Em série de entrevistas
com ex-candidatos à Presidência, político faz duras críticas ao titular da
pasta da Justiça e Segurança ao avaliar o primeiro semestre do governo Bolsonaro
Ex-governador do Ceará afirma que será candidato ao Planalto em 2022Isadora Neumann / Agencia RBS |
Qual é a
sua análise dos seis primeiros meses do governo do presidente Bolsonaro?
Seis
meses é pouco para estabelecer sentença definitiva sobre o governo. Tanto mais,
a herança que recebeu é macabra. O desmonte do Brasil começa com Dilma (Rousseff)
e se aprofunda com (Michel) Temer.
Agora, já é possível afirmar que Bolsonaro,
eleito com 57 milhões de
votos, teria força para fazer qualquer coisa. Mas dissipou
isso por despreparo, por lhe faltar projetos e por cair na mão de um governo
heterogêneo. O primeiro grupo fica ao redor do Paulo Guedes e
impõe a Bolsonaro
um diagnóstico estrutural completamente equivocado. O segundo são os militares
que, para minha vergonha e constrangimento, estão violentando questões
nacionais, como a negociata da Embraer,
o acordo entre Mercosul
e União Europeia e o esquartejamento da Petrobras. Não
tenho nada contra privatização, falo de descuido estratégico que vai
comprometer. O terceiro grupo é o da “praça da alegria”, e os mais lesivos
desses doidos são os ministros da Educação
e das Relações Exteriores.
O
Congresso deve aprovar as reformas da Previdência e a tributária?
Vai votar (a da Previdência). Não a
que o governo propôs. Na comissão, a aprovação foi por maioria simples. Daqui
para frente, tudo muda em favor da crítica. A Constituição determina o quórum
qualificado de 308 votos, então é muito provável que outras aberrações da
reforma sejam corrigidas. Acho improvável a tributária.
O governo
apresenta dificuldades, mas o Congresso está funcionando. Quais seriam as
razões?
O poder real não está na Presidência, mas
no setor financeiro. O que o setor quiser, tem mais potencial de passar no
Congresso. Pouco importam as habilidades, grossuras e incapacidades do governo.
Paulo Guedes
é um enclave do setor financeiro nas instituições brasileiras. A reforma
tributária que poderia fazer alguma coisa pelo Brasil aponta para cima, para os
ricos, com tributos sobre heranças mais progressivos e sobre lucros e dividendos.
Aí o baronato não quer, então não vai aprovar.
Na
eleição, não ficou claro que Paulo Guedes representava o pensamento liberal?
Não, ninguém sabe quem é o Guedes. O que
foi eleito foi o antipetismo, mais claro de ser entendido. Essa é a grande
fragilidade do Bolsonaro. Ele está fidelizando um núcleo duro, que são
obscurantistas, xenófobos, misóginos, um movimento internacional que se replica
no Brasil.
O senhor
identifica a polarização política no país?
Ela está aí, fortíssima. Nosso esforço é
trocar o ambiente da discussão. Por exemplo, acharam 39 quilos de
cocaína no avião da FAB. No dia seguinte, o PT e
essa máquina de propaganda responsabilizam o Bolsonaro.
Aí, a turma do presidente passa a dizer que o cara já andava em avião com a Dilma (Rousseff).
Não é essa a questão. Bolsonaro não pode ser imediatamente responsabilizado. Do
outro lado, dizer que o camarada já andava em avião no tempo da Dilma, além de
ser mentira, o que é que tem a ver? A responsabilidade lá na frente é achar um
caminho para um ambiente que quebre esse pêndulo.
O senhor
defende uma frente progressista para o país?
Isso não
é útil para o Brasil, porque tudo o que se falou de frente, da redemocratização
para cá, significa hegemonia de populistas, de personalistas, do PT. Se fosse
ao redor de um projeto, tudo bem, mas qual projeto? Não tem. É um projeto de
poder pelo poder, de concessões das mais variadas por uma pseudoética de que,
pela revolução, pode fazer qualquer merda. Daí, a turma do PT relativiza tudo,
como se Palocci não fosse réu confesso, como se fosse um pecadilho colocar (Michel) Temer
na linha de sucessão ou depois, do impeachment, que chamamos de golpe, se
associar ao presidente do Senado (à época, Renan Calheiros),
que praticou o golpe, nas eleições de 2018. Como se fosse normal colocar como
coordenador da campanha do (Fernando) Haddad
o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrieli. Como assim? Não aprenderam nada?
No
Congresso, fala-se que está difícil de fazer oposição. O senhor concorda?
Nós, do PDT, estamos nadando de braçada,
porque escolhemos o caminho correto. Assumimos que fomos derrotados. Não
quisemos transformar a luta no Congresso em terceiro turno da eleição.
Compreendemos nosso papel, que era atrair Bolsonaro
para o jogo democrático. Ele está cumprindo rigorosamente os prazos de
tramitação pactuados conosco da reforma da Previdência. Por exemplo, caiu a
capitalização, estamos no bastidor disso. Estamos atenuando danos.
O senhor
afirma que será candidato em 2022?
O partido
está dizendo que sim. Topo e vou com entusiasmo, para quebrar ou ser quebrado.
Mas gostaria de ficar quieto.
Como o senhor vê esse movimento em
torno do ministro Sergio Moro?
Você pergunta a qualquer brasileiro: como
um juiz deve se comportar numa partida de futebol? Deve visitar o vestiário de
um time e mandar um jogador se jogar para marcar um pênalti? A resposta é que
destrói o futebol. Mas aí inventaram isso de herói, que não existe. Para mim,
Moro é um politiqueiro de quinta categoria. Sempre foi. Lula
não é inocente. Agora, o processo do triplex, juridicamente, é fraco. Com esse
conjunto de suspeição, o processo é nulo. Não é que Lula fique absolvido. Volta
à estaca zero. A denúncia é fraca e a sentença é pior.
Mas
Sergio Moro é considerado um herói por boa parte da opinião pública.
Moro é um herói com pé de barro, em
processo de desmoronamento. Ele condena um político, depois sai da magistratura
para ser ministro do político que ganhou a eleição, porque o outro não participou.
Isso faz do Brasil uma República de bananas. Sergio Moro é um canalha, não é
nada mais, nada menos do que isso. E um dia as pessoas vão ver.
Quando
acabou a eleição muita gente temia que a democracia estaria em risco. E agora?
Nunca temi. Terrorismo mentiroso do PT.
Risco à democracia zero.
E os
ataques ao Supremo Tribunal Federal?
São
ataques do populacho. O que está errado é o comportamento de certas figuras do
Supremo. O ministro Dias Toffoli,
presidente do Supremo, não pode tomar café da manhã com os poderes políticos e
assinar um pacto, porque esse pacto poderá ser contestado na esfera final do
Estado de direito democrático, que é o Supremo.
O senhor
se arrepende de algo na eleição passada?
Não. Estava numa encruzilhada, já percebia
que o antipetismo era muito forte, mas não tinha percebido que era a força
dominante. Normalmente, as pessoas votam pelo positivo. O cara que esculhamba
não é quem ganha normalmente. Desta vez, o povo votou para negar. Me
surpreendeu. Esse babaca desse (Augusto) Heleno, que pensei que seria uma figura
diferente, é um merda também. Imagina um quilo de cocaína no avião do
presidente e não cai nem o chefe do (Gabinete de Segurança
Institucional) GSI? No meu governo, o ministro estaria
demitido na hora.