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segunda-feira, 19 de junho de 2017

O medo nas ruas

"É perturbador chegar ao local onde está um corpo e saber que conhecia aquele guri. Saber que ele morreu daquela forma violenta. A gente não quer se envolver, mas como chegamos quase na hora do crime, é difícil não ouvir alguma coisa, saber como aconteceu. Isso é muito ruim. Mudou muito a nossa rotina."

Quem conta a mudança é um dos funcionários da funerária de São José do Norte, na Região Sul, pedindo para não ser identificado. O município de 27 mil habitantes vive dias de tensão desde o começo do ano. Em apenas quatro meses, 14 pessoas foram assassinadas – 13, conforme a Polícia Civil, por crimes decorrentes da disputa entre facções. É quase o triplo de todos os homicídios registrados em 2016 no município.

A prefeitura chegou a decretar situação de emergência. Dois policiais reforçaram a equipe da delegacia local e a Brigada Militar fez algumas ações com o Pelotão de Operações Especiais (POE), de Rio Grande. Desde o mês passado não houve novos homicídios, mas quem disse que o medo diminuiu?

"Tivemos uma tentativa de homicídio da forma como a população mais teme. Foi uma senhora atingida nas pernas quando andava pela rua no momento em que um homem atirava contra outro. Isso assusta ainda mais as pessoas" – aponta o delegado Ronaldo Coelho.
São José do Norte tornou-se este ano um último ponto sob disputa na Região Sul. Em plena expansão, um grupo criminoso de Rio Grande, ligado à facção Os Manos, teria financiado jovens traficantes locais para controlar a cidade. Isso acabou afugentando os rivais, que teriam recebido amparo dos Bala na Cara para tentar retomar os pontos.

Conforme a polícia, um traficante atualmente preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) conseguiu arregimentar um pequeno império. Tem controle absoluto na prisão e nas ruas de Rio Grande e aliou-se ao grupo local conhecido como Os Tauras, de Pelotas, para também ter influência na outra grande cidade da região.

A área concentra uma rota importante para a entrada de armas no Estado. A negociação com a facção na Região Metropolitana incluiria, conforme apontou mais de uma investigação policial do Vale do Sinos, o envio de carros roubados para o Sul, como moeda de troca por armas do Uruguai.

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