Presentes milionários não são usuais nas relações diplomáticas
De Rosane de Oliveira
A cada nova revelação sobre o caso dos diamantes da Arábia Saudita mais
se complica a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro e
do seu ex-ministro das Minas e Energia Bento Albuquerque. Como efeito dominó,
uma pedra vai derrubando a outra e a mentira, que tem pernas curtas, aparece
antes mesmo da conclusão dos inquéritos abertos. A pergunta que se sobrepõe a
todas as outras neste momento é: por que o governo da Arábia Saudita ofereceu
presentes tão valiosos ao ex-presidente e à primeira-dama Michelle Bolsonaro?
Os presentes
que os chefes de Estado e de governo trocam nas visitas oficiais são, em geral,
de valor simbólico. Livros, quadros, esculturas feitas em série, vasos, potes,
facas, copos... Mesmo quando são oferecidas pedras (e as de Soledade e Ametista
do Sul já foram bastante ofertadas por governantes brasileiros), não chegam a
um dos pingentes de um colar da grife suíça Chopard, uma das mais valiosas do
mundo.
É Chopard o conjunto retido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos que
o então presidente Bolsonaro usou mundos e fundos para tentar liberar antes de
deixar o governo. Na tentativa derradeira, mandou um avião da FAB a São Paulo
para resgatar os diamantes avaliados em R$ 16,5 milhões. Repita-se: não se
tratou de uma troca protocolar de presentes, mas de um mimo enviado pelos
sauditas em uma visita do ministro de Minas e Energia. A troco de quê? Isso os
inquéritos terão de responder.
Na verdade foram dois mimos. A caixa masculina chegou ao seu
destinatário, Jair Messias Bolsonaro, devidamente protocolada, mais de um ano
depois de ter entrado no Brasil sem despertar a desconfiança dos agentes da
Receita Federal. Veio na bagagem do ministro, não foi declarada e permaneceu
num cofre até ser entregue ao presidente da República no apagar das luzes do
governo.
Bolsonaro, que
na primeira reação disse que estava sendo crucificado pro um presente que não
pediu nem recebeu, terá de reavivar a memória. Porque há um documento mostrando que
recebeu a caixa com um relógio, um masbaha (espécie de rosário árabe) uma
caneta e um par de abotoaduras da marca suíça Chopard. Quanto valem? Não se
sabe. Onde estão? De acordo com seu ex-braço direito, o tenente-coronel Mauro
Cid, foram incorporados ao acervo pessoal de Bolsonaro “para não deixar nada
para Lula” e levados para um depósito junto com outras caixas da mudança.
Os adereços
femininos, que a olhos desacostumados com joias verdadeiras passariam por
bijuterias de Carnaval, valem uma Mega Sena acumulada por três sorteios. Dariam
um belo apartamento na Vieira Souto ou na Delfim Moreira (onde estão os metros
quadrados mais caros do Rio de Janeiro). Pagariam centenas de casas populares.
Ou milhares de cestas básicas.