Na tarde deste domingo, pelo menos 21
detentos seguiam custodiados por policiais militares e guardas municipais
diante a ausência de vagas em presídios
José Luís Costa/ZH
Apesar de o prazo de 48 horas determinado pela Justiça para o Estado transferir presos de delegacias
ter vencido no sábado (22), cenas de apenados dentro de viaturas em frente a
repartições da Polícia Civil permaneciam inalteradas neste final de semana. O
último levantamento oficial apontou 119 pessoas — 77 em DPs, 27 em carros e 15
em contêineres.
Neste domingo (23), embora
sem dados exatos, o número já era menor por conta de operação da Secretaria de Administração Penitenciária (Seapen) que
removeu, ao menos, 21 detentos. Durante a tarde, 15 presos aguardavam
transferência para cadeias na 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (2ª
DPPA), na Capital. Na quarta-feira passada (19), eram 20.
Dos 15 presos deste domingo
na 2ª DPPA, seis estavam recolhidos na carceragem e nove diante do Palácio da
Polícia, em viaturas — cinco da Brigada Militar e uma da Guarda Municipal de
Porto Alegre, responsável pela captura de um foragido portando ilegalmente arma
de fogo durante uma blitz, na quarta-feira.
Ao todo, 12 agentes vigiavam
os detentos sobre a calçada da Avenida Ipiranga, transformada em presídio,
bloqueada para circulação de pedestres. Em um carro do 9º Batalhão de Polícia
Militar (1º BPM), um preso, com feridas nas pernas causadas por doença e
impaciente pelos quatro dias naquelas condições, gritou:
"Eu não aguento mais. Socorro! Chamem a polícia".
Apesar da situação, o
inusitado desabafo arrancou risos entre os demais apenados e PMs. Em outra
viatura do 1º BPM, dormia no banco traseiro, com os pés esticados pela janela,
o apenado mais antigo do grupo. Seguia ali havia 10 dias, mesmo ocorrendo remoções
com frequência. Segundo a Seapen, há dificuldade de alojar alguns presos
por causa do perfil e da rivalidade entre facções, sendo necessária
surgir vaga em cadeia onde o apenado não corra risco de ser morto.
A partir do descumprimento da
medida, a Defensoria Pública Estadual, autora da ação, deverá comunicar o fato
à 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado. Por meio da assessoria
de comunicação, a Defensoria informou estar analisando a questão jurídica,
seguindo atenta ao caso.
Procurada pela reportagem, a
Seapen informou "não estar inerte diante do grave problema, trabalhando
intensamente para reverte o cenário". Afirmou que os cem apenados listados
em decisão judicial para serem retirados de delegacias e de viaturas já foram
transferidos — sete deles beneficiados com alvará de soltura.
Destacou, também, entre as
ações emergenciais adotadas, a locação de prédios em Porto Alegre para custódia
temporária de presos e a realização de mutirão para avaliar a situação penal de
detentos com direito ao regime semiaberto que ainda permanecem no fechado —
ocupando espaço daqueles que estão em viaturas. Os presos deixariam as cadeias
e passariam a usar tornozeleiras eletrônicas. Haveria 250 equipamentos
disponíveis.
Conforme a Seapen, serão
adaptados prédios do Estado para acomodar presos provisórios, projeta ampliar e
reformar presídios e construir novos com ajuda financeira do governo federal e
também por meio de permuta de imóveis próprios com a iniciativa privada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário