O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Jair Bolsonaro estava contando com um golpe para voltar dos Estados Unidos e reassumir o poder. Em entrevista à Globonews, Lula prometeu se reaproximar dos militares, mas quer as Forças Armadas despolitizadas. O presidente também acusou a Polícia Militar do Distrito Federal de negligência e afirmou que os serviços de inteligência das Forças Armadas e da Presidência não funcionaram para evitar os atos do dia 8 de janeiro, quando os prédios do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal foram invadidos e depredados.
“Fiquei com a impressão que era o começo de um golpe de estado. Me dava a impressão de que Bolsonaro sabia de tudo o que estava acontecendo e estava esperando voltar para o Brasil na glória de um golpe”, disse o petista.
Depois de ter declarado publicamente que tinha
perdido a confiança de parte dos militares e avisar que as Forças Armadas, Lula
terá encontro com os comandantes das três Forças ainda esta semana. Numa
tentativa de se reaproximar da caserna, o presidente disse que já encomendou ao
Exército, Marinha e Aeronáutica uma lista do que precisam em recursos e
estrutura para se modernizar, um discurso que costuma agradar os oficiais da
cúpula. Lula reiterou, no entanto, que não quer ver os militares envolvidos com
a política.
“O importante é despolitizar as Forças Armadas. O soldado, o sargento e o coronel é do Estado. Não é Exército do Lula, do Bolsonaro, eles têm que defender o Estado brasileiro, a Constituição. Eu quero conversar com eles (os comandantes) abertamente. Quero manter uma relação civilizada. Convivi dignamente com as três Forças. Não quero ter problemas com as Forças, nem que elas tenham problema comigo. Quero que a gente volte à normalidade” disse Lula, acrescentando: “As pessoas estão aí para cumprir as suas funções e não para fazer política. Quem quiser fazer política tira a farda, renuncia ao seu cargo, cria um partido político e vai fazer política. Mas enquanto estiver a serviço nas Forças Armadas, enquanto estiver na Advocacia Geral da União, no Ministério Público, essa gente não pode fazer política”.
Lula contou que, no dia 8 de janeiro, ao
acompanhar pelo computador de Araraquara, as imagens de invasão dos prédios
públicos, ligou para o general Gonçalves Dias, chefe do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI) e cobrou: “Onde estão os soldados?”.
O petista admitiu que ficou irritado com a
falta de ação do setor de segurança. Acusou a PM do DF de ter sido negligente,
deixando os extremistas invadir os prédios, mas também apontou sua raiva para o
setor de inteligência do governo. Para ele, falharam as inteligências do
Exército, da Marinha, da Aeronáutica e também do GSI. “Houve um erro elementar:
minha inteligência (de governo) não existiu”, declarou.
O petista relatou que na sexta-feira que
antecedeu à tentativa de golpe recebeu informações de que havia apenas 150
acampadas na frente do QG do Exército e estava tudo tranquilo. No fim de
semana, no entanto, como revelou o Estadão, caravanas de ônibus se dirigiram a
Brasília aumentando para 4 mil o número de extremistas na frente do quartel
militar. Lula afirmou que no dia da ocupação havia 8 mil pessoas participando
dos atos golpistas.
Apesar da insatisfação com a atuação dos
militares, Lula saiu em defesa do ministro da Defesa, José Múcio. “Zé Múcio é
meu amigo, eu confio, tem muita habilidade política. Tem gente que quer sair
logo na porrada. Não é assim”. Também indicou que não pretende trocar os
comandantes das Forças. “Você não pode substituir o jogador porque ele perdeu
um gol. Tem que ver onde houve um erro nosso, negligência. Foi pego todo mundo
de surpresa. O alerta é que a gente não pode mais ficar desprevenido”.
Lula defendeu apuração de todos os
responsáveis pela invasão e a efetiva punição dos culpados. “Se Bolsonaro tiver
participação direta no que aconteceu ele tem que ser punido”, afirmou. O
petista disse, no entanto, que se opõe a ideia de se criar uma CPI para
investigar a tentativa de golpe.
Segundo ele, participaram dos atos
bolsonaristas, mas também profissionais que estavam preparados para invadir e
ocupar prédios públicos com intenção de derrubar o governo eleito. O presidente
afirmou que a sociedade brasileira precisa de paz e que o discurso de ódio não
fez bem ao País. “Nos últimos quatro anos, o que nós vimos foi ódio disseminado
todos os dias. A quantidade de fake news, as coisas mais absurdas que eu jamais
acreditei que as pessoas pudessem acreditar”.
Na entrevista, Lula voltou a reclamar que não
pode ocupar o Palácio da Alvorada. Seu antecessor teria deixado a residência
sem condição de habitabilidade. “Deve ser o único caso da história em que o
presidente não tem casa para morar”, disse, contando que ao visitar o prédio
não havia nem cama no quarto e que as instalações estavam “semidestruídas”.
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