Leandro
Prazeres
Do UOL, em Brasília
Parlamentares da oposição se mobilizaram hoje para tentar barrar o decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) que exonerou os integrantes MNCPT (Mecanismo Nacional do Combate à Tortura).
O grupo é responsável por apurar denúncias e avaliar políticas públicas de
combate à tortura e outros tipos de tratamentos cruéis em instituições do
estado. Os deputados federais Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Maria do Rosário
(PT-RS) protocolaram projetos de decreto legislativo para sustar a validade do
decreto assinado por Bolsonaro.
O decreto do presidente Bolsonaro foi
publicado hoje no DOU (Diário Oficial da União). Ele exonerou a atual equipe de
peritos do mecanismo e extinguiu os cargos remunerados do grupo. No papel, o
mecanismo continua funcionando, mas, a partir de agora, os futuros integrantes
dele não serão mais remunerados.
Para o recém-exonerado coordenador do
grupo, Daniel Melo, a não remuneração dos integrantes do grupo inviabiliza o
seu funcionamento. Isso porque o mecanismo prevê a realização de diversas
viagens a locais como presídios e delegacias em todo o Brasil, o que exigiria
dedicação exclusiva.
Para o deputado
Marcelo Freixo, a exoneração do grupo e extinção dos cargos remunerados é um
retrocesso.
"Este é mais um retrocesso absurdo desse governo. O Brasil é um país que é marcado pela prática da tortura. Sem os cargos, o resultado é que o mecanismo fica inviabilizado. Se você não tem um processo de fiscalização, o que vai acontecer é que a tortura vai continuar acontecendo livremente", afirmou.
Freixo afirmou que a medida
tomada por Bolsonaro é uma "homenagem" do presidente a torturadores.
"O Bolsonaro sempre defendeu a tortura publicamente. Agora, como presidente, ele faz uma homenagem à tortura e a torturadores. Ele transforma a prática da tortura em prática de gestão na contramão do mundo", disse.
O
projeto de decreto legislativo precisa ser aprovado na Câmara e no Senado para
poder entrar em vigor. Nos dois casos, ele precisa ser aprovado pela maioria
simples, ou seja: metade mais um dos presentes à sessão.
Maria do Rosário e
Marcelo Freixo disseram que irão recorrer ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ) para que ele coloque os projetos de decreto legislativo em regime de urgência
para que sejam votados com mais celeridade.
O presidente do CNDH
(Conselho Nacional de Direitos Humanos), Leonardo Pinho, disse também que iria
recorrer ao MPF (Ministério Público Federal) e à DPU (Defensoria Pública da
União) para tentar barrar o decreto.
A reportagem
procurou a Presidência da República e o MMFDH (Ministério da Mulher, Família e
Direitos Humanos) - órgão ao qual o mecanismo estava vinculado.
O ministério afirmou que "os cargos em comissão foram extintos, mas a função de perito permanece, com as mesmas prerrogativas pela prestação do serviço público de peritos, podendo atuar normalmente, com independência funcional suficiente para a realização das perícias, o que não foi, nem de longe, alterado pelo novo decreto”.
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