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terça-feira, 31 de outubro de 2017

RS é o segundo Estado no país com mais chacinas

Dados do anuário da Segurança Pública revelam ainda que, a cada hora, sete pessoas são assassinadas no Brasil

O Rio Grande do Sul é o segundo Estado do país com maior número de chacinas. Em 2016, foram 26 homicídios com três ou mais vítimas, deixando 90 mortos no Estado - no ano anterior, foram registradas 15 chacinas, com 50 mortos. Conforme o levantamento do 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, somente o Rio de Janeiro, com 136 vítimas em 41 chacinas, está à frente na estatística que escancara o clima de guerra entre facções criminosas rivais. No ano passado, o RS ultrapassou São Paulo nesse levantamento. Lá, houve metade das vítimas nesse tipo de homicídio.
O anuário foi apresentado na manhã de ontem pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com a constatação de que o Brasil chegou, em 2016, a um recorde de mortes violentas intencionais. Foram 61.619 casos. Em média, sete pessoas são assassinadas por hora no país.
"É a demonstração de que já atingimos um estágio acima da disputa territorial e comercial entre grupos de traficantes. Os homicídios não se limitam mais a um rival atacando o outro com um alvo determinado. São, em boa parte dos casos, criminosos levados de outra região, sem qualquer vínculo com o local que é alvo, muito bem armados e inconsequentes. Então, até existe um alvo, mas quem estiver junto é encarado por eles, naturalmente, como também vítima em potencial" - explica o diretor de investigações do Departamento de Homicídios de Porto Alegre, delegado Gabriel Bicca.
Segundo o policial, a intenção na maior parte das vezes é a demonstração do poder de fogo de um grupo sobre outro. A tomada de pontos de tráfico virou objetivo secundário.
"Se formos analisar o público consumidor de drogas em um bairro como a Restinga, por exemplo, não haveria motivo para um grupo tentar tomar o ponto do outro. Cada boca tem sua lucratividade. Mas a questão não parece ser mais comercial" - preocupa-se o delegado.
Conforme o levantamento da editoria de Segurança dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho, a Região Metropolitana concentra a maior parte dos casos de chacinas. Foram pelo menos 49 vítimas em 15 ataques. Foi assim na noite de 6 de junho do ano passado, no bairro Cidade Verde, em Eldorado do Sul.
Cinco homens foram mortos e um ficou ferido em um ataque a tiros que teve início na esquina de um bar. Segundo a polícia, o local funcionava como ponto de tráfico, mas os homens mortos, incluindo um adolescente, não seriam os alvos dos atiradores. Estes teriam sido levados até lá por um comparsa, no que é conhecido como um bonde.

Autores de mortes foram denunciados

Quatro homens foram denunciados pelo Ministério Público como autores da chacina. Todos eram integrantes de uma facção, e moradores da zona norte de Porto Alegre.
O crime foi gravado em áudio por eles. E demonstra característica comum às últimas chacinas no Estado. Ao retornarem ao carro para fugir do local, um dos criminosos questiona se as vítimas eram mesmo os alvos. Outro responde:
"Se não era, azar."
Segundo a delegada Patrícia Sanchotene, num primeiro momento, a motivação deles era a vingança pela morte do irmão de um dos réus.
"Acabou se tornando uma questão de demonstração de poder da facção mesmo. Queriam mostrar que são melhores armados e não poderiam ser desafiados" - avalia a responsável pela investigação.
Para o sociólogo Rodrigo de Azevedo, que integra o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o dado das chacinas não chega a surpreender.
"Reflete bem o ambiente de guerra entre grupos rivais. O mercado da droga aumenta o seu poder com armamentos, diante da falência do Estado. O anuário é um retrato do desastre anunciado" - critica.
Outros crimes graves e que apresentam dados alarmantes no Estado (veja dados abaixo nessas páginas) também foram divulgados: homicídios, latrocínios, feminicídios, mortos pela polícia e roubos de veículos.
EDUARDO TORRES e LETICIA MENDES/ZH

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