e cassar seu mandato com base na Lei da Ficha Limpa.

A decisão deve ser cumprida imediatamente. Deltan ainda poderá recorrer ao próprio TSE e ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas já sem o mandato.

Os ministros concluíram que a candidatura do ex-procurador da República, que coordenou a força-tarefa da operação Lava-Jato em Curitiba, foi irregular. Ele foi eleito com 344.917 votos, a maior votação no Paraná. Os votos recebidos por Dallagnol serão transferidos para a legenda.

A Lei da Ficha Limpa estabelece que juízes e membros do Ministério Público estão proibidos de se candidatarem caso tenham solicitado exoneração ou aposentadoria voluntária enquanto estiverem enfrentando processos disciplinares. Essa restrição tem duração de oito anos. 

Durante a análise das duas ações, os ministros consideraram uma delas que foi apresentada pela Federação Brasil da Esperança, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nesse processo, alegava-se que, embora Deltan Dallagnol não estivesse enfrentando processos disciplinares no momento em que solicitou seu desligamento do Ministério Público Federal (MPF), ele estava sujeito a reclamações administrativas e sindicâncias, que seriam consideradas equivalentes.

Ao solicitar sua exoneração em novembro de 2021, o ex-procurador estava enfrentando reclamações e sindicâncias relacionadas a suspeitas de envolvimento em grampos clandestinos, violação de sigilo funcional, improbidade administrativa, abuso de poder e quebra de decoro. Entre essas investigações, uma delas foi aberta a pedido do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para apurar se Dallagnol conduziu uma investigação não autorizada sobre a movimentação patrimonial de ministros da referida Corte.

O Partido da Mobilização Nacional (PMN), que também busca a inelegibilidade do ex-procurador, alega que ele solicitou sua exoneração "muito antes do momento exigido pela legislação eleitoral" com o objetivo de impedir o avanço dos procedimentos administrativos no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e, assim, contornar as regras de inelegibilidade.

O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná havia rejeitado os pedidos. O Ministério Público Eleitoral também considerou a candidatura do ex-procurador regular.

O advogado Leandro Rosa, responsável por representar Dallagnol nos processos, sustentou que o ex-procurador tomou a precaução de consultar o CNMP antes de solicitar sua exoneração. Além disso, ele defendeu que os procedimentos administrativos em andamento na época não poderiam resultar em sua demissão.

Voto do relator

O ministro Benedito Gonçalves, relator dos processos, disse que a intenção de manobrar a Lei da Ficha Limpa foi "cristalina" e 'capciosa'. Ele foi acompanhado por todos os colegas.

"Referida manobra, como se verá, impediu que os 15 procedimentos administrativos em trâmite em CNMP, em seu desfavor, viessem a gerar processos administrativos disciplinares que poderiam ensejar a pena de aposentadoria compulsória ou perda do cargo" — afirmou.

Um dos argumentos citados no voto é que Dallagnol já havia sido punido com censura e advertência quando pediu exoneração e que essas sanções seriam consideradas "maus antecedentes" em outros procedimentos administrativos, o que na prática aumentaria a chance de demissão.

Outro ponto levado em consideração foi a antecedência com que Dallagnol pediu desligamento do MPF. O então procurador deixou a instituição em novembro de 2021, quase um ano antes da eleição. A legislação eleitoral exige uma "quarentena" de apenas seis meses.

"O pedido de exoneração teve o propósito claro e específico de burlar a incidência da inelegibilidade" — afirmou Gonçalves. — "Foram inúmeras as apurações iniciadas com esteio em indicações robustas de práticas irregulares."

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Bolsonaro afirma à PF que não deu ordens para a inserção de dados de vacinação no sistema do Ministério da Saúde

O ex-presidente disse que nunca determinou e nem soube da colocação de informações falsas no ConecteSUS; ele declarou ainda que nem teria razão de fazer isso. Ele está mentindo!

O depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro na sede da Polícia Federal (PF) em Brasília foi concluído no final da tarde desta terça-feira (16) após duas horas e meia e sessenta perguntas – todas respondidas. Segundo informações do g1, Bolsonaro disse que nunca determinou e nem soube da inserção de dados falsos no ConecteSUS. Ele declarou ainda que nem teria razão de fazer isso.

O ex-presidente foi interrogado no inquérito que apura um possível esquema de adulteração de cartões de vacinação, que teria favorecido ele, sua filha Laura, o ex-assistente Mauro Cid e seus familiares.

Dado o envolvimento de vários personagens na operação, a PF indagou Bolsonaro sobre cada um deles, visando compreender a natureza de suas relações. Ele foi questionado se tinha conhecimento do esquema e se ele próprio havia dado a ordem para acessar o sistema do Ministério da Saúde, onde os dados relacionados à vacinação contra a covid-19 foram inseridos e posteriormente removidos.

Outros questionamentos

De acordo com informações do jornal O Globo, o delegado responsável pelo inquérito, Fábio Shor, não questionou o ex-presidente apenas sobre as fraudes nos cartões de vacinação dele e de sua filha Laura. Perguntou também sobre questões relativas à preparação dos atos antidemocrático de 8 de janeiro.

Shor quis saber ainda se ele tinha conhecimento das conversas de teor golpista entre Mauro Cid, Aílton Barros e Elcio Franco nas articulações das manifestações golpistas e sobre os acampamentos bolsonaristas em frente aos quarteis.

Em relação ao caso das vacinas, Bolsonaro negou categoricamente sua participação no esquema de fraude de cartão de vacinação e reiterou que não deu qualquer ordem para que isso fosse feito, nem ao tenente-coronel Mauro Cid nem ao seu assessor Max Guilherme, ambos detidos desde a semana passada. 

Após o interrogatório, o depoimento está sendo revisado pela equipe de defesa do ex-presidente, composta por quatro advogados que o acompanham na Polícia Federal: Paulo Cunha Bueno, especialista em direito criminal, é um dos membros do grupo; Daniel Tesser é especializado em Direito Aduaneiro e também faz parte da equipe; Marcelo Bessa é responsável por acompanhar os processos do ex-presidente nos tribunais superiores; além deles, o ex-chefe da Secom, Fábio Wajngarten, que também é advogado, desempenha o papel de cuidar da comunicação de Bolsonaro.

Terceiro depoimento

Este é o terceiro depoimento de Jair Bolsonaro à PF desde março, quando o ex-presidente retornou dos Estados Unidos, onde havia viajado em dezembro de 2022. Bolsonaro já foi interrogado em inquéritos relacionados ao caso das joias apreendidas pela Receita Federal, bem como na investigação sobre os atos de 8 de janeiro, quando simpatizantes radicais invadiram e vandalizaram as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

quinta-feira, 4 de maio de 2023

O que se sabe sobre a operação da PF que fez buscas na casa de Bolsonaro e identificou fraudes em cartão de vacinação

Ação da Polícia Federal cumpriu seis mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão, em Brasília e no Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira (3)

 Ao longo da manhã, a corporação cumpriu seis mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão, em Brasília e no Rio de Janeiro. Um dos alvos de buscas foi uma casa do ex-presidente, na capital federal. 

O foco da operação da PF é sobre a inserção de dados falsos de vacinação contra covid-19 no sistema do Ministério da Saúde. O celular do ex-presidente foi apreendido — inicialmente, havia a notícia de que o aparelho da ex-primeira-dama Michelle também havia sido apreendido, mas a PF corrigiu a informação. 

Confira o que já se sabe sobre as diligências realizadas nesta quarta-feira.

 O que está sendo investigado 

Batizada de Venire, a investida desta quarta-feira apura uma suposta "associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS do Ministério da Saúde", conforme informou a PF.

 De acordo com a PF, os envolvidos teriam emitido certificados falsos de vacinação contra a covid-19, para burlar restrições sanitárias relativas à pandemia.  Os crimes teriam sido cometidos entre novembro de 2021 e dezembro de 2022.  

 "A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19", disse a PF. 

Quais crimes estão sob investigação

A ofensiva aberta nesta quarta mira supostos crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores, segundo a PF.

Por que os dados de vacinação teriam sido alterados 

Conforme a PF, com a mudança dos dados, os beneficiários puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlar as restrições sanitárias vigentes no Brasil e nos Estados Unidos. 

A investigação da Polícia Federal indicou que o objetivo do grupo com essas modificações seria sustentar em público o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a covid-19. 

Também conforme a PF, estes fatos poderiam configurar em tese os crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores. 

Quem teria sido beneficiado

A inserção de dados falsos teria beneficiado Jair Bolsonaro, sua filha de 12 anos, o tenente-coronel Mauro Cid, além da filha e da esposa do antigo ajudante de ordens. 

Segundo relatório da Polícia Federal, os registros de vacinação de Bolsonaro e da filha de 12 anos foram inseridos no sistema em 21 de dezembro passado, pouco antes de viajarem para os Estados Unidos. 

"Após a data de inserção dos dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde, o usuário associado ao ex-presidente Jair Bolsonaro emitiu o certificado de vacinação contra a covid-19, por meio do aplicativo ConecteSUS", afirma o relatório da PF.  

Chamou atenção dos policiais federais, ainda, o intervalo de tempo entre a data em que os investigados teriam tomado as vacinas e a data em que os dados foram inseridos no sistema. No caso de Bolsonaro, por exemplo, ele teria recebido as doses em agosto e outubro, conforme dados que constam no relatório da PF. Mas o registro só entrou no sistema em dezembro.   

O que disse Bolsonaro

Durante a manhã, Bolsonaro disse a jornalistas, na saída de sua casa, em Brasília, que não foi vacinado, e negou que tenha adulterado qualquer documento

"Não existe adulteração da minha parte. Não tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso" — enfatizou. 

Questionado sobre a suspeita de que teria utilizado um documento falso para conseguir entrar nos Estados Unidos, o ex-presidente afirmou que "nunca me foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum". Sobre a filha, o ex-presidente também afirmou que ela não se vacinou. 

"Minha filha Laura não tomou vacina" — confirmou o ex-presidente, argumentando que decidiu não imunizar a sua filha pois ela teria "um atestado" que a dispensaria desta necessidade. 

Durante a manhã, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro fez uma publicação nas redes sociais afirmando que, em sua casa, só ela teria se vacinado.

Bolsonaro teria sido intimado a depor ainda nesta quarta-feira, mas informou à corporação que não compareceria à oitiva, conforme apuração do jornal  Folha de S. Paulo.

Quem foi preso  

·        Mauro Cid Barbosa, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;

·        o sargento Luis Marcos dos Reis, ex-membro da equipe de Mauro Cid;

·        o ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros;

·        Max Guilherme, policial militar que atuou na segurança de Bolsonaro;

·        o militar do Exército Sérgio Cordeiro, que também atuava na proteção pessoal de Bolsonaro;

·        João Carlos de Sousa Brecha, secretário municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ).

Quem autorizou as buscas na casa de Bolsonaro 

A Operação Venire foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito das milícias digitais. Nesta tarde, Moraes retirou o sigilo da decisão que autorizou as buscas na residência de Bolsonaro.

Ao permitir a operação, Moraes considerou "plausível" a linha de investigação que sugere que Bolsonaro possa ter inserido informações falsas sobre vacinas para obter vantagens. Além disso, o ministro mencionou a possibilidade de haver uma "organização criminosa" que altera dados de vacinação.  

Segundo o ministro, os sinais de delito são "significativos" e a suposta associação criminosa não somente buscou obter vantagens pessoais, mas também desacreditar o sistema de imunização do país.

Em razão da operação da PF desta quarta, Moraes autorizou a busca e apreensão do passaporte de Bolsonaro para evitar que o ex-presidente saia do país durante as investigações.

Onde Bolsonaro estava na data da suposta vacina

De acordo com o relatório da PF acerca da investigação, Bolsonaro não esteve no local e no município em que teria sido imunizado (Duque de Caxias, no RJ), na data que consta na sua carteira de vacinação. 

Conforme auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), que embasa a investigação da PF, "o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro não esteve no município de Duque de Caxias (RJ) no dia 13/08/2022, data em que teria tomado a primeira dose da vacina da fabricante Pfizer. Permaneceu na cidade do Rio de Janeiro até seu retorno para Brasília (DF), às 21h25min daquele dia". 

O que a CGU vinha investigando

Em fevereiro, o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinicius Carvalho, já havia afirmado que era preciso concluir apuração sobre a possibilidade de adulteração do cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) antes de decidir por divulgar o documento ou manter o sigilo de cem anos imposto pelo governo passado.

A CGU já investigava, na época, se havia algum tipo de adulteração no cartão de vacinação de Bolsonaro. Segundo apuração, o processo verificava se houve inserção ou mesmo retirada de dados do cartão do ex-presidente.