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segunda-feira, 22 de julho de 2024

A Seleção perdeu suas raízes, de Blog de mariomarcos.wodpress.com

Marcelo Bielsa, um profundo estudioso do futebol, obcecado pela perfeição e tão detalhista que tem mais de 3 mil vídeos de jogos em casa, tocou no ponto. Em entrevista na véspera do jogo em que seu Uruguai eliminou o Brasil na Copa América (foto), Bielsa lembrou os tempos em que o jogador brasileiro passava várias temporadas no clube antes de ser negociado e lamentou que hoje os Endricks, Estêvãos e Vinis tomem o rumo da Europa ainda adolescentes – e se afastem de suas origens.

Como vão cedo para o Exterior, eles completam a formação técnica e profissional longe do país. Com isso, se integram a uma nova escola – e perdem quase sempre o vínculo com suas raízes. Com isso, em muitos momentos, parecem deslocados quando são convocados para a Seleção Brasileira. Vestem a camiseta, ouvem e até cantam o Hino, falam em vitórias, mas são quase sempre jogadores muito distantes do afeto da torcida – que substitui a antiga paixão pela Seleção (houve um tempo em que até os treinos ganhavam narrações como se fossem jogos) pelo afeto aos clubes, até porque eles estão sempre por perto.

A Seleção da Copa América foi exatamente assim. Uma equipe fria, sem o nível técnico que antes diferenciava o futebol nacional, e que já não abala mais a torcida, mesmo em momentos de crise técnica como a atual.

Bielsa ampliou o problema para todo o futebol sul-americano, tão incapaz de resistir ao dinheiro que vem do Exterior como os brasileiros, mas o caso do Brasil parece inigualável. O problema vem de muito tempos, como mostra o recorte da página na ilustração.

Em agosto de 2006, escrevi sobre isso na coluna Bola Dividida, de Zero Hora. Naquele período, o futebol gaúcho vendia dois dos jogadores mais promissores do país, o meia Anderson e o atacante Alexandre Pato. Eram parte de uma nova realidade, o avanço do futebol europeu para conquistar jogadores talentosos ainda em formação.

Na coluna, escrevi:

“(…) Negociados ainda adolescentes, estes jogadores completarão sua formação no futebol europeu, que tem características bem diferentes do brasileiro e deixarão o futebol nacional sem sua verdadeira identidade. Nessa hora, como todos acabam indo para a Europa, a própria Seleção será atingida. Terá de buscar recursos longe das raízes…”

Meu pessimismo confirmou-se rapidamente. Todos apostavam, por exemplo, que Anderson – vital para a volta do Grêmio à Série A – e Alexandre Pato – de carreira fulminante no Inter e campeão mundial no fim daquele ano – seriam os craques da Seleção na Copa seguinte. Ficou na esperança. Tiveram sucesso em seus clubes, mas rapidamente deixaram de ser apostas para a Seleção. E, como eles, dá para lembrar de vários casos de jogadores, de jovens que ficaram longe do que se esperava.

E o que fazer agora, depois de mais de 20 anos de ataques aos berçários dos clubes? Será um trabalho complicado, mas uma saída talvez seja olhar para mais perto. Em vez de convocar jogadores comuns do Exterior porque jogam em clubes do nível de Girona, Fulhan, Aston Villa e assemelhados – sabem como é, nossa mentalidade de colonizados valoriza tudo que vem de fora -, talvez seja melhor em alguns casos apostar nos que estão perto.

Pode não dar certo, mas será preciso tentar. Até porque – é bom lembrar no momento em que o fiasco dos 7 a 1 completa 10 anos – os que vêm de fora têm fracassado como nunca, como confirma a eliminação na Copa América e o atual sexto lugar nas Eliminatórias.

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