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sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Cid confessou à PF ter entregue dinheiro das joias nas mãos de Bolsonaro, diz revista

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O tenente-coronel Mauro Cid afirmou à Polícia Federal que entregou nas mãos do ex-presidente Jair Bolsonaro parte do dinheiro da venda de relógios de luxo recebidos como presentes de Estado, segundo reportagem da revista Veja.

O valor seria de US$ 68 mil, de forma parcelada, com uma parte entregue em solo americano e outra no Brasil.

O dinheiro da venda dos relógios Rolex e Patek Philippe foi depositado na conta do pai de Cid, o general da reserva Mauro Lourena Cid, sacado e enviado para o ex-presidente, de acordo com a reportagem.

"Em mãos. Para ele", disse o militar, ainda segundo a revista. Ele foi ajudante de ordens de Bolsonaro na Presidência.

"A venda pode ter sido imoral? Pode. Mas a gente achava que não era ilegal", afirma Cid em transcrição de relato publicada pela revista.

A confissão teria sido feita durante as mais de nove horas em que o tenente-coronel prestou depoimento sobre o caso aos investigadores. Nas últimas semanas, Cid depôs três vezes à Polícia Federal.

Mauro Cid deixou a cadeia no último sábado (9), após o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), homologar acordo de delação premiada com a Polícia Federal.

Ele, porém, precisa usar tornozeleira eletrônica, não pode manter contato com outros investigados, a não ser familiares, e tem de se apresentar semanalmente à Justiça do Distrito Federal. O militar permaneceu preso por quatro meses em decorrência de suspeita de participação em fraudes em cartão de vacinação contra a Covid.

Ele e Bolsonaro são investigados no chamado inquérito das milícias digitais, que tramita no Supremo. O tenente-coronel e seu pai foram alvos de operação deflagrada em agosto sobre suposta "operação resgate" de joias que tinham sido vendidas no exterior.

Os primeiros depoimentos no contexto da delação, porém, devem se iniciar a partir da próxima semana. O advogado Cezar Bitencourt, que defende o militar, pediu à PF que somente convocasse Cid para novas oitivas a partir da próxima semana, porque precisa atender a outros clientes.

O teor do acordo de colaboração, assim como suas condições e detalhes, permanece sob sigilo.

Na decisão de soltura, Moraes disse que "o encerramento de inúmeras diligências pela PF e a oitiva do investigado, por três vezes e após ser decretada sua incomunicabilidade com os demais investigados, apontam a desnecessidade da manutenção da prisão preventiva".

O magistrado disse, no entanto, que o descumprimento de qualquer uma das medidas alternativas ao cárcere levará à decretação de uma nova prisão.

Em publicação em rede social, o chefe da Procuradoria-Geral da República, Augusto Aras, afirmou no sábado que o órgão não concorda com acordos de colaboração firmados pela PF, como foi o caso do celebrado pelo militar.

À Folha de S.Paulo, no início da semana, Bolsonaro afirmou que Cid "é uma pessoa decente e bom caráter". "Ele não vai inventar nada, até porque o que ele falar, vai ter que comprovar."

"Sempre o tratei como um filho meu. Eu sinto tristeza com o que está acontecendo, né? Eu não queria que ele estivesse nessa situação. Ele é investigado desde 2021. Por fake news? Por causa das minhas lives, em que eu falava de Covid-19? Qual é a tipificação de fake news no Código Penal? Não tem."

TRF-4 anula decisões de Appio e o julga suspeito em ações da Lava Jato

Tribunal entendeu que decisões de juiz federal sobre a Lava Jato eram nulas menos de 12 horas após decisão do STF sobre provas da Odebrecht

Juiz Appio

Menos de um dia após o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), declarar que as provas do acordo de leniência da Odebrecht obtidas no âmbito da Operação Lava Jato eram “imprestáveis, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) anulou todas as decisões do juiz federal Eduardo Appio (na imagem em destaque), da 13ª Vara Federal de Curitiba, relacionadas à operação.

Appio já estava afastado do caso após o ingresso de 28 arguições de suspeição apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF) ao TRF-4, depois de uma representação do desembargador Marcelo Malucelli que relatou “ameaças” sofridas por seu filho que teriam o juiz como fonte.

O entendimento do TFR-4 foi que não haveria como manter o juiz no caso dados os indícios de sua parcialidade.

Embora as suspeições tenham sido apresentadas apenas em parte das ações relacionadas à operação, o relator do processo, desembargador federal Loraci Flores, afirmou entender que elas se estendiam a todos os fatos relacionados à operação.

Cerca de 12 horas antes da decisão do TFR-4, o ministro do STF Dias Toffoli havia decidido a imprestabilidade de todas as provas da Operação Lava Jato que vinham sendo usadas nos processos em tramitação no pais.

Toffoli entendeu que uma decisão anterior, proferida em 2021 pelo ministro Ricardo Lewandowski (que determinou a imprestabilidade das provas obtidas no acordo de leniência da Odebrecht no caso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)), valeriam para todos os casos da Lava Jato.

domingo, 10 de setembro de 2023

Moraes homologa acordo de delação premiada e concede liberdade provisória a Mauro Cid

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro estava preso desde maio; ministro do STF determinou, entre outras medidas, uso de tornozeleira eletrônica e afastamento das funções no Exército

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou neste sábado (9) o acordo de delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. O magistrado também concedeu liberdade provisória ao militar — Cid deixou o Batalhão da Polícia do Exército no início da tarde.

Moraes determinou medidas cautelares como uso de tornozeleira eletrônica, afastamento das funções de Cid no Exército e proibição de contato com outros investigados. 

Mauro Cid estava preso desde maio, quando foi alvo da Operação Venire, que investiga a inserção de dados falsos nos sistemas do SUS para emissão de carteiras de vacinação fraudadas em nome de Bolsonaro e de outras pessoas. Ele também é suspeito de participar da tentativa de trazer de maneira irregular para o Brasil joias — avaliadas em R$ 16,5 milhões — recebidas pelo governo como presente da Arábia Saudita, além de:

·   - tentar vender ilegalmente presentes dados ao governo Bolsonaro por delegações estrangeiras em viagens oficiais

·   - envolvimento nas tratativas sobre possível invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pelo hacker Walter Delgatti Neto, para desacreditar o sistema judiciário brasileiro

·   - envolvimento em tratativas sobre um possível golpe de Estado

De acordo com informações do portal g1, a delação homologada pelo STF refere-se ao inquérito das milícias digitais e a todas as investigações conexas, como a apuração sobre a venda de presentes oficiais.

Colaboração premiada

Cid foi até o Supremo na quarta-feira (6) informar que queria colaborar com as investigações e que a Polícia Federal aceitou sua proposta de delação, mas o avanço das negociações dependia de Moraes. Com a homologação, as informações prestadas pelo ex-ajudante de ordens poderão ser usadas nos diferentes inquéritos que o atingem.

O instituto da colaboração premiada está previsto na lei das organizações criminosas e estabelece que um colaborador deve narrar todos os fatos ilícitos para os quais concorreu e que tenham relação direta com os fatos investigados. A lei também estabelece hipóteses em que o juiz pode reduzir ou até perdoar a pena do colaborador.

As medidas podem ser aplicadas se ele identificar outros participantes da suposta empreitada criminosa ou descrever a estrutura hierárquica do grupo. De outro lado, a análise da concessão de qualquer benefício leva em consideração a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Amanhã será o Dia da Independência

Neste 7 de setembro, Dia da Independência, vamos celebrando nesses 201 anos desde que o Brasil disse “adeus” ao domínio colonial.

Neste ano, porém, o Dia da Independência tem um tom diferente o que: enquanto Bolsonaro utilizou a data para estimular o ódio e inflamar o golpismo, o retorno de Lula à Presidência parece dar à data o respeito que ela merece para todos os brasileiros.

Que seja amanhã será um dia excelente para o país!!!

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Como dois repórteres descobriram o esquema das joias de Jair Bolsonaro

Deflagrada pela Polícia Federal em 11 de agosto, a “Operação Lucas 12:2” ganhou os holofotes da imprensa brasileira ao investigar um suposto esquema de venda ilegal de joias sob comando do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Obtidas por meio de delegações estrangeiras, as peças foram vendidas por auxiliares de Bolsonaro no exterior quando, por lei, deveriam ser incorporadas ao acervo da Presidência da República.

Como descobriram o esquema das joias de Bolsonaro
© Fornecido por Agência Pública

As descobertas do suposto esquema começaram a vir à tona ainda em março, com a publicação de uma série de reportagens investigativas feitas pelos jornalistas Adriana Fernandes e André Borges. A primeira reportagem, publicada no Estadão, relata como o governo Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o país um kit de joias presenteado pela Arábia Saudita.

O Pauta Pública convidou Fernandes e Borges para compartilhar os bastidores desta investigação que culminou na ação da PF no episódio 86, lançado na última sexta-feira (25).

Confira os principais pontos da entrevista e ouça o podcast na íntegra abaixo.

O caso das joias: como tudo começou – com Adriana Fernandes e André Borges

25 de agosto de 2023 · No podcast, jornalistas contam bastidores da investigação que revelou o escândalo das joias

Adriana Fernandes: Essa investigação das joias não foi algo que nos foi entregue, como frequentemente ocorre no jornalismo; foi um trabalho investigativo. Recebemos uma informação inicial do que teria acontecido, então sabíamos que havia uma história muito difícil de comprovar sobre joias da Arábia Saudita retidas no aeroporto de Guarulhos e de valores milionários, destinadas à então primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Nós tínhamos que provar o elo entre algumas joias que seriam leiloadas. Tínhamos pouco tempo, porque elas poderiam ir a leilão a qualquer momento, já que haviam sido apreendidas em 2021. E foi esse o nosso trabalho inicial, montar esse quebra-cabeça e fazer essas conexões. No primeiro momento foi difícil de acreditar, então tivemos que fazer uma aposta nessa ‘’história das Arábias’’, que se desenrolou quase como um roteiro de filme. Os eventos recentes provaram que estávamos no caminho certo, e as investigações que seguiram nossa reportagem comprovam o que aconteceu.

André Borges: A Adriana toca num ponto que é muito importante desse bastidor jornalístico: essa história tinha algo de muito fantástico nela, a ponto de duvidarmos de algumas coisas no começo. Não a ponto de largar a apuração, mas falar “será que isso aconteceu mesmo? não é possível.” Conversamos com as pessoas e detalhamos isso, até que depois de cerca de dois meses e de tentativas por meio da Lei de Acesso, de obtenção de informações direta com fontes, a gente viu que as coisas se confirmaram. E para ser super honesto, elas eram até mais complexas.

AF: Complementando a fala do André, nós não conseguimos nenhuma informação com a Lei de Acesso à Informação. A LAI, que é tão falada sobre transparência, não nos garantiu, nem no governo Bolsonaro, nem no governo Lula, as informações que já estavam em andamento dentro do governo. 

AB: Foi um processo de persistência, de cuidado, inclusive, enquanto se apurava, para poder manter o controle da informação até onde fosse possível.

Clarissa Levy: Neste momento em que vocês trabalhavam, como foi a ligação para o então Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque? Porque vocês precisavam falar com ele. Poderiam contar um pouco sobre isso?

AF: Havia grande preocupação de que levássemos um “furo” da nossa própria matéria porque, devido às movimentações que fizemos para chegar lá, informações começaram a se espalhar, mesmo agindo de forma discreta. A matéria ainda estava em edição quando ligamos para o Ministro Bento. Ele ficou tão surpreso que confirmou, e nós estávamos gravando. Inclusive, ele confirmou que havia passado com o segundo kit de maneira ilegal. Ele não percebeu que havia confirmado e disse: “Eu passei com o outro, né? Não sabia o que tinha”. Poucos minutos depois (não me recordo do tempo exato), ele estava na televisão, negando o que tinha nos dito naquele dia, tentando se retratar. Mas nós havíamos gravado, então disponibilizamos o áudio no portal.

AB: Nós queríamos que ele comentasse os fatos. Assim, ligamos, ele atendeu, e esse áudio é uma declaração de culpa do ex-ministro. Ele menciona que saiu, voltou para pegar o pacote e, naquele momento, só tratávamos do que estava apreendido: os diamantes. No entanto, ele revela, nessa ligação, no dia 3 de março, que havia saído com outro pacote, que mais tarde identificou-se como sendo um kit de relógios, canetas, abotoaduras, todos em ouro e incrustados com pedras de diamante.

Então, foi um desdobramento da investigação. A partir daí, ele tentou recuar, rever sua posição, falando com outros veículos de comunicação. Mas o áudio da entrevista já estava no ar, que também seria confirmado com a imagem do vídeo onde ele volta e fala que as joias eram pra Dona Michelle.

AF: Mas o vídeo surgiu algum tempo depois. Por isso, tivemos que sustentar essas informações com outras que conseguimos. Há uma reportagem, que considero muito relevante, publicada no portal no sábado e no impresso no domingo, em que detalhamos toda a situação.

Clarissa Levy: Como vocês têm acompanhado esses desdobramentos? Vocês publicaram no início de março, e já ocorreu muito desde então. Como vocês veem essa situação e o que acreditam que ainda pode acontecer?

AF: Acredito que toda essa trama será esclarecida. Há personagens que permanecem em silêncio, como o próprio Bento Albuquerque, que é muito relevante na história. Em uma reportagem nossa de abril, já mencionávamos a importância de Mauro Cid esclarecer os acontecimentos, mas ele ainda se mantém em silêncio. Tem aquela máxima, tem que correr atrás do dinheiro, do caminho do dinheiro.

AB: Ainda há muitos aspectos a serem esclarecidos e pessoas a serem ouvidas, além das que Adriana mencionou. Revelamos, por exemplo, que muitos itens estavam armazenados na propriedade do ex-piloto Nelson Piquet, em Brasília. Ele, que é próximo do Bolsonaro, ainda não foi chamado para prestar esclarecimentos. Além disso, há outros militares envolvidos; muito se fala sobre o tenente Mauro Cid, mas existem pelo menos outros sete militares diretamente ligados às transações das joias. Agora a gente vê o episódio que envolve os advogados do clã Bolsonaro, que estão sendo chamados também para prestar depoimento e falar sobre o plano de recompra dessas joias, sustentando que tudo era legal. Se eram legais, por que foram levadas escondidas para o exterior? Por que as autoridades brasileiras não foram informadas? Por que foram vendidas e por que tentaram recuperá-las sorrateiramente depois do escândalo todo vir à tona?

Então tem muita coisa para ser explicada, como entender de fato essa benevolência toda de joias do povo árabe com o governo brasileiro, com o governo Bolsonaro. Tem muita coisa por trás disso certamente. São linhas que a imprensa está buscando avançar, a Polícia Federal está trazendo muito desdobramento e, com essas quebras de sigilo, certamente não só no Brasil, como lá fora também, com a colaboração do FBI, vai trazer muita informação nova.

Particularmente, confesso que esse desdobramento me surpreendeu, imaginávamos que eram joias para enriquecimento próprio. Quando vimos isso tudo, a maneira como fizeram, como se articularam, a corrida que fizeram depois dos três pacotes para tentar recuperar… Tem uma coisa engraçada: naquela época a gente procurava o pessoal do governo Bolsonaro para se manifestar sobre o que estávamos divulgando. Enquanto isso, eles estavam correndo e se articulando para recuperar os kits, estavam preocupados de esses itens serem pedidos pela justiça ou pelo Tribunal de Contas da União, que foi o que aconteceu. A quebra de sigilo de Mauro Cid revelou, por meio de mensagens, uma grande operação envolvendo diversas pessoas para recuperar as joias.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Neonazistas se unem a bolsonaristas, no golpe frustrado em dia 8 de janeiro

Segundo o informe da Abin, cinco comunidades do aplicativo de mensagens Telegram reuniram, no total, 2,8 mil integrantes dispostos a integrar o movimento golpista. A ideia dos grupos era estimular “narrativas de deslegitimação” das instituições, de acordo com o levantamento.

Os neonazistas brasileiros apresentam sem pudor
© Fornecido por Correio do Brasil

Supremacistas brancos ligados a grupos neonazistas, munidos da bandeira que simboliza a ideologia de ultradireita associaram-se aos movimentos golpistas que eclodiram no país, após o resultado das eleições de 2022. A informação consta de relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) vazado nesta quarta-feira para a mídia conservadora.

Segundo o informe da Abin, cinco comunidades do aplicativo de mensagens Telegram reuniram, no total, 2,8 mil integrantes dispostos a integrar o movimento golpista. A ideia dos grupos era estimular “narrativas de deslegitimação” das instituições, de acordo com o levantamento.

O relatório da Abin foi elaborado entre 25 de novembro e 1º de dezembro de 2022. O período, vale destacar, foi marcado pelo crescimento da tensão social no país, com diversos casos de manifestantes bolsonaristas fechando estradas e ocupando QGs do Exército, na exigência de uma atuação contra o resultado legítimo que deu a vitória a Lula (PT) contra Jair Bolsonaro (PL).

Eleições

Até o início do ano passado, as células neonazistas experimentaram um expressivo crescimento no país. Estimuladas pelo discurso de ódio disseminado pelo ex-mandatário neofascista Jair Bolsonaro (PL), em razão da ascensão da extrema-direita, esses grupos cresceram mais de 270%, desde 2019, segundo um estudo elaborado pela antropóloga Adriana Dias, ex-professora da Unicamp.

Após as eleições de 2022, houve, segundo a Abin, um aumento do engajamento dos grupos.

Até o pleito eleitoral de 2022, não se identificava histórico de envolvimento sistemático de grupos supremacistas e neonazistas com pautas políticas e manifestações. Apesar disso, em monitoramento de grupos virtuais utilizados para disseminação de conteúdo supremacista na conjuntura eleitoral, observou-se aumento da interação e da visualização”, aponta o relatório.

Cid confessa

Entre os eixos de atuação dos grupos neonazistas após as eleições, segundo a Abin, estão o levantamento de suspeitas sem provas de fraude nas urnas, apoio aos bloqueios em estradas e a disseminação de panfletos fazendo referência à “luta contra comunistas”.

Em linha com o que o setor de inteligência do governo apurou, os depoimentos que o tenente-coronel Mauro Cid prestou à Polícia Federal  (PF), nos últimos dias, corroboram com as informações colhidas. Ao mesmo tempo, acenderam a luz de alerta entre militares de alto escalão que integraram o governo anterior para o risco de ver integrantes do oficialato brasileiro imiscuído com a ideologia nazista.

Cid, segundo apurou a mídia conservadora, tem colaborado com a PF, fornecendo detalhes cruciais sobre reuniões e conversas que faziam parte de um plano para efetivar o golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder, mesmo após a derrota nas urnas para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nas eleições presidenciais do ano passado. Os depoimentos também abrangem outros temas, incluindo o escândalo das joias sauditas que o ex-mandatário tentou se apropriar.

Generais

Com base no depoimento de pessoas próximas a Cid, até agora ele não apontou nomes, especificamente, mas começa a detalhar os participantes das tratativas, incluindo militares, ex-ministros e funcionários do governo Bolsonaro.

O próximo passo, segundo as apurações, será detalhar quem são os militares e outros ex-ministros e funcionários do governo Bolsonaro que participaram das tratativas que se deram, entre outras localidades, no Palácio da Alvorada em dezembro passado. Entre os nomes listados por Cid estariam os dos generais Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional - GSI) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e da Defesa).

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Depois de 28 anos de serviços, Brigada Militar se despede do Presídio Central

Troca da guarda é um dos atos previstos para a desativação das antigas galerias e a transferência dos apenados remanescentes para a penitenciária que está sendo construída em Charqueadas e para outras unidades prisionais do Estado

Em solenidade que ocorre nesta quinta-feira (31), a partir das 9h30min, o governo do Estado anunciará oficialmente a troca do comando do Presídio Central. A mudança ocorre 28 anos após a Brigada Militar ter sido chamada a assumir a guarda e a disciplina da agora chamada Cadeia Pública de Porto Alegre. A partir de sexta-feira, 1º de setembro, a atribuição passa a ser exclusividade da Polícia Penal da Susepe, que já tem agentes trabalhando na unidade.

A troca da guarda no Central é um dos atos previstos para a desativação das antigas galerias e a transferência dos apenados remanescentes para a penitenciária que está sendo construída em Charqueadas e para outras unidades prisionais do Estado.

A cadeia foi considerada uma das mais desafiadoras do país, para trabalhadores e presos, sendo eventualmente implicada em denúncias de superlotação e violações aos direitos humanos. Mais de 4 mil apenados coabitaram o lugar.

O Central tornou-se, em 2014, alvo de representação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que denunciou a República Federativa do Brasil pelas condições degradantes da cadeia e sua incapacidade de ressocializar criminosos sentenciados.

No seu lugar, uma nova unidade prisional está sendo construída e deve ser inaugurada em janeiro de 2024. O projeto é de uma penitenciária mais segura para os servidores públicos e apenados e, ainda, mais resistente contra a ação do tempo e atos de depredação, uma vez que as estruturas estão sendo erguidas com grandes blocos de concreto.

Enquanto os trabalhos ocorrem, duas galerias daquele que já foi considerado o pior presídio do país seguem de pé. Uma delas ainda abriga quase 800 presos, e a outra está vazia. No espaço, é possível ver o novo presídio surgindo, com as escavadeiras em movimento e as celas em fileiras. Autoridades estaduais estudam preservar parte das antigas instalações como componente da memória e da história do local.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

TRE-RS confirma cassação de vereador de Porto Alegre

O Tribunal Regional Eleitoral do RS confirmou, na terça-feira (15), a cassação do vereador de Porto Alegre Alexandre Bobadra (PL). Por maioria, a Corte cassou o diploma de Bobadra e declarou nulos os votos dados a ele.

g1 entrou em contato com o vereador, mas não havia obtido retorno até a última atualização desta reportagem.

A Câmara de Vereadores de Porto Alegre informou, ainda na terça, que não havia sido notificada da decisão, e que assim que isso ocorrer, "atuará para cumpri-la como a lei determina".

Segundo o TRE, o afastamento é imediato e ainda cabe recurso ao Tribunal Superior Eleitoral. Em junho de 2022, a cassação havia sido determinada em primeira instância. O vereador recorreu.

Dia do Patriota: Porto Alegre virou motivo de chacota nacional

Urge que a sociedade passe a prestar mais atenção ao que discutem seus vereadores

de Rodrigo Lopes

Prefeito de Porto Alegre
De autoria do vereador cassado Alexandre Bobadra (PL), o projeto da Câmara de Vereadores de Porto Alegre que instituiu o 8 de janeiro como Dia do Patriota passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que não viu problemas jurídicos na peça. Foi para a Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude (CECE), onde avançou com três votos, de PL, PSDB e PTB. O PT e o PC do B não votaram. Seguiu para a terceira comissão - Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (CEDECONDH), onde houve empate, dois a dois. 

O texto foi redigido e, seguiu, então, para a sanção do prefeito Sebastião Melo, que teve 15 dias úteis para se manifestar. Não o fez. O documento voltou para Câmara e, após quatro meses de tramitação, sem alarde, foi promulgado.

E, assim, Porto Alegre vira motivo de chacota nacional, de vergonha. 

Estamos homenageando um dia que entrou para a história da infâmia no Brasil. No 8 de janeiro não foi apenas o governo Lula atacado. A agressão na Praça dos Três Poderes, em Brasília, foi às instituições brasileiras, aos prédios mais importantes da República - além do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Foi um ataque criticado pela direita e pela esquerda, e só elogiado por extremistas. 

Se alguém quisesse criar o Dia do Patriota, ok, que se fizesse, uma vez que se julgue necessário. Mas fazê-lo no 8 de janeiro é uma provocação, uma afronta ao Estado de Direito. Será que ninguém na Câmara percebeu isso? Onde estavam os vereadores de Porto Alegre, que bradam a defesa da democracia? Onde estava o prefeito Melo quando o texto ficou sobre sua mesa por 15 dias úteis?

Há um alerta aí: a sociedade precisa ficar mais atenta ao que ocorre nos legislativos municipais - e aqui cabe o mea-culpa da imprensa, a quem cabe fiscalizar. Quantos projetos inúteis surgem na Câmara diariamente? Quantos seguem pelos trâmites burocráticos do Legislativo sem nenhum questionamento, muitos dos quais servem apenas para regozijo de seus autores e agrado aos amigos?

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Uma vida na bolha

 Por Mário Marcos

www.mariomarcos.wordpress.com

Poupem seus neurônios. Neymar, do centro de sua bolha bilionária, não vai dar a mínima para quem o critica por trabalhar e se tornar garoto propaganda de um regime ditatorial, cruel com as mulheres, opressor, liderado por um herdeiro que mandou seus capangas esquartejarem um jornalista crítico da Arábia Saudita.

Neymar nunca teve constrangimento de se declarar amigo do presidente mais desqualificado que o Brasil já teve, defensor da ditadura, admirador do torturador mais sádico do regime, negacionista, capaz de defender medicamentos inúteis e boicotar a vacinação, mentiroso como poucos e, agora se sabe, também envolvido em venda de jóias que pertenciam ao país.

Por que, então, ficaria preocupado em ser um aliado comprado com muitos milhões pela Arábia Saudita?

Neymar só enxerga as paredes de sua própria bolha.

domingo, 20 de agosto de 2023

Filme da Barbie

O tão aguardado live-action da Barbie, dirigido por Greta Gerwig (Lady Bird) finalmente chega aos cinemas depois de se tornar um fenômeno cultural antes mesmo de sua estreia. E a espera valeu a pena. Com quase duas horas de duração, a obra mostra logo de cara por que vale o preço dos bilhetes. Primeiro, o que mais chama a atenção são os cenários e figurinos, já que eles foram explorados ao máximo nos trailers e nas peças publicitárias.

Como já era de se esperar, somos bombardeados pela cor rosa. O tom pink está presente na casa, no carro, nas ruas, nos móveis, nos postes, no chuveiro e em tudo mais que é possível e, como não poderia deixar de ser, a Barbie Típica (Margot Robbie) também desfila os figurinos mais marcantes da boneca. Esse cuidado com a produção e o cenário mostra o quanto Gerwig caprichou, não deixando o filme ficar com cara de produção barata.

Aliás, barato é o que o longa não foi, mas certamente fez valer cada centavo dos US$ 145 milhões investidos — isso sem falar do caminhão de dinheiro dedicado ao marketing. Tudo parece muito bem encaixado e a grande sacada foi não transformar os brinquedos em algo tão real assim. Do chuveiro não sai água ao carro não tem motor, tudo remete às brincadeiras de boneca que a gente fazia quando criança. A Barbielândia é essa reprodução da infância e isso salta aos olhos e é somente quando Barbie vai parar no Mundo Real é que as coisas começam a mudar.

Por falar nisso, essa transição se dá quando a boneca de plástico começa a ter pensamentos de morte. Isso faz com que sua realidade perfeita se altere e ela tenha que lidar com problemas humanos, como celulite nas pernas e pés retos ao invés daqueles arqueados.

Desesperada para entender o que está acontecendo e mudar essa situação, ela procura a Barbie Estranha/Ginasta (Kate McKinnon), uma versão rabiscada e flexível que funciona como espécie de guru da Barbielândia. Após consultar seus livros, a tal Estranha orienta a loirinha a encarar uma viagem para o mundo dos humanos a fim de encontrar a menina que está brincando com ela e fechar o portal que foi aberto entre as duas realidades.

Quem também embarca nessa aventura é Ken (Ryan Gosling), um boneco um tanto quanto carente que tenta encontrar seu lugar na Terra. Ao chegar no mundo dos seres humanos, no entanto, os dois se deparam com muito mais problemas e questões sociais do que poderiam imaginar existir em seu mundinho cor de rosa.

Críticas sociais marcam o tom do filme

Desde o início do filme, Barbie provoca no público reflexões sobre as questões sociais abordadas, mas é justamente quando os dois bonecos vão parar no Mundo Real que as críticas ficam ainda mais fortes. Encantado com o patriarcado, Ken se deslumbra ao perceber que quem manda aqui são os homens, não importa o que eles façam. Mesmo sendo menos qualificado, menos inteligente ou menos educado que uma mulher, um homem tem mais chance de conseguir tudo na vida.

Sendo assim, Ken logo se adapta a essa realidade e consegue, em pouco tempo, destilar todo tipo de machismo possível. Um bom momento do longa acontece quando ele pergunta se pode falar com o médico responsável, sendo que a médica (uma mulher) está bem na sua frente.

Para Barbie, no entanto, esse choque não é nada agradável e ela fica totalmente perdida com a nova realidade, já que vivia em um local dominado pelas mulheres. E não demora muito para que a boneca sofra assédio nas mãos de um homem qualquer, provando que nem corpos plásticos estão livres do abuso físico.

Outra crítica importante é justamente sobre esse padrão de beleza inatingível, que foi por muitos anos estimulado pela própria Mattel, empresa fabricante da boneca. Quando cruza com uma idosa, Barbie passa um tempo observando suas rugas e marcas de expressão — algo que ela nunca tinha visto, já que não existe uma Barbie senhora. É então que ela solta; “você é linda”, no que a mulher responde: “eu sei”. Essa quebra de expectativa arranca risadas no público, mas também faz pensar o que a sociedade entende como beleza.

O que fica claro, então, é que Greta Gerwig soube escolher bem o que criticar, mas também acertou em como fazê-lo. A diretora dissolveu as alfinetadas durante o filme para que ele não ficasse cansativo, mas ainda assim tivesse um forte caráter questionador.

Até críticas de cor e raça entraram na trama, quando a humana Gloria, vivida pela descendente de hondurenhos America Ferrera, passa horas explicando uma determinada solução e Barbie depois a resume, num claro exemplo do branco salvador.

A Mattel também entrou no jogo e, embora seja a patrocinadora do filme, também se deixou ser criticada, já que aparece como uma empresa que pensa bonecas para os desejos femininos, mas cuja alta cúpula é formada única e exclusivamente por homens.

Barbies e Kens agradam, mas Glória rouba a cena

Falando agora um pouco em personagens, como já era esperado, tanto Margot Robbie quanto Ryan Gosling agradam como Barbie e Ken. Apesar de interpretar apenas "mais um Ken", Gosling entrega tanto carisma e humor que acaba se sobressaindo e dando ao público o melhor da Ken-energia. Sua experiência em musicais, vide La La Land, também contribuiu para que ele tivesse as melhores performances nas cenas em que canta e dança.

Simu Liu (Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis) é outro Ken que não faz feio, assim como Ncuti Gatwa (astro de Sex Education Doctor Who), embora este tenha menos destaque do que merecido.

Já na parte das Barbies, com carisma, talento e dedicação, Robbie mostra por que é a melhor boneca que o filme poderia ganhar e nos faz até esquecer que esse papel um dia foi pensado para Amy Schumer. A loirinha consegue, ao mesmo tempo, se mostrar rígida como uma boneca e flexível como um ser humano, chamando atenção especialmente nas cenas mais emotivas.

Issa Rae (Insecure) e Emma Mackey (Sex Education) também agradam, mas aparecem pouco, assim como Dua Lipa e sua Barbie Sereia, cuja participação seresume a dar apenas um tchauzinho para a câmera. Quem rouba a cena mesmo é Gloria, vivida por Ferrera. A atriz já tinha mostrado seu talento na famosa série Betty, A Feia, e aqui não deixa a desejar.

Ela vive uma humana que trabalha na Mattel e ajuda Barbie a voltar para a Barbielândia. Ao lado da atriz juvenil Ariana Greenblatt (Amor e Monstros), que vive sua filha Sasha, ela se torna uma das coadjuvantes mais importantes do longa e não deixa a peteca cair mesmo quando tem que entregar falas complexas em meio a um universo cômico.

Bobo, engraçado e profundo

Voltando ao texto, Barbie tem, sim, muitas críticas importantes, mas não deixa de ser bobo na medida certa e engraçado ao ponto de arrancar gostosas risadas. O enredo escrito pela própria Greta Gerwig em parceria com seu marido Noah Baumbach (História de Um Casamento) soube dosar comédia e drama para conquistar os espectadores, quebrando o estigma de que histórias da boneca serviriam apenas para crianças. Na verdade, até faz sentido a trama não ser destinada aos pequenos.

Outros grandes acertos da dupla, no entanto, foram não ter esquecido a origem de tudo e ter colocado boas cenas com Rhea Perlman como Ruth Handler, a criadora da boneca, e escolhido a vencedora do Oscar Helen Mirren como narradora, uma "personagem" carismática que quebra a quarta parede e conversa com o público em alguns momentos e só reforça a proximidade do público com esse mundo cor de rosa.

Por fim, o que não faltam são elogios para provar que Barbie é sim um forte candidato a filme do ano e até mesmo ao Oscar de 2024. Embora tenha algumas falhas, como os números musicais mais extensos do que deveriam ser e alguns bons coadjuvantes deixados muito de lado, o filme consegue conquistar pelo texto bem escrito e pela execução primorosa. Valeu a pena ter esgotado quase toda a tinta rosa do mundo e também vale a pena gastar alguns trocados no ingresso do cinema.