Os ex-comandantes
confirmaram ter participado da reunião na qual foi discutida uma minuta
golpista. O encontro foi revelado pelo ex-ajudante de ordens da Presidência, o
tenente-coronel Mauro Cid, em seu acordo de delação premiada.
Por Redação - de Brasília
Os ex-comandantes do
Exército Freire Gomes e da Aeronáutica Carlos Baptista Júnior situaram,
frontalmente, o ex-presidente Jair Bolsonaro na trama golpista do 8 de Janeiro,
investigada pela Polícia Federal (PF). Em longos depoimentos, ambos concederam
longos e detalhados pormenores da tentativa frustrada de um golpe de Estado, no
país, e preencheram “lacunas importantes do caso”, segundo envolvidos nas
apurações, que falaram em condição de sigilo à colunista Bela Megale, do diário
conservador carioca ‘O Globo’, nesta segunda-feira.
Os ex-comandantes confirmaram ter participado
da reunião na qual foi discutida uma minuta golpista. O encontro foi revelado
pelo ex-ajudante de ordens da Presidência, o tenente-coronel Mauro Cid, em seu
acordo de delação premiada. A informação de que Freire Gomes confirmou reuniões
sobre um documento com teor golpista foi revelada pelo canal norte-americano de
TV ‘CNN Brasil’.
Em seu depoimento, na sexta-feira, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil, o general respondeu todas as perguntas dos investigadores. Os agentes da PF ainda tinham dúvidas se o ex-comandante seria tratado como investigado ou testemunha. Essa decisão seria tomada de acordo com o grau de colaboração do depoimento. A avaliação foi a de que Freire Gomes decidiu ajudar as investigações e permanece no processo como testemunha.
‘Misericórdia’
Da mesma forma o brigadeiro
Baptista Júnior, que também concedeu um longo depoimento à PF, há poucas
semanas, na qual trouxe informações importantes aos policiais. Já o
ex-comandante de Marinha Almir Garnier, apontado como o único dos três que
teria aceitado aderir ao golpe, permaneceu em silêncio na PF e hoje é um dos
investigados.
Para o colunista Marcelo
Godoy, do diário conservador paulistano ‘O Estado de S. Paulo’ (OESP),
no entanto, o depoimento de Marco Antonio Freire Gomes à PF é visto como o
“tiro de misericórdia” contra Bolsonaro. “Não só pelas informações que revela,
esclarece ou confirma, mas também pelo significado que tem a palavra do
ex-comandante do Exército. Ela traz parte do peso institucional da voz do
Grande Mudo da República. E a expectativa de ser o fim da agonia para a Força
Terrestre”, escreveu Godoy em sua coluna.
Pressionado
“Freire Gomes confirmou não
só a discussão sobre a ‘minuta do golpe’ com Bolsonaro e a participação em
reuniões no Palácio do Planalto, onde a tentativa de subverter a ordem
democrática era planejada. Ele corroborou o depoimento do tenente-coronel Mauro
Cid, chefe da Ajudância de Ordens da Presidência da República, que assinou um
acordo de delação com a Polícia Federal”, acrescentou.
O tenente-coronel Cid sempre
levava as novidades do Planalto até o general, sobre as discussões em curso
sobre a pauta golpista, segundo sua delação à PF. “Às 15h30 do dia 9 de
dezembro de 2022, ele contou que Bolsonaro fora pressionado ‘por vários atores
a tomar uma medida mais radical’: as prisões dos ministros Alexandre de Moraes
e Gilmar Mendes, do STF; além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG)”, detalha Godoy.
Cid garantiu, porém, “que
Bolsonaro permanecia ‘na linha do que fora discutido com os comandantes das
Forças e com o ministro da Defesa (Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira)”,
adicionou o colunista.
Aventura
“Hoje, ele mexeu muito
naquele decreto, né. Ele reduziu bastante. Fez algo mais direto, objetivo e
curto e limitado”, escreveu Cid em uma mensagem a Freire Gomes.
Ouvido como testemunha, o
general não se manteve calado durante as mais de oito horas do depoimento.
Revelou, segundo Godoy, “que não desmontou os acampamentos em frente ao
Exército por causa de Jair Bolsonaro”.
“O general vivia um drama pessoal. Sua mãe, Maria Freire Gomes, estava enferma ao mesmo tempo em que o filho enfrentava outra situação que o deixava atormentado: as pressões do governo para que embarcasse uma aventura. Gomes sabia que a maioria ordeira e silenciosa no Exército era contrária à bagunça institucional, que levaria à divisão da instituição, tão necessária ao golpe”, resumiu.