Saulo Felipe Basso dos Santos comanda entidade que
representa os servidores penitenciários e emitiu nota criticando a escolha do
pastor Lacir Moraes Ramos para secretaria estadual
O Sindicato dos Servidores Penitenciários (Amapergs-Sindicato)
emitiu nota oficial no sábado (9) criticando a nomeação do ex-detento e
pastor evangélico Lacir Moraes Ramos para um cargo no governo do Estado,
na secretaria que cuida do sistema penitenciário. A entidade afirmou que
pediria a exoneração do ex-apenado. Houve repercussão durante todo o final de
semana. Na segunda-feira (11), Lacir, conhecido no passado como Folharada,
esteve no Palácio Piratini e conversou com o secretário do Trabalho, Ronaldo
Nogueira, que o indicou para a vaga. O pastor, que teve condenação de mais de
200 anos e passou quase três décadas em prisões, disse que diante da
repercussão negativa, pediu que seu nome fosse retirado da indicação.
Até o
momento, o governo só se manifestou por nota, reconhecendo o trabalho feito por
Lacir e dizendo que a contratação está sob análise. O presidente do sindicato,
Saulo Felipe Basso dos Santos, falou com GZH nesta terça-feira (12). Ele
afirmou que pedirá que o governo reconsidere a medida. Uma reunião, que já
estava marcada para tratar de assuntos do sistema prisional, deve ocorrer nesta
quarta-feira (13) entre representantes do sindicato e o secretário Mauro
Hauschild, titular da pasta de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo, local
em que Lacir atuará se a nomeação for confirmada. Abaixo, trechos da entrevista
de Santos:
O sindicato reagiu publicamente à nomeação do pastor Lacir Moraes
Ramos. A postura não é contraditória vinda de profissionais que atuam no
tratamento penal, que deve buscar a ressocialização e reintegração social de
criminosos?
Somos 100% favoráveis a ressocialização e reintegração. Mas o
sindicato foi demandado com centenas de mensagens de colegas pasmos, perplexos
e atônitos. Houve desconforto e inquietude. Não somos contrários a que ele
trabalhe. Temos informações do caminho que ele trilha, do bem, que se
converteu, e damos parabéns a isso. Mas esse deputado (atualmente
ele não tem esse cargo) que o indicou pode indicar para outra
área do setor público. No sistema prisional há um rol enorme de informações
sigilosas.
Quem atua na área da segurança recebe senhas com diferentes níveis
de acesso a informações sigilosas.
Não tenho
como mensurar o grau de acesso que ele teria, não sei o que ele faria. Buscamos
informação e não conseguimos. Mas o ato de nomeação fala em chefe de seção, que
é um cargo intermediário. Então pressupomos que ele teria acesso intermediário
e isso é temerário.
Na nota que o sindicato emitiu foi destacado o processo rigoroso
de seleção para a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).
Isso é
importante. O servidor, para entrar, precisa passar por quatro etapas
rigorosas. Provas, bateria de exames. E depois de passar por tudo, ainda tem o
processo de investigação da vida pregressa. Já teve gente reprovada por causa
de briga de trânsito ou de vizinho, situações sérias, claro. Na área da
segurança é assim. Sabemos que o processo de escolha de CC é mais simplificado.
Mas entendemos que ele atuar dentro do sistema prisional é complicado. Pode até
ser que o secretário (Mauro Hauschild) nos
diga (há
uma reunião marcada) quais seriam os acessos dele, mas, até agora,
só sabemos o que diz no ato de nomeação.
Lacir se diz uma pessoa benquista no sistema, reconhecido por
servidores e diretores de prisões.
Ninguém
que nos contatou foi favorável a essa nomeação. Alguns diretores de casas
prisionais, até. Uma coisa é ter ele fazendo o trabalho de evangelização. Outra
é querer ele como colega. Ele cometeu crimes graves, matou policiais, não pode
trabalhar do outro lado da grade (na área que administra as casas
prisionais). Ele pode ir para a Secretaria do Trabalho ou outra.
Não somos contra a pessoa trabalhar. Não existe condão mágico para apagar o
passado da pessoa. No caso dele, o passado é de crimes hediondos. Pode ir
trabalhar em outro local para suprir as necessidades.
Na segunda-feira, o sindicato emitiu nova nota informando que vai
processar Lacir por acusações feitas a servidores. Por quê?
Ele fez
algumas afirmações pesadas. Disse que servidores vendiam novos apenados para
serem mulheres de presos antigos. Se isso for verdade e se confirmar, o
sindicato entende como prática criminosa. Mas ele tem que dizer em que casa
prisional foi, ano, quem eram os servidores. Faremos apuração. Mas não podemos
aceitar que ele denigra toda a categoria. Servidores estão muito incomodados.
Lacir citou que o sindicato não representa a maioria da categoria.
Isso procede?
Ele falou
de forma açodada, por desconhecimento, ou foi de má-fé. Eu sou guarda de fundo
de cadeia, que abre e bate cadeado. Toda diretoria é. Estou há oito anos no sistema.
Vencemos a eleição no ano passado contra quatro chapas com 70% dos votos. A
gestão anterior, sim, não nos representava.
Como o sindicato avalia o fato de a nomeação dele ser defendida
por autoridades do sistema, como juízes?
Por que
não nomearam ele no Tribunal de Justiça? O tribunal tem CCs, por que não
colocam ele lá com os assistentes sociais que trabalham nos presídios? Reforço
que ele deve trabalhar trilhando o caminho do bem. Mas não queremos ele dentro
do sistema.