Sorte do Brasil que os estrategistas eram trapalhões, porque isso evitou uma ditadura mais sangrenta que a de 1964
O amadorismo dos civis e militares envolvidos
no planejamento do golpe fracassado de 2022 livrou o Brasil de uma
ditadura que começaria mais sangrenta do que a de 1964. Mais
sangrenta porque de largada previa o assassinato do presidente Lula, do vice
Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes.
Os trapalhões não só bolaram um plano cheio de furos,
como deixaram rastros por todos os lados. Acabaram facilitando o
trabalho da Polícia Federal na apuração do planejamento do golpe, que
teve desde reunião na casa do general Braga Netto até impressão do plano
criminoso numa máquina do Palácio do Planalto.
O número
inédito de integrantes das Forças Armadas indiciados pela Polícia
Federal só existe porque o golpe fracassou. Se tivesse sido consumado, seria
como em 1964, sem militares presos. Por isso não cola a justificativa de
que planejar não é crime e que não se pode punir os idealizadores. O
Código Penal prevê, sim, a punição para quem se organiza em grupos na tentativa
de abolir de forma violenta o Estado democrático de direito.
Os crimes
atribuídos a Bolsonaro somam cerca de 40 anos de prisão, na hipótese de
ser denunciado e condenado em todos, sem atenuantes. Como esse é um processo
relativamente demorado, a maior punição será a política. Que
político ficará atrelado a um ex-presidente que hoje já está inelegível e que
tende a desmoronar nos próximos meses? É óbvio que a direita não ficará
esperando por Bolsonaro e tratará de se organizar para ter um
candidato viável em 2026.
Os rastros deixados em celulares, que permitiram
identificar até a campana feita pra tentar sequestrar Alexandre de Moraes, só
podem ter duas explicações: falta de inteligência ou certeza de
impunidade. Se os generais próximos de Bolsonaro foram capazes de uma
patacoada como essa, imagine-se o que fariam se o Brasil estivesse em guerra
contra um inimigo externo. Sorte do Brasil que as Forças Armadas são
maiores do que o grupelho golpista e que ainda há generais como Freire
Gomes e brigadeiros como Baptista Júnior, que frearam a aventura.
De Bolsonaro, que foi um mau militar e incitou a baderna
nos quartéis quando era capitão, não surpreende a trapalhada. De
generais como Augusto Heleno e Braga Netto era de se imaginar que
tinham alguma noção de estratégia militar.
ALIÁS
Duas consequências imediatas do indiciamento
de Jair Bolsonaro e de outras 36 pessoas envolvidas na selvageria do 8 de
janeiro: o projeto de anistia perde força no Congresso e o ex-presidente pode
dar adeus ao sonho de voar para os Estados Unidos a fim de assistir à posse de
Donald Trump. Ele teve o passaporte apreendido e precisaria de uma licença
especial do ministro Alexandre de Moraes para sair do país.
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