Por Marco Vieira, escritor e jornalista
Erros judiciários existem vários no mundo todo, inclusive no Brasil. Mas
o que vou relatar, certamente é o mais famoso. Todo mundo já deve ter ouvido
falar da dupla Sacco e Vanzetti. Livros foram publicados, filmes foram feitos,
reportagens sobre o caso, enfim, até hoje este é considerado o maior erro
judiciário da história. Vamos lembrar; Nicolás Sacco era filho de camponeses
pobres italianos, emigrou para os Estados Unidos em 1908, aos 17 anos. Viveu
períodos de grandes dificuldades, chegou a passar fome, desemprego e muita
miséria. Depois trabalhou em diversas fábricas, como em uma de calçados, onde
conheceu sua companheira, com quem teve dois filhos. Sacco tinha como ideologia
política o anarquismo.
Bartolomeu Vanzetti, quando jovem, tinhas ideias religiosas e
humanistas. Gostava muito de ler e estudar, depois se desligou de religiões, e
aos 20 anos emigrou para os Estados Unidos. Segundo ele; “nos EUA vi todas as
brutalidades da vida, todas as injustiças e depravações, que há tragicamente na
humanidade”. Estudou importantes teóricos como Bakunin, Marx, Kropotkin, Gorki,
Mazzini, Tolstoi, Leopardi, Darwin e outros. Lia de madrugada, depois de longas
jornadas na fábrica em que trabalhava. Ele se tornou anarquista e importante
liderança no movimento operário.
Moravam na cidade de South Braintree, no Estado de Massachussets. No dia
15 de abril de 1920, aconteceu um assalto numa fábrica. Na ocasião, um agente
pagador e um segurança da empresa acabaram sendo mortos. Nesta época havia uma
quadrilha na cidade, que infernizava a vida dos fabricantes e comerciantes. No
dia 5 de maio Sacco e Vanzetti foram presos, e para sua desgraça, estavam
armados. Mas isso era normal na época, todos os americanos usavam armas. Três
“fatos graves” pesaram contra eles; eram operários, estrangeiros e anarquistas.
Negaram com veemência o crime. A imprensa americana passou a divulgar a prisão
deles, dizendo que o fato de serem anarquistas, era “prova moral de propensão à
criminalidade e delinquência”.
O caso teve repercussão internacional. É importante ressaltar que nesta
época a Máfia estava se instalando nos EUA, e então, todo italiano era visto
como “provável delinquente”. Começa o processo e julgamento. O advogado de
Sacco provou que ele estava trabalhando no horário em que aconteceu o crime. Um
menino que vendia peixes, confirmou que Vanzetti estava comprando seu produto
na hora do crime. Nada disso foi levado em consideração. Então aconteceu algo
ainda mais surreal, que foi a chamada “batalha dos peritos”.
Um destes peritos disse que a bala “poderia” ter saído da arma de Sacco.
Não confirma, apenas diz que “poderia”. Já outro perito, diz que a bala não foi
disparada pela pistola de Sacco. Fez um diagnóstico minucioso e testes de
balísticas. Portanto, terminou “empatada” a “batalha dos peritos”. Os jurados
precisavam ponderar e escolher entre as duas interpretações contraditórias. Se
o revólver de Sacco não disparou a bala que matou o funcionário da fábrica,
desaparece um dos principais argumentos da acusação. Então surge uma testemunha
que diz que o assassino usava um boné. Isso foi o suficiente para
incriminá-los. É importante lembrar que nesta época, quase todo mundo usava
boné. Este “detalhe” não foi levado em conta.
Um imigrante português confessou ter participado deste assalto, e
apresentou uma versão razoável do ocorrido. Negou o envolvimento de Sacco e
Vanzetti no crime. Um policial disse que havia sérias suspeitas sobre uma
quadrilha, mas nada disso convenceu o juiz. Vanzetti declarou; “nunca cometi
delito algum em toda a minha vida, e sempre combati os crimes que a lei oficial
e a lei moral permitem; que é a exploração do homem pelo homem”. No dia 23 de
agosto Sacco e Vanzetti foram executados na cadeira elétrica.
No dia seguinte, o jornal Humanité, da França, publica em sua capa em letras garrafais; “Assassines!” Uma grande indignação tomou conta dos operários em todo os Estados Unidos. O caso gerou revoltas em diversos países de várias regiões do mundo, como; Itália, França, México, Inglaterra, Alemanha, União Soviética, Brasil, Portugal, Espanha, Argentina, entre outros. O grande problema da chamada “pena capital”, é que no caso de comprovação de que houve um erro judiciário, não tem como ressuscitar os executados.
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