Powered By Blogger

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Desorganizada a Susepe: "Crise na cadeia, reflexo nas ruas"

Presos expulsos de galeria elevam tensão no Central

Com detentos há cinco dias na área externa, direção busca transferências para outras unidades

O Presídio Central de Porto Alegre já é conhecido por não ter celas e manter os presos soltos em galerias superlotadas. Agora, nem esses locais limitam a presença dos detentos. Completaram ontem cinco dias que 164 deles, expulsos por líderes de uma facção criminosa da 2ª Galeria do Pavilhão A, dormem em um dos pátios da casa prisional. O impasse entre os presos agrava ainda mais a falta de vagas no sistema prisional gaúcho, revela o descontrole dentro da maior cadeia do Estado e tem reflexo direto nas ruas da Capital.
A expulsão é consequência do assassinato de João Carlos da Silva Trindade, o Colete, 39 anos, apontado pela polícia como um dos líderes do tráfico de drogas na zona leste da cidade. Ele foi executado quarta-feira passada, na Vila Maria da Conceição, bairro Partenon. Colete era quem mantinha o elo entre dois grupos que dividiam a 2ª Galeria do Pavilhão A, controlada pelos traficantes da zona leste. Até a morte dele, também ocupavam lugares na galeria criminosos ligados a uma quadrilha originária da Vila Cruzeiro, zona sul da cidade. Foram justamente estes os presos expulsos pela liderança da facção após a execução.
"Era o Colete quem mantinha o elo entre esses grupos. Desde o dia da sua morte estamos atentos, colhendo informações e tentando agir preventivamente, sobre possíveis represálias do grupo que levou a pior na cadeia" - diz o delegado Rodrigo Reis, da 1ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre (DHPP).
O diretor do Central se reuniu ontem de manhã com representantes da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) e da Vara de Execuções Criminais, na tentativa de encontrar uma saída para a situação dos presos e evitar confrontos dentro do presídio. À tarde, com o Ministério Público. Familiares de detentos protestam contra a transferência e alegam que os homens estão no pátio sem água e comida desde quinta-feira.
"A situação é crítica, mas no Presídio Central não temos mais o que fazer por estes presos. Estamos mantendo a situação sob controle dentro da prisão, mas falta espaço em outras galerias para colocá-los. O que estamos fazendo é garantir alimentação e local para a higiene dos detentos" - afirma o diretor do Central, tenente-coronel Marcelo Gayer.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Susepe limita-se a dizer que está buscando vagas em outras casas prisionais "na medida do possível". E não estabelece prazo para que a situação dos detentos seja solucionada.
"Conversamos com os familiares dos presos sobre as possibilidades de alocarmos alguns em outras casas prisionais ou internamente, em outros espaços do presídio" - detalha o comandante.
Nas ruas

A crise na cadeia, avalia a polícia, representa o maior risco de explosão de novos conflitos do tráfico em Porto Alegre. O impasse dentro do Central tem reflexo direto nas ruas.
Na noite de segunda-feira, a morte de Alexandre Vieira da Silva, 38 anos, na Rua Irmã Neli, no coração da Vila Maria da Conceição, foi mais um capítulo da guerra do tráfico de drogas na região que teve seu estopim com a execução de Colete. No ataque de segunda, uma mulher também acabou atingida por uma bala perdida em um dos braços.
Durante toda a noite de segunda- feira e a madrugada de terça, os ônibus não circularam pela região. No começo da manhã, com o policiamento reforçado, as coletivos retornaram às ruas. De acordo com o delegado Rodrigo Reis, o homem morto na segunda não tinha antecedentes criminais ou qualquer envolvimento com a criminalidade. A polícia apura se os atiradores, em um Idea, teriam feito disparos a esmo pela vila. O crime é investigado como sendo uma ação de represália de possíveis comparsas do grupo expulso.

EDUARDO TORRES/ZH

Nenhum comentário:

Postar um comentário