De Mario Marcos -https://mariomarcos.wordpress.com
O mais assustador é que estas
pessoas estavam bem pertinho de nós.
Circulavam
nas áreas comuns do edifício, nas sessões nas academias de ginástica, nas ruas
do bairro, nos corredores dos supermercados, nas filas dos cinemas e nas
paradas de ônibus.
Hoje,
vivem em um mundo assustadoramente paralelo.
Rezam
com as mãos encostadas nos muros dos quartéis, como se estivessem em um lugar
sagrado de orações, imitam pateticamente a marcha dos soldados com um cabo
fazendo as vezes do fuzil, viram memes ao viajar seguros precariamente nas
grades de um caminhão, falam na chegada do comunismo sem nem explicar de onde
ele vem, parecem não ter vergonha de se expor do ridículo.
Não é
só. São intolerantes. Muitas vezes, agridem quem pensa diferente, bloqueiam
ruas, apelam por intervenção militar sem se dar conta de que numa ditadura nem
poderiam protestar. Não poupam idosos nem crianças.
Dias
atrás, assisti a um vídeo inacreditável.
Um
senhor de terno e gravata parou em frente a um monumento dedicado a Simon
Bolívar, no Pará, citou os países que são nomeados perto do busto do Libertador
(Venezuela, Colômbia, Peru, entre outros) e anunciou aquilo como prova de que o
comunismo tinha chegado ao Brasil. Pediu, no fim, sem perceber o ridículo, que
o vídeo fosse compartilhado, orgulhoso do feito.
É,
Bolívar, o homem que liderou um gigantesco movimento para livrar países da
América do Sul do domínio espanhol, tinha trazido o comunismo – com a eleição
do Lula. Bota louco nisso.
Umberto
Eco disse certa vez que as redes sociais deram voz aos idiotas. O bolsonarismo
fez mais do que isso. Como se tivesse tirado a tampa de algum buraco, liberou
uma parcela assustadoramente retrógrada e alienada, capaz de apoiar movimentos
antidemocráticos, de dar vexames aqui e no Exterior, de se sentir confortável
ao defender a terra plana.
O
mais grave é que ninguém é poupado. Estão lá médicos, advogados, engenheiros,
como se todos participassem de um delírio coletivo, incapazes de perceber o
rumo.
É
claro que boa parte dos eleitores da chapa derrotada, mas a parte que mostra as
caras é um desconforto para o país.
Este
pessoal vivia (e vive) ao nosso lado. Não é assustador?