Powered By Blogger
Mostrando postagens com marcador falência. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador falência. Mostrar todas as postagens

domingo, 11 de junho de 2017

Improviso da Segurança Pública e a Susepe

Trovão Azul, o retrato da falência prisional

Com déficit de 11,7 mil vagas para presos no Rio Grande do Sul e escassez de recursos, improviso da Secretaria da Segurança Pública já dura seis meses e depende de abertura de espaço na nova prisão, em Canoas

A falência do sistema carcerário gaúcho é retratada por um ônibus de 1985 e restaurado 31 anos depois para minimizar a escassez de vagas nas cadeias. Desativado desde 2013, o Trovão Azul surgiu para o secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer, em meados de 2016, como alternativa para devolver ao patrulhamento das ruas brigadianos e suas viaturas que ficavam em frente ao Palácio da Polícia com suspeitos presos, mas que não tinham para onde ser levados. O improviso do ônibus-cela já dura seis meses.

Até a reativação do Mercedes Benz azul, escanteado em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, episódios emblemáticos aconteceram: presos foram algemados em lixeiras (leia na página ao lado), acotovelaram-se detidos em micro-ônibus da BM, destruíram o veículo em protesto pelas más condições na qual estavam detidos e atearam fogo a carceragens provisórias de Delegacia da Polícia Civil na Região Metropolitana. A chegada do ônibus-cela à Capital, independentemente da sua localização, sempre atingiu o já castigado efetivo da BM, que atua com 50% de déficit e salários parcelados no Estado.

"O Trovão Azul é a maior preocupação que tenho no momento" – desabafa o secretário Schirmer.
Na manhã de sexta-feira, 39 policiais estavam fora do serviço de patrulhamento na Região Metropolitana, sendo 24 apenas da Capital. Nas Delegacias de Polícia de Pronto Atendimento (DPPAs), 135 presos aguardavam vagas em presídios. No centro de triagem eram 74, o que representa lotação máxima.

No Trovão Azul, havia 39 homens, totalizando 248 presos esperando para entrar no sistema cujo déficit é de 11,7 mil vagas.

"É uma situação necessária para que presos permaneçam efetivamente presos. Mas, lamentavelmente, acabamos retirando policiais das ruas" – disse o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Mario Ikeda.
O atual local que abriga o ônibus-cela não tem acesso pavimentado e, para chegar, algumas viaturas atolam. Lá, há um galpão de alvenaria, onde os PMs se abrigam e guardam os alimentos para presos. Há apenas dois banheiros e um dos policiais. Não há onde tomar banho e PMs reclamam do mau cheiro.

Comandante do policiamento da Capital, coronel Jefferson de Barros Jacques argumenta que se está ruim com o veículo, pior seria sem ele:

"Com o Trovão Azul, consigo deixar menos viaturas paradas" – disse, referindo-se ao fato de que o ônibus-cela abriga até 30 suspeitos de crime.
A decisão de inutilizar o veículo foi novamente tomada por Schirmer. Agora, resta definir a data. O secretário chegou a anunciar a aposentadoria do coletivo em 27 de maio, mas voltou atrás no dia seguinte por não ter onde deixar os presos. Depois desse e de outros episódios em que promessas não foram cumpridas, passou a evitar se comprometer com datas.
"Quando depende só de ti, é possível dar prazo. Afinal, você é o único responsável. Mas, nesse caso, envolve Secretaria da Fazenda, de Obras, o que complica um pouco. Mas, vai ser desativado, só estamos buscando alternativas. A decisão está tomada. Não quero mais."
As alternativas são a Penitenciária Estadual de Canoas e a construção de mais um centro de triagem, ambas previstas para 40 dias, e que, juntas, totalizam 246 vagas.

Enfrentar a precariedade com mais precariedade incomoda o professor da PUCRS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, que viu por muito anos o Rio Grande do Sul se gabar de ser o único Estado que não tinha presos em delegacias de polícia.

"A falência começa com a quebra desta tradição. E o Trovão Azul é o símbolo disso tudo."
Para o sociólogo, é necessário repensar o modelo penal, “que coloca no mesmo espaço, presos perigosos e violentos com aqueles que oferecem menos risco à sociedade”, além de investir em educação e segurança pública.

Centros de triagem ficam na promessa
No mesmo dia em que a Brigada Militar algemou presos a uma lixeira na Capital devido à falta de vagas nas carceragens das delegacias, Schirmer prometeu medidas para estancar ou minimizar o caos carcerário. Em 9 de novembro, anunciou que até o fim da primeira quinzena de dezembro de 2016, concluiria o primeiro centro de triagem para presos. No espaço, a ser construído com monoblocos, poderiam ser abrigados até 96 homens, mas a estrutura não tinha saído da esfera de intenções do secretário até o final de maio, quando a verba foi liberada. A ideia, agora, é entregá-la em 40 dias.

Schirmer, ainda na explanação de novembro passado, garantiu que até maio de 2017, o objetivo era criar, ao total, 554 lugares que substituiriam o uso de viatura da BM e celas de DPs. Embora com menor capacidade e inúmeros adiamentos, um dos cinco espaços citados começou a receber presos em fevereiro desse ano, com dois meses de atraso. A reforma de um imóvel localizado na Rua Dr. Salvador França, aos fundos do Instituto Psiquiátrico Forense, foi feita, mas sua capacidade não é plena. Das 554 vagas prometidas, apenas 74 funcionam. Veja o que diz o secretário sobre cada promessa:


MONOBLOCOS (96 vagas) Previsão – 30 dias a partir da assinatura da ordem de serviço O que diz Schirmer: 
Faltou dinheiro, mas háduas semanas foram liberados R$ 2,8 milhõs para a construçã. O local nã estádefinido, mas vai ser em Porto Alegre. Não posso me comprometer com datas,mas a expectativa é entregar em 40 dias”.
CONTÊINERES NA CAPITAL (96 vagas) Previsão – 60 dias a partir da assinatura da ordem de serviço O que diz Schirmer:
Sofri pressão de todos os lados. Desisti momentaneamente. Se for preciso, vamos usar contêneres”.
CENTRO DE TRIAGEM NA ZONA LESTE I (96 vagas) Previsão – Começou a receber presos em 20 de fevereiro, mas opera parcialmente com 74 vagas. O que diz Schirmer:
Precisamos fazer uma modificaçã no projeto por medida de seguranç e isso tomou espaç de algumas celas”.
CENTRO DE TRIAGEM NA ZONA LESTE II (120 vagas) Previsão – 180 dias a partir da assinatura da ordem de serviço O que diz Schirmer: 
Tíhamos trabalhado com a possibilidade de o Exécito fazer essa obra, mas as negociaçõs nã evoluíam por questã de custo e por ser uma obra que se iniciou com outra finalidade”.
CENTRO DE TRIAGEM EM CHARQUEADAS (146 vagas) Previsão – 180 dias a partir da assinatura da ordem de serviço O que diz Schirmer: 
Essa nã andou por falta de dinheiro”.
Canoas é parte da solução

Quarenta dias. Esse é o prazo dado pelo secretário Schirmer para que 150 presos passem a utilizar a Penitenciária de Canoas, tratada como alternativa para desativação do Trovão Azul. O obstáculo a ser superado, agora, é o acesso ao pátio, considerado inadequado à passagem de veículos como caminhões e ambulâncias, mas que será finalizado com uso de brita. Para o secretário, as vagas são suficientes, no cenário atual, para desativar o ônibus-cela, mas, não para desafogar o sistema carcerário. O pleno funcionamento, com 2,8 mil presos, não tem data para acontecer.
"Acertamos com a prefeitura as melhorias no acesso. Depois, vamos começar a operar gradativamente, afinal, nem teríamos condições financeiras de mantê-la neste momento" – disse Schirmer, informando que o custo mensal será de R$ 9 milhões quando todas as vagas estiverem preenchidas.
O projeto da casa prisional foi lançado no governo Yeda Crusius (PSDB), executado na gestão de Tarso Genro (PT) e sua ocupação começou durante o mandato de José Ivo Sartori (PMDB). Anunciada em 2010 como a solução para a desativação do caótico Presídio Central, a prisão canoense ainda é vista com bons olhos pelo Ministério Público:
"O Estado tem déficit de 11,7 mil vagas. Historicamente, a construção de presídios não acompanhou o crescimento da massa carcerária. Ao mesmo tempo, como não há políticas eficientes para recuperação, 70% dos liberados retornam à prisão. Então, as cadeias esgotaram a capacidade de recolhimento. A ocupação integral de Canoas será positiva se a nova lógica implantada for mantida lá" – avalia o procurador de Justiça Gilmar Bortolotto.
Na penitenciária, reincidência em queda
Na unidade que já funciona, sem facções e em condições vistas como adequadas pelo MP, o retorno de presos caiu de 70% do Central para 18%, o que indica acerto na condução. – A amenização do déficit prisional depende de geração de vagas e programas de reinserção que diminuam a reincidência. O problema tem solução, mas passa por mudanças radicais na política carcerária. Sem isso, não produziremos a segurança desejada – conclui.


MARCELO KERVALT/ZH

sexta-feira, 29 de julho de 2016

"O corredor da prisão" coluna hoje de David Coimbra

Chame a associação protetora dos animais

Foto: Divulgação, BD / AgênciaRBS / AgênciaRBS
"Essa foto foi publicada tempos atrás pelo Tulio Milman, no Informe Especial. É um flagrante de um dos corredores do Presídio Central. Repare: é o corredor, não uma cela. Os homens estão ali porque as celas se encontram lotadas. Eles tentam dormir. Há detentos de pé, encostados às paredes. Outros jazem no chão cru. Os que estão de pé esperam sua vez de descansar. É preciso fazer revezamento, simplesmente porque não há espaço para todos.
Assim são as noites no Presídio Central.
Estou republicando essa foto exatamente para repisar o assunto, para repetir algo que venho dizendo há muito tempo: hoje, no Brasil, é mais importante construir presídios do que universidades.
Em primeiro lugar, por causa dos presos — por humanidade. As condições dos presídios brasileiros são tão ruins, que as sociedades protetoras dos animais deveriam se mobilizar em protesto. Nenhum bicho merece ser tratado dessa forma.
Em segundo, por sua causa. Sua, que digo, é você, cidadão honesto, contribuinte e trabalhador. Porque não há como resolver o problema de segurança pública sem resolver o problema dos presídios. É preciso haver lugar para acomodar os presos, e um lugar decente, porque uma das funções da pena continua sendo a regeneração.
Arrisco-me a dizer que 70% dos dramas brasileiros seriam resolvidos se fossem resolvidos os dramas da segurança pública. O trânsito seria desafogado, porque as pessoas não teriam medo de usar o transporte público. Haveria mais comércio de rua e mais consumo, porque haveria mais circulação. Até as cidades ficariam mais belas, porque não seriam necessários aparatos de segurança como essas feias grades na frente dos prédios.
Rode por Porto Alegre. É deprimente: Porto Alegre é uma cidade atrás de barras de ferro. Os cidadãos se protegem com cercas altas, algumas eletrificadas, outras com arame farpado, como campos de concentração.
Mais do que celulares, dinheiro e carros, roubaram a cidade do porto-alegrense.
A segurança pública é o dever número 1 do Estado. Mais do que educação, mais do que saúde, o Estado tem de garantir segurança e justiça.
A foto do corredor do Presídio Central demonstra que não há nem uma, nem outra por aqui. É a falência do Estado. E o pior: é o fracasso da sociedade."