Número é quase a metade dos registros de 2019, quando 43 aparelhos foram recolhidos
Fonte GZH
Susepe / Divulgação |
Na prática, não significa que esse tipo de equipamento deixou de ser preocupação. Pelo contrário, os criminosos seguem usando diferentes técnicas para não terem aparelhos derrubados a tiros. Como resposta, a Secretaria da Administração Penitenciária (Seapen) traça estratégias para frear essas ações.
Mais da metade
dos drones apreendidos estava sobrevoando o Presídio Central, em Porto Alegre —
foram 13 equipamentos. Um dos motivos apontados para isso é a alta população
carcerária. Em novembro, a casa prisional abrigava 3.476 presos, enquanto a
capacidade é para 1.824. Em segundo lugar, aparece a Penitenciária de Alta
Segurança de Charqueadas (Pasc), com quatro apreensões.
"Tanto no
Central quanto na Pasc, há número expressivo de presos. O perfil, especialmente
na Pasc, é de alta periculosidade. E nos dois casos há envolvimento de
organizações criminosas, presentes nessas unidades. No ano passado, o drone foi
uma novidade e a resposta foi efetiva, no sentido de intervenção e abate" —
avalia o secretário da Administração Penitenciária, Cesar Faccioli.
Diretor do Presídio Central, o tenente-coronel Carlos Magno da Silva Vieira acredita que a série de ações para conter os arremessos com drones realizadas em 2019 ajudou a reduzir as investidas. Ele afirma que a facilidade para aquisição desses equipamentos é um fator que permite a utilização da tecnologia a favor do crime. Além das drogas, celulares são transportados dessa forma, permitindo o contato de presos com as ruas.
"É um problema grave, mas que temos enfrentado. Algumas ações que estamos adotando não podem ser divulgadas, por segurança. Há uma legislação para o uso. Por outro lado, não é preciso justificar a finalidade da compra. Há uma desconexão" — avalia Magno.
Os drones também ficaram mais difíceis de serem abatidos em razão da tecnologia avançada, que deixa os aparelhos silenciosos e permite que voem a alturas mais elevadas, tornando o abate com disparos uma caçada complexa. O operador pode ficar de quatro a cinco quilômetros de distância. As luzes, que poderiam facilitar a visualização, em geral são cobertas com fita isolante.
"Os agentes têm de buscar capacitação para superar esse nível de informações" — diz Faccioli.
Dificuldades
Em um dos
casos registrados neste ano na Pasc, os agentes localizaram primeiro uma
garrafa pet, pintada de preto, amarrada a um fio. Começaram a puxar e o drone
acabou desabando no chão. A linha tinha cerca de 300 metros. Dentro da garrafa,
encontraram seis celulares, chips, carregadores e porções de drogas.
Entorpecentes e telefones são os principais produtos recolhidos, mas já houve
até talheres de metal apreendidos.
A entrega
malsucedida só foi descoberta porque os servidores estão acostumados a conviver
com as tentativas frequentes de arremessos. Mantêm os olhos e ouvidos atentos,
especialmente à noite, quando os aparelhos sobrevoam a unidade, protegidos pelo
breu. O horário entre 20h30min e 5h30min é o mais crítico. Em alguns casos, os
criminosos usam dois equipamentos ao mesmo tempo. Os drones são derrubados com
tiros, quando é possível vê-los.
"Ficou mais
difícil de abatê-los, pela forma como estão voando. Ano passado, tentavam
entregar diretamente com o drone nas janelas, mais baixo. Agora, o equipamento
vem a mais de 300 metros de altura. Fica só o pacote, no escuro, amarrado na
corda de nylon. Às vezes, só escutamos o barulho e ficamos procurando o pacote,
não enxergarmos o drone, que é pintado e tem as luzes tapadas por fitas
isolantes"— descreve o diretor da Pasc, Eduardo Saliba.
Há casos em que as encomendas são depositadas nos pátios em tênis,
caixas de leite ou bolas de futebol. Para driblar essa situação, os
pentes-finos foram intensificados e o pátio é verificado todos os dias. Há
episódios nos quais os operadores desistem da entrega ao perceberem que foram
avistados, devido aos disparos para o alto.
O governo
estuda utilizar os drones como aliados da segurança nas prisões, como
ferramenta de vigilância nas unidades. Os aparelhos também poderão ser usados
pela inteligência e durante operações. Até o momento no RS, cinco servidores se
capacitaram para operar drones — o processo para aquisição dos equipamentos
está em andamento. Os aparelhos apreendidos não são usados, segundo a Seapen,
porque normalmente estão danificados.
A aquisição do antidrone — que emite ondas eletromagnéticas e rompe o contato do controle remoto com o aparelho — está em estudo pelo governo do RS. Em dezembro de 2019, São Paulo foi o primeiro Estado a adquirir esse tipo de equipamento. O uso de tecnologia de maneira geral para conter o ingresso de ilícitos é uma das apostas da Seapen. Foram instalados oito scanners corporais e cinco bloqueadores de celular estão em processo de aquisição por meio do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) — a única unidade que conta com o bloqueio de sinal telefônico é a Penitenciária Estadual de Canoas.
Arremessos
Em terceiro lugar em apreensões de drones está a Penitenciária
Estadual de Bento Gonçalves, na Serra. Delegado regional da Superintendência
dos Serviços Penitenciários (Susepe), Marcos Ariovaldo Spenst diz que na região
as empreitadas com os equipamentos são menos comuns, mas os arremessos
preocupam. Faccioli confirma que houve aumento das tentativas de ingressar
drogas nas unidades por meio dos arremessos.
"Aumentamos
muito, em torno de 50%, as nossas operações, qualificamos os protocolos de
revistas. Investimentos em inteligência. Fizemos análise de ocorrências com
base na territorialidade" — enumera Faccioli.
Outra aposta
do governo é o uso de telas de proteção sobre os pátios e janelas das unidades.
A intenção é que todos os projetos novos sejam realizados já com a proteção e
que as unidades antigas passem a contar com as telas. A próxima meta é usar a
mão de obra prisional para a produção.
Variação
nas apreensões
·
2019: 43
·
2020: 22
·
Queda de 48,8%
Onde foram apreendidos*
·
Presídio Central: 13
·
Pasc: 4
·
Bento Gonçalves: 2
·
5ª Região Penitenciária (Pelotas): 1
·
10ª Região Penitenciária (Porto Alegre): 1
·
8ª Região Penitenciária (Vale do Rio Pardo): 1
*Nos três
últimos não foi informada a casa prisional.
Fonte:
Secretaria da Administração Penitenciária do RS (Seapen)
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