Fenômeno da violência religiosa tendo por origem o fundamentalismo dos EUA sob o “sacerdócio” de Trump
Jesus era sábio.
Conhecia os segredos do coração humano. Psicanalista insuperável. Disse: “O
homem bom tira coisas boas do seu tesouro. O homem mau tira coisas más do seu
tesouro”. Ou seja: a gente sempre encontra aquilo que está procurando. Isso se
aplica à leitura que se faz das Escrituras Sagradas. Pessoas que estão cheias
de medo, de sentimento de vingança, de autoritarismo encontrarão na Bíblia
ameaças, castigos, infernos, um Deus cruel e vingativo: parecido com elas.
[1]
Na terça-feira (4),
com a sua hostil transparência, Donald Trump defendeu a ideia de expulsar
os palestinos da faixa de Gaza para transformar o território numa
“Riviera do Oriente Médio”. Nos ambientes evangélicos fundamentalistas,
gritaram glória, aleluia e amém!
O Café da Manhã
Nacional de Oração no Capitólio, realizado em Washington na quinta-feira (6),
que ocorre há mais de 70 anos, é frequentado por congressistas, tanto do
Partido Republicano quanto do Partido Democrata. Em tom messiânico, o
Presidente Trump afagou o público do nacionalismo cristão ao anunciar que
determinará a criação de uma força-tarefa para erradicar o preconceito
anticristão. Segundo ele, há atualmente nos Estados Unidos “violência e
vandalismo anticristão” passível de criminalização.
Talvez, um modesto
recuo histórico nos ajude a dimensionar o que viria a ser esse movimento
cristão radical ensejado pelos fundamentalistas na atualidade.
Como conciliar a
exegese do texto bíblico com os avanços técnicos-científicos e o
desenvolvimento das ciências naturais e históricas em plena modernidade? Parece
impossível, num primeiro olhar.
A exegese
histórica-crítica surgiu entre os protestantes não sem resistências. Nesse
turbilhão de fatos históricos, revoluções científicas e sociais em curso, no
início do século XX nos Estados Unidos, as reações à modernidade, que se
manifestaram de forma mais contundente com a exegese histórica-crítica,
ganharam contornos que ficaram conhecidos como fundamentalismo.
Além da afirmação
exaltada da inerrância da Bíblia, os fundamentalistas publicaram uma série de
fascículos que versavam sobre pontos cruciais da fé. Segundo eles, não havia
qualquer possibilidade de negociar certezas ou flexibilizar doutrinas.
Revisionismo dos grupos religiosos em suas práticas não era tolerado. Abertura para debates ensejados pela exegese histórica-crítica, para os fundamentalistas, não estava em questão. Portanto, entre 1910 e 1915, nos Estados Unidos, o fundamentalismo se estruturou nas igrejas protestantes enquanto reação à modernidade.
A Bíblia interpretada
literalmente, jamais lida de forma simbólica. Para os fundamentalistas: o mundo
foi criado em seis dias, Adão e Eva foram figuras históricas, o dilúvio de Noé
aconteceu tal como foi narrado no livro de Gênesis, os milagres aconteceram
conforme descritos no texto, Enoque viveu mesmo 365 anos… Enfim, levam ao pé da
letra o texto bíblico.
Os níveis de
articulação entre os fundamentalistas protestantes contemporâneos nos Estados
Unidos. São tantos, e com tamanho poder de articulação que conceberam na vida
pública americana o movimento que ficou conhecido como “maioria moral”. Tal
movimento cumpriu papel importante nas recentes eleições norte-americanas para
eleger presidentes conservadores: Ronald Reagan (1980); George Herbert Walker
Bush — pai (1988); George Walker Bush — filho (2000).
As ações da “maioria
moral” como ator político nas duas eleições do Donald Trump (2016 e 2024) são
evidentes. É fato: a agenda da “maioria moral” foi assumida por Donald Trump
com extremo ímpeto. Inclusive, enquanto fervor religioso que se manifesta com linguagem
violenta.
As reações aqui no
Brasil nos grupos evangélicos fundamentalistas foram de santa euforia como se
estivéssemos diante de uma nova religião. Fervor violento e com ambições
universalistas. Os ressentidos da modernidade vêm a Trump pela fé na nova ordem
mundial comandada pelo nacionalismo cristão.
[1] Alves, Rubem. As cores do
crepúsculo: A estética do envelhecer. Campinas, SP: Papirus, 2013. p. 111
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