O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos Rodrigues, afirmou que documentações enviadas pelo Federal Bureau of Investigation (FBI) corroboram a delação premiada feita pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As declarações foram feitas em entrevista à CNN.
Os documentos enviados pela FBI à polícia
brasileira são sobre o
caso do esquema ilegal de venda de joias da Presidência da República. Segundo o diretor-geral da PF, apenas parte
das informações cedidas pelo FBI chegaram até o Brasil e outras devem chegar em
breve. “É um processo lento que depende da autoridade central do outro país e
da nossa autoridade central”, afirmou.
“Já
começamos a receber as primeiras documentações e as primeiras informações que
vão na esteira do que falávamos antes e vão corroborando aos depoimentos e a
própria colaboração premiada que foram feitas, e isso robustece as nossas
provas”, disse o diretor-geral da PF.
A PF acionou o FBI para avançar as investigações
sobre o esquema em agosto deste ano. Em outubro, o governo dos EUA permitiu que o
órgão atuasse para investigar as transações feitas por aliados de Bolsonaro no
país.
O diretor-geral da PF também disse que a PF já identificou que
foram feitas manifestações financeiras ilegais e os participantes serão punidos
ao final das investigações. “Houve, de fato, essas transações que estão sendo apuradas
e aqueles que, em alguma medida, tem participação, serão responsabilizados”,
afirmou Passos.
Documentos
do FBI provariam que Wassef recomprou Rolex dado a Bolsonaro
Documentos enviados pelo FBI para a PF provariam que o advogado Frederick
Wassef recomprou um relógio da marca Rolex dado a Bolsonaro
para atender a um pedido de Mauro Cesar Lourena Cid, pai do ex-ajudante de
ordens.
Essas
novas provas contradizem a versão do advogado. Ele afirmou que recomprou o
artigo de luxo por livre e espontânea vontade. A existência dos documentos do
FBI foi revelada pela GloboNews.
Ao Estadão, Wassef disse que não conhece o general
Lourena Cid. Ele também disse que os documentos do FBI não revelam nada que ele
já não tenha admitido. “Alguém vem vazando informações de forma reiterada e
criminosa, adicionando informações falsas para atingir a minha imagem e
reputação”, disse o advogado.
Cid disse em
delação que entregou dinheiro de esquema ilegal para Bolsonaro
Na delação premiada feita para a PF, Mauro Cid disse que
entregou para o ex-chefe do Executivo uma parte do dinheiro da venda de
joias recebidas pela Presidência da República no exterior. O
ex-ajudante de ordens disse acreditar que a venda de joias dadas ao
ex-presidente poderia ser considerada imoral, mas não ilegal.
De acordo com Mauro Cid, a ideia de vender as peças surgiu
como uma forma de “bancar as despesas” processuais de Bolsonaro. “O
presidente estava preocupado com a vida financeira. Ele já havia sido condenado
a pagar várias multas”, disse o tenente-coronel à PF.
As tentativas de vender as peças só cessaram após o Estadão revelar,
em março, que auxiliares de Bolsonaro tentaram entrar ilegalmente no
Brasil com um kit composto por colar, anel, relógio e um par de
brincos de diamantes entregues pelo governo saudita para o então presidente e Michelle Bolsonaro.
Ao Estadão, em agosto, o ex-chefe do Executivo alegou que Mauro Cid tinha
“autonomia” para agir. A declaração foi em resposta ao questionamento
se o ex-presidente havia pedido para seu subordinado vender joias no exterior e
trazer de volta o dinheiro para o País.
‘Há consistência’
em delação de Cid, diz diretor-geral da PF
Na entrevista cedida à CNN, Andrei Passos disse que a delação
premiada de Cid auxiliou os investigadores a descobrir provas sobre o esquema
ilegal de joias. “Há muitos elementos já apontados que nos permitem,
confrontando com os demais elementos já colhidos nos autos, identificar que, de
fato, há consistência e há bons caminhos para que as provas venham aos autos”,
afirmou.
Cid foi preso no dia 3 de maio, em uma operação da PF
que investiga a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema da Ministério da
Saúde. Após ter a delação premiada homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, foi liberado do quartel onde estava detido no dia 9 de
setembro.
Enquanto Bolsonaro comandava o País, Mauro Cid teve acesso livre ao Palácio do Planalto e esteve ao
lado do ex-presidente em entrevistas, lives, reuniões e até em
salas de cirurgia em hospitais, sendo o braço-direito e secretário particular
de Bolsonaro nos quatro anos do governo passado. As memórias e os acessos que teve nos
últimos quatro anos tornam a delação um problema para o ex-chefe do Executivo.
Outra informação de Cid à PF na delação premiada foi a de que
Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas, após o
segundo turno das eleições presidenciais, para discutir a possibilidade de uma
intervenção militar para reverter o resultado que elegeu o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
para a Presidência.
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