Justiça proíbe entrada de novos presos em cadeia de Charqueadas
A Justiça decidiu nesta terça-feira (12) proibir a entrada de novos presos na Penitenciária de Charqueadas
A juíza da Vara de Execuções de Porto
Alegre Sonáli da Cruz Zluhan observou que a situação dos presos
"reporta à Idade Média", como mostra o RBS Notícias (veja vídeo acima). A
penitenciária tem capacidade para mil homens, mas hoje abriga 1.420
presos. Na decisão, a juíza alerta também que os detentos estão sem
colchões, sem enfermarias e remédios. Faltando comida, além de água e
luz. Segundo a magistrada, não há água nem tomar, apesar de uma das
caixas de água estar transbordando no local.
O cheiro na penitenciária é insuportável, segundo a reportagem.
Presos
consultados pela juíza relataram que os "esgotos estão entupidos,
fazendo que não haja o escoamento devido dos dejetos", observa a Sonáli
em seu despacho.
"Aqui não dá para aguentar o mau cheiro. Mosquito, rato e tudo",
relata um preso.
A reportagem flagrou um rato subindo pelas paredes e
entrando nas celas.
A falta de infraestrutura não atinge apenas os presos. Em uma das
guaritas de controle, um sargento da Brigada Militar passa 12 horas na guarda em um lugar sem luz. Quando anoitece, ele fica no escuro, e ainda precisa tomar cuidados
para não encostar em fios desencapados.
"É precário. Às vezes, até no
muro, ao encostar no muro, se toma um choque", observa o sargento.
"Um
colega, hoje, tomou um choque na porta da cozinha".Sem condições de
ressocialização, diz juíza A juíza observou que não há "a menor chance
de ressocialização", de alguém vir para cá cumprir uma pena e sair melhor
do que entrou.
"A penitenciária está interditada desde março, pois foi
descumprido um limite de quatro presos por cela. A partir de então, só
entrava um preso se saísse outro. Mas agora ninguém mais será recebido
na penitenciária".
"A gente tem consciência de que isso vai gerar o caos, porque as
delegacias já não têm onde colocar os presos. Nós não temos pena de
morte, nós não temos prisão perpétua. É um tempo de recolhimento, para
depois sair. Se não se aproveitar desse tempo, não se aproveita mais
nada. Não se pode exigir, depois na rua, algo que não se deu nunca",
observou a magistrada.
Em 11 de julho deste ano, a juíza ouviu representantes dos presos, de
cada galeria.
"O relato é deprimente, para não dizer mais. (...) Referem
que muitas vezes ficam de três a quatro dias sem água para tomar, ou
para a própria higiene", observa a magistrada em seu despacho.
Na decisão desta terça-feira, Sonáli reconhece que o sistema
carcerário "está totalmente falido".
"O que se espera, milagrosamente, é
que aquele que delinquiu seja preso e saia após cumprir sua pena
ressocializado. No entanto, o tempo em que o preso está cumprindo a pena
não lhe é dado qualquer tipo de atendimento. Recolher uma pessoa, ainda
que criminosa, em ambientes insalubres, sem atendimento, para dormir no
chão e sem receber comida seria ressocializar?", questiona a juíza.
Susepe aguarda orçamentos de empresas A Superintendência Estadual de
Serviços Penitenciários (Susepe) disse que empresas estão elaborando um
orçamento para fazer o hidrojateamento que vai desobstruir a rede de
esgoto da cadeia. Isso permitirá a limpeza e a remoção do lixo. Mas
ainda não há prazo para o início das obras.
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