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terça-feira, 3 de setembro de 2024

Governo Melo firmou contratos milionários para alojamento de desabrigados após abertura de centro da ONU

Contratos com OSCs preveem repasses de até R$ 4,2 milhões para abrigos provisórios, enquanto CHA Vida opera com menos da metade da capacidade

A Prefeitura de Porto Alegre firmou, em julho deste ano, três contratos com Organizações da Sociedade Civil (OSCs), com valores que, somados, poderiam chegar a quase R$ 4,2 milhões, para a instalação de até 10 abrigos voltados para o acolhimento de desabrigados da enchente de maio na Capital. A expectativa era de que fossem acolhidas 50 pessoas por abrigo, totalizando 500 vagas. Contudo, em visita a dois dos abrigos já instalados na semana passada, a reportagem do Sul21 constatou que eles operavam com um número baixíssimo de desabrigados da enchente, inferior a 10 pessoas nos dois espaços.

Chama a atenção também o fato de que os contratos foram firmados após a abertura do Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) Vida, no bairro Rubem Berta. Montado pelo governo do Estado em parceria com a Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para as Migrações (OIM), que faz a gestão, o CHA Vida tem capacidade para receber 848 pessoas, em instalações individualizadas para famílias ou coletivas para homens e mulheres solteiros, com amplo refeitório e espaços e suplementos adequados para que desabrigados possam permanecer ao menos por seis meses.

O prefeito Sebastião Melo participou, em 6 de junho, do ato de assinatura do termo de cooperação para instalação e manutenção dos CHAs, que originalmente deveriam ser três em Porto Alegre, mas apenas um foi instalado em razão da falta de demanda. Em 11 de julho, quando o CHA Vida foi inaugurado, Melo mais uma vez esteve presente. “Esse esforço coletivo vai devolver o mínimo de dignidade às pessoas que perderam tudo nas enchentes de maio”, disse, na ocasião.

Desde a abertura do Centro, o espaço tem operado bem abaixo de sua capacidade total. De acordo com os dados atualizados no final da tarde desta quarta-feira (21) no painel de Monitoramento de Abrigos Eventos Adversos 2024 do governo do Estado, Porto Alegre tem 510 pessoas desabrigadas acolhidas em 10 instituições, sendo 332 delas no CHA Vida.

Na última sexta-feira (16), a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) informou à reportagem que a Prefeitura registrava 158 pessoas em acolhimento em sete abrigos parceirizados, o que incluía 90 pessoas em situação de rua e, os demais, desabrigados da enchente. Além disso, outros dois abrigos voluntários em processo de desmobilização estavam acolhendo 69 pessoas. Nesta quarta-feira, em resposta a questionamentos encaminhados pela reportagem, a Fasc atualizou a informação para seis abrigos parceirizados e três abrigos voluntários.

A Fasc não divulga o nome e os locais dos abrigos parceirizados, mas conforme apurado pela reportagem, estes espaços estavam localizados nos seguintes endereços: Abrigo do Centro Assistencial Paz, Rua Tarcila Moraes Dutra, 799; Abrigo do SESI, Rua Paulino Gonçalves Barcelos, 307; Abrigo Solidariedade, no Ginásio do DEMHAB, Conde D’Eu, 66; Abrigo Esperança, Estrada João Antônio Silveira, 2500; Abrigo Brum: Estrada João Antônio Silveira, 5315; e Abrigo Mulheres, Rua Canto e Melo, 269. O Sul21 obteve a informação de que abrigo Brum foi fechado nesta semana, sendo realocado para outro lugar na Restinga. A Fasc não confirma a informação e não esclarece se esta é a diferença entre o número informado na semana passada e atualmente. Também não esclarece se a realocação ocorreu para o Abrigo Esperança, localizado também na Estrada João Antônio Silveira.

Em 23 de julho, a Fasc assinou um termo de colaboração com a Associação Vivendo Atos 29 para a instalação de até sete alojamentos em caráter excepcional para famílias e indivíduos atingidos pela emergência ou calamidade. O contrato, com previsão de vigência de três meses a partir da assinatura — podendo ser prorrogado mediante aditivo por solicitação da organização beneficiada –, tem valor previsto de até R$ 2.918.465,20.

Conforme o contrato, as verbas são repassadas em quatro vezes. A primeira, a título de verba de implantação, corresponde à previsão e repasses de R$ 59.500 por alojamento, até um máximo de R$ 416.500 com a instalação dos sete alojamentos. A partir daí, prevê o pagamento de três parcelas de R$ 119.141,20 por alojamento, totalizando R$ 833.988,40 em caso de implantação dos sete alojamentos.

Em 24 de julho, a Fasc assinou um novo contrato, com o Centro Assistencial Paz (Capaz), para a instalação de até dois alojamentos e valor previsto de até R$ 833.847. Da mesma forma que o contrato anterior, a previsão era do repasse de R$ 59.500 por alojamento a título de verba de implantação e três parcelas de R$ 119.141,20 por alojamento, totalizando um valor máximo de R$ 238.282,40.

Em 29 de julho, foi firmado o terceiro contrato, com a Fundação Solidariedade de Formação e Capacitação de Trabalhadores (Fundsol) para a oferta de um alojamento provisório, com valor previsto de R$ 416.923. Da mesma forma, o pagamento se daria por meio de um repasse de R$ 59.500 e três parcelas de R$ 119.141,20.

Conforme já dito, a Fasc não informa quantos alojamentos teriam sido instalados no âmbito de cada contrato, mas a informação que o Sul21 obteve é de que a OSC Capaz é responsável pelo alojamento da Rua Tarcila Dutra e de que a Fundsol opera o do Ginásio do Demhab, sendo os demais geridos pela Atos 29.

Os três contratos possuem termos idênticos quanto à remuneração, não condicionando o pagamento ao número de pessoas atendidas, apenas à implantação do alojamento. A reportagem questionou a Fasc se os repasses seriam feito integralmente mesmo os alojamentos permanecendo longe de suas capacidades totais, conforme corroborado pela própria Fasc e pelos números do painel de monitoramento. A entidade respondeu, em nota, que “já solicitou a redução de metas e de acordo com os Termos de Parceria, os saldos financeiros de recursos repassados e não utilizados devem ser restituídos à Fundação”. Os três contratos preveem a restituição dos saldos financeiros em caso de não utilização e estabelecem que as OSCs devem utilizar os recurso conforme Planos de Trabalhos aprovados pela Fasc.

Trabalhadores da Fasc ouvidos pela reportagem em condição de anonimato relataram que encontraram situações inadequadas ao visitarem as instalações, como colchões colocados no chão, falta de refeitório, o que obrigava os acolhidos a comerem quentinhas em mesas de plásticos — situação verificada em um dos abrigos — ou de forma improvisada, entre outras condições precárias que contrastariam com as dependências disponíveis no CHA Vida. Além disso, destacaram que os espaços operavam bem abaixo da capacidade, conforme constatado pela visita da reportagem aos abrigos Brum e Esperança.

Os trabalhadores também relataram que uma das justificativas para a instalação dos espaços provisórios para além do CHA Vida era o fato de que, inicialmente, o espaço tinha critérios que não comportavam todos os abrigados, mas que estas condições foram retiradas posteriormente. O encaminhamento para o CHA é de responsabilidade da Prefeitura de Porto Alegre.

Questionada pela reportagem, a Fasc afirmou que as famílias e ou indivíduos que necessitam de acolhimento até recuperar a casa definitiva são encaminhadas para o Centro Humanitário de Acolhimento. As demais, que não se enquadram nos requisitos e aguardam os benefícios emergenciais, permanecem em alojamentos provisórios.

Quando a reportagem visitou o abrigo Brum, instalado ao lado de uma loja de brinquedos de playground — Brinquedos Brum –, 40 pessoas estavam abrigadas, todos homens, sendo 33 da Operação Inverno e apenas 7 desabrigados da enchente. A Operação Inverno, voltada para acolher pessoas em situação de rua, havia encaminhado os acolhidos ao abrigo Brum na semana anterior.

O abrigo é um grande galpão, com uma mesa de refeição no centro. Os acolhidos da enchente estavam localizados de um lado, enquanto os demais posicionado do outro lado do galpão.

Em conversa com a reportagem, acolhidos disseram que estavam sendo bem tratados. Um deles, que se identificou como Jorge Henrique, tinha chegado dois dias antes ao local, levado por um micro-ônibus. Ele é morador de rua no Centro de Porto Alegre. Para além da identificação do comércio vizinho, o alojamento não possui nenhuma identificação externa. A fachada é composta por uma porta de ferro, diante da qual, durante a visita, os abrigados secavam colchões e roupas, a poucos metros da rua.

Na resposta ao Sul21, a Fasc informou que mantém uma estrutura de retaguarda para atendimento à população em situação de rua em dias de frio intenso. “Estão disponíveis para acolhimento albergues, Centros Pops e serviços de acolhimento institucionais”, diz a nota. A Fasc não esclareceu os motivos pelos quais pessoas em situação de rua estavam sendo abrigadas em alojamentos contratados para receber desabrigados das enchentes.

No alojamento Esperança, funcionários da Atos 29 informaram que o local já chegara a acolher 35 desabrigados da enchente, diante de uma capacidade total de 50 pessoas, mas apenas quatro eram acolhidas no momento da visita — dois moradores do Menino Deus, um do Humaitá e um do Farrapos. Apesar do reduzido número de moradores, três policiais militares estavam presentes no local para fazer a segurança, número superior ao de pessoas abrigadas no momento — o espaço permite a entrada e saída durante o dia.

Um dos moradores chegou a ser acolhido no CHA Vida, mas retornou porque não havia se adaptado. Como os acolhidos tinham histórico de situação de rua, a dificuldade de adaptação ao espaço gerido pela OIM estaria relacionado à falta de liberdade para realizarem suas atividades em qualquer horário.

Questionado pela reportagem sobre os motivos para todos os acolhidos em abrigos provisórios não terem sido encaminhados para o CHA Vida, o Gabinete do Vice-Governador do Estado, que é responsável por supervisionar os centros de acolhimento, reforçou que a seleção e o encaminhamento das pessoas é feito pelas prefeituras. Contudo, pontuou que o município de Canoas zerou o número de desabrigados em alojamentos provisórios, dado que consta no painel de monitoramento.

terça-feira, 23 de julho de 2024

Deputados da base governista e de oposição discutem mudanças nas carreiras de servidores; entenda a proposta e as opiniões

Miguel Rossetto (PT) e Frederico Antunes (PP) debateram o pacote do governo do RS que propõe reajustes salariais, contratações temporárias e um novo sistema de promoções para funcionários públicos do Estado

Em entrevista na manhã desta quinta-feira (18) ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, os deputados Miguel Rossetto (PT), líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa, e Frederico Antunes (PP), líder da base governista, falaram sobre o pacote do governo do RS que propõe reformulação de carreiras, reajustes salariais, contratações temporárias e um novo sistema de promoções para servidores públicos do Estado.

A proposta que modifica as carreiras do funcionalismo estadual foi apresentada na terça-feira (16) no Piratini e terá tramitação abreviada na Assembleia Legislativa. O plano do governo Eduardo Leite é protocolar e aprovar os textos em dois dias. Isso é possível em razão de um expediente previsto no regimento da Assembleia

Para o deputado Rossetto, o tempo de apreciação proposto pela gestão estadual é insuficiente.

"Estamos falando de um projeto que envolve mais de 100 mil servidores públicos do Estado. Ontem (quarta-feira, 17), o governo protocolou três projetos. Um dos projetos tem 319 páginas. O segundo tem 54. E a previsão de votação é amanhã (sexta-feira, 19), às 16h. Nós achamos um erro. Do ponto de vista da lei de responsabilidade fiscal, do ponto de vista formal, os enquadramentos permitidos para ampliação de reajustes salariais poderiam tranquilamente ser feitos até 31 de agosto" — explica.

A projeção é de um impacto de R$ 3 bilhões nas contas estaduais até o final de 2026. Por ano, a estimativa é de um custo entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,5 bilhão. Conforme o governo estadual, a agilidade almejada se dá em razão de o Estado ter uma janela reduzida para ampliar os gastos com funcionalismo.

"Nós gostaríamos de ter votado já no ano passado esta adequação para tornar as carreiras dos servidores públicos mais atrativas. Não conseguimos porque, no ano passado, enfrentamos os efeitos de duas leis, a 192 e a 194, que, ao reduzirem as receitas do Estado, nos levaram ao limite prudencial. Desde a catástrofe (climática de maio), estamos perdendo receitas e podemos novamente estar no limite prudencial. Imaginamos que o parlamento tem as condições, mesmo que pressionado pelo número de páginas e pela complexidade dos projetos, de fazer observações" — defende o deputado Antunes.

Na proposição, também está previsto reajuste de 12,49% para agentes da segurança pública, contratação de 2,5 mil servidores temporários para a reconstrução e ampliação das estruturas da Defesa Civil e da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs), responsável por fiscalizar serviços concedidos, como a energia elétrica.

"Se olharmos a trajetória desse mesmo grupo de governo, (José Ivo) Sartori e Leite, a defasagem é brutal. Tivemos uma inflação de 70% nesse período, e apenas 10% de reajuste salarial. Esses caras extinguiram fundações, destruíram a capacidade do Estado de trabalhar. O que estamos discutindo agora, infelizmente, não é uma reforma administrativa. É um ajuste em carreiras e funções. Vamos nos dedicar a melhorar este projeto naquilo que é possível, com emendas, para evitar distorções e desigualdades" — ressalta Rossetto.

Em apresentação do projeto à imprensa, Leite afirmou que o objetivo da reestruturação é padronizar remuneração de cargos semelhantes e aplacar a perda de profissionais para outros entes públicos ou para o setor privado, em razão da defasagem nos vencimentos.

"Estamos começando a tornar as carreiras mais atrativas, algo que elas têm perdido. Estamos fazendo também adequações em algumas carreiras, como, por exemplo, o quadro de engenheiros, que vem apresentando atividades para fazermos e refazermos estruturas e infraestruturas que servem para o desenvolvimento do Estado. Servem para a produção rural, servem para a produção urbana, servem para a geração de emprego e servem para a manutenção de renda. Isso estamos colocando agora para avaliação dos deputados no parlamento" — completa Antunes.

O que está previsto

1) Reestruturação de carreiras

  • Proposta abrange 39.082 servidores, sendo 59% ativos e 41% inativos.
  • Estão incluídos nesse rol: analistas, integrantes do quadro geral, técnicos nível médio, guarda-parques, servidores dos quadros do Planejamento, Saúde, Pesquisa (das antigas fundações FEE e Fepagro), servidores de escola, servidores da procuradoria-geral e servidores de oito autarquias (Daer, Agergs, Irga, Detran, Junta Comercial, IPE Saúde e IPE Prev).
  • Governo pretende melhorar a remuneração dos servidores, alinhando o que é pago em outros Estados e na União.
  • Será adotado o pagamento por subsídio, incorporando atuais salários e gratificações relativas à carreira; nos casos em que a soma do salário e dessas gratificações superar o subsídio, o valor extra formará uma parcela, que será absorvida em futuros reajustes.
  • Gratificações pessoais ficarão fora do subsídio, em uma parcela em separado, que não será incorporada aos reajustes.
  • Avanços na carreira (promoções e progressões) serão atrelados à avaliação de desempenho do servidor.
  • Carreiras serão escalonadas em três níveis (I, II e II) e cinco graus (de A a F).
  • A implantação será escalonada, entre janeiro de 2025 e outubro de 2026.
  • Nenhum servidor terá redução na remuneração.

2) Administração Indireta

  • Reajuste na remuneração de funções de diretoria, chefia e assessoramento, para equalizá-la com os mesmos cargos de secretarias estaduais.
  • Extinção de 290 cargos de autarquias.

3) Ampliação da Agergs

  • Aumento do número de servidores da agência, que regula e fiscaliza serviços concedidos, como a energia elétrica.
  • Projeto estipula ampliação da autonomia administrativa, financeira e funcional da agência, além da expansão da área atuação, incluindo iluminação pública e transporte ferroviário.
  • Agergs terá de apresentar plano de metas e prestação de contas, com relatório anual de atividades e indicadores de desempenho.

4) Ampliação da Defesa Civil

  • Criação de 102 funções gratificadas (FGs) para atuação no órgão.
  • Instituição do Centro Estadual de Gestão Integrada de Riscos e Desastres (Cegird).
  • Texto vai prever elaboração de planos e protocolos de contingência, para testar e coordenar as comunidades frente aos diferentes desastres.

5) Reajuste para segurança pública

  • Concessão de 12% de reposição a servidores da Polícia Civil, Brigada Militar, Corpo de Bombeiros, Instituto-Geral de Perícias e Susepe.
  • Correção será paga em três parcelas, em janeiro de 2025, outubro de 2025  e outubro de 2026.
  • Abrange 69,5 mil vínculos, sendo 51% ativos, 48% inativos e 1% pensionistas.

6) Contratações temporárias

  • Autorização para contratação de 2,5 mil funcionários temporários para  auxiliar na reconstrução.
  • Desse contingente, 30% será contratado em outubro de 2024 e o restante em abril de 2025.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Crime em família - Clã do Bolsonaro







 

O exemplo que vem de longe de mariomarcos.wordpress.com

Esta ação espetacular dos franceses, unindo-se na eleição para barrar os fascistas, me fez lembrar, com tristeza, do momento em que o brasileiro teve a chance de uma escolha assim e preferiu o obscurantismo.

De um lado tínhamos um professor, experiente no mundo acadêmico e na política, educado, civilizado.

De outro um bronco, desqualificado, negacionista, defensor da ditadura, avesso aos livros e à cultura, cujo maior ídolo é aquele que foi o sádico chefe da tortura.

Com opções tão diferentes, a escolha deveria ser óbvia.

Pois o eleitor brasileiro fez a opção que mandou o país para quatro anos de desastre absoluto.

Nestas horas, dá uma inveja danada dos franceses.

A Seleção perdeu suas raízes, de Blog de mariomarcos.wodpress.com

Marcelo Bielsa, um profundo estudioso do futebol, obcecado pela perfeição e tão detalhista que tem mais de 3 mil vídeos de jogos em casa, tocou no ponto. Em entrevista na véspera do jogo em que seu Uruguai eliminou o Brasil na Copa América (foto), Bielsa lembrou os tempos em que o jogador brasileiro passava várias temporadas no clube antes de ser negociado e lamentou que hoje os Endricks, Estêvãos e Vinis tomem o rumo da Europa ainda adolescentes – e se afastem de suas origens.

Como vão cedo para o Exterior, eles completam a formação técnica e profissional longe do país. Com isso, se integram a uma nova escola – e perdem quase sempre o vínculo com suas raízes. Com isso, em muitos momentos, parecem deslocados quando são convocados para a Seleção Brasileira. Vestem a camiseta, ouvem e até cantam o Hino, falam em vitórias, mas são quase sempre jogadores muito distantes do afeto da torcida – que substitui a antiga paixão pela Seleção (houve um tempo em que até os treinos ganhavam narrações como se fossem jogos) pelo afeto aos clubes, até porque eles estão sempre por perto.

A Seleção da Copa América foi exatamente assim. Uma equipe fria, sem o nível técnico que antes diferenciava o futebol nacional, e que já não abala mais a torcida, mesmo em momentos de crise técnica como a atual.

Bielsa ampliou o problema para todo o futebol sul-americano, tão incapaz de resistir ao dinheiro que vem do Exterior como os brasileiros, mas o caso do Brasil parece inigualável. O problema vem de muito tempos, como mostra o recorte da página na ilustração.

Em agosto de 2006, escrevi sobre isso na coluna Bola Dividida, de Zero Hora. Naquele período, o futebol gaúcho vendia dois dos jogadores mais promissores do país, o meia Anderson e o atacante Alexandre Pato. Eram parte de uma nova realidade, o avanço do futebol europeu para conquistar jogadores talentosos ainda em formação.

Na coluna, escrevi:

“(…) Negociados ainda adolescentes, estes jogadores completarão sua formação no futebol europeu, que tem características bem diferentes do brasileiro e deixarão o futebol nacional sem sua verdadeira identidade. Nessa hora, como todos acabam indo para a Europa, a própria Seleção será atingida. Terá de buscar recursos longe das raízes…”

Meu pessimismo confirmou-se rapidamente. Todos apostavam, por exemplo, que Anderson – vital para a volta do Grêmio à Série A – e Alexandre Pato – de carreira fulminante no Inter e campeão mundial no fim daquele ano – seriam os craques da Seleção na Copa seguinte. Ficou na esperança. Tiveram sucesso em seus clubes, mas rapidamente deixaram de ser apostas para a Seleção. E, como eles, dá para lembrar de vários casos de jogadores, de jovens que ficaram longe do que se esperava.

E o que fazer agora, depois de mais de 20 anos de ataques aos berçários dos clubes? Será um trabalho complicado, mas uma saída talvez seja olhar para mais perto. Em vez de convocar jogadores comuns do Exterior porque jogam em clubes do nível de Girona, Fulhan, Aston Villa e assemelhados – sabem como é, nossa mentalidade de colonizados valoriza tudo que vem de fora -, talvez seja melhor em alguns casos apostar nos que estão perto.

Pode não dar certo, mas será preciso tentar. Até porque – é bom lembrar no momento em que o fiasco dos 7 a 1 completa 10 anos – os que vêm de fora têm fracassado como nunca, como confirma a eliminação na Copa América e o atual sexto lugar nas Eliminatórias.

terça-feira, 9 de julho de 2024

PF diz que Bolsonaro mentiu sobre ter guardado joias na fazenda de Nelson Piquet

Itens de luxo, na realidade, foi enviado para os Estados Unidos com o objetivo de leiloá-los

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mentiu sobre ter guardado um dos kits com joias presenteados pelo governo da Arábia Saudita em uma fazenda do ex-piloto de F1 Nelson Piquet. Essa é uma das conclusões do relatório da Polícia Federal (PF) que acabou com o indiciamento de Bolsonaro e outros 11 aliados.

O ex-presidente alegou que o “kit ouro rosê”, composto por uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um masbaha (espécie de rosário árabe) e um relógio, foi encaminhado ao seu acervo presidencial armazenado em uma fazenda de Piquet no Lago Sul, área nobre da capital federal.

Segundo a PF, o objetivo dessa história na realidade foi acobertar o envio dos itens de luxo para os Estados Unidos com o objetivo de leiloá-los. A PF conseguiu comprovar ao longo das apurações que o kit ouro rosé foi levado para a Flórida a bordo do avião presidencial. 

Em depoimento no dia 5 de abril de 2023, em Brasília, Bolsonaro declarou nunca ter ficado em posse das joias e que, ao deixar o Brasil no final de seu mandato para não entregar a faixa presidencial para Lula, não levou os itens em questão para os EUA.